Serenidade de Dilma desmascara histeria do Jornal Nacional

Antes de produzir este texto para falar do tribunal de inquisição montado pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, nesta segunda-feira (18) em Brasília, durante entrevista com a presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição, revimos as entrevistas com os candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Não que já não tivéssemos percebido a diferença grosseira com as entrevistas anteriores, mas para apontar de forma quantitativa essa diferença. 

Dayane Santos, da Redação do Vermelho

Dilma Jornal nacional

Na entrevista do tucano Aécio Neves foram feitas apenas quatro interrupções. O tucano respondeu a maior parte das perguntas sem que Willian Bonner ou Patrícia Poeta fizessem qualquer indagação ou questionamento no meio do seu raciocínio. Na entrevista com Eduardo Campos foram sete interrupções, principalmente quando o assunto foi a aliança com a ex-senadora Marina Silva.

Já na entrevista com Dilma foram pelo menos 25 interrupções, sendo que cinco foram feitas em uma única tentativa de resposta no início da entrevista.

Desde a primeira entrevista, o tom das perguntas já revelava como seriam os questionamentos à candidata Dilma, mas a bancada do Jornal Nacional – com caretas, dedo em riste e outras tantas demonstrações de grosserias e desrespeito – não conseguiu manter a máscara de jornalismo imparcial que tanto papagueiam.

Jornalismo de fachada

As perguntas longas de Bonner, vistas também nas entrevistas anteriores, pareciam desta vez mais discursos do que perguntas. Como a presidente não respondia como ele queria, interrompia de modo grosseiro e com insinuações.

Bonner não conseguiu esconder seu inconformismo.

O papel do jornalista é questionar, indagar, pressionar. Mas é preciso, principalmente numa entrevista, deixar o entrevistado falar. A partir das suas declarações fazer os apontamentos necessários e os questionamentos que assim julgar pertinentes. Não foi o que vimos na entrevista com Dilma, que parecia mais um tribunal de exceção do que um programa jornalístico.

A serenidade, a firmeza e a tranquilidade da presidenta Dilma, mesmo diante de tal histeria, incomodaram os apresentadores do JN, principalmente Bonner, que fez a maior parte das interrupções. O inconformismo era evidente porque Dilma não respondia o que eles queriam ouvir e sim apontava ponto a ponto as conquistas e avanços do seu governo e de Lula.

Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, definiu bem o comportamento da presidenta. “Se Dilma não cedeu nem à tortura física da ditadura, não seriam um mauricinho e uma patricinha de quinta que iriam dobrá-la”, afirmou Guimarães, que apontou que os apresentadores gastaram um terço dos 15 minutos que durou a entrevista, sem contar com o tempo das interrupções.

Combate à corrupção

A primeira “pergunta”, se é que podemos chamar assim, tratou sobre corrupção citando ministérios e até o caso recente da Petrobras em que Bonner, num tom arrogante, questiona qual é a dificuldade da presidente de se cercar de pessoas honestas. Dilma não se intimidou. “Fomos o governo que mais estruturou o combate à corrupção e aos malfeitos. Nenhum procurador-geral da República foi chamado no meu governo de ‘engavetador’ geral da República”, acrescentou, numa indireta referência a Geraldo Brindeiro, do governo tucano de FHC.

Dilma apontou as conquistas de seu governo

Bonner, inconformado, insistiu no tema tentando induzir a presidenta falar sobre o caso da Ação Penal 470. Dilma advertiu Bonner enfatizando que apesar ser candidata à reeleição ainda era a presidenta. “Enquanto eu for presidenta da República, não externarei opinião pessoal sobre decisões do Supremo Tribunal Federal. Eu tenho a minha opinião, mas não vou externá-la”, disse.

Bonner não se conteve. “Mas o que a senhora diz sobre a postura do seu partido? A senhora não diz nada?” E Dilma, novamente firme, respondeu: “Olha, Bonner, eu não vou entrar nisso de me manifestar contra a decisão de um poder constitucional. Isso é muito delicado, merece o meu maior respeito”.

Saúde e Mais Médicos

Diante do descontrole de Bonner, Patrícia, que até então estava calada, resolveu intervir e mudar de assunto dizendo que na área da saúde “nada foi feito” nos governo Dilma e Lula. Dilma, mais uma vez, respondeu educadamente e apontou as medidas do governo na área. “Olha, Patrícia, nós tivemos, e ainda temos muitos problemas a enfrentar e desafios a enfrentar na saúde. Eu acredito que nós enfrentamos um dos mais graves que há na saúde. Porque na saúde você precisa de ter médicos. Pode ter tudo, se não tiver médicos, não tem atendimento à saúde. Nós tivemos uma atitude muito corajosa. O Brasil tem uma das menores taxas de médicos por mil habitantes, 1,8. E isso levou a uma carência imensa de médicos da atenção básica – são os postos de saúde. (…) chamamos médicos cubanos, através da OPS, e aí conseguimos chegar a 14.462 médicos, que, pelos dados da OMS, correspondem a uma capacidade de atendimento de 50 milhões de brasileiros”, rebateu a presidenta.

Visivelmente desesperado, não conseguindo se conter na poltrona, Bonner fez mais uma vez o discurso de terror de quase dois minutos sobre a economia brasileira e a presidenta calmamente respondeu: “A inflação cai desde abril, Bonner, agora mesmo saiu um dado oficial mostrando que houve zero por cento de aumento de preços em julho. Por outro lado, todos os dados antecedentes ao segundo semestre, aqueles que anunciam o que vai acontecer na economia, mostram que haverá crescimento [do PIB] em relação ao primeiro semestre”.

Insatisfeito com a resposta, mas espremido pelo tempo estabelecido de 15 minutos, Bonner teve que ceder um minuto para as considerações finais da presidenta, mas não se conteve e a interrompeu por mais duas vezes, coisa que não havia feito nas entrevistas anteriores, já que se trata do momento em que o candidato fala diretamente ao eleitor.

Educadamente Dilma finalizou: “Obrigado, Bonner, eu quero dizer que acredito no Brasil. Eu compreendo, vou suspender a minha fala”, encerrou Dilma, com classe, diante dos entrevistadores que se mostraram em pleno ataque de nervos.