Jussara Cony repudia deputado Fraga por ofensa contra mulheres

 A vereadora Jussara Cony (PCdoB) apresentou hoje na Câmara Municipal de Porto Alegre uma moção de repúdio ao deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) pela maneira ofensiva com que se dirigiu à deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) na quarta-feira, dia 6.

 

Durante sessão que votava medidas provisórias de ajuste fiscal, Fraga declarou que “quem fala como homem deve apanhar como homem”, referindo-se à postura altiva de Jandira frente à agressão que sofreu do deputado Roberto Freire (PPS-SP). Na sessão, Freire seguro e empurrou seu braço numa típica postura autoritária e machista. 

“Quando uma mulher é violentada, seja física ou verbalmente, todas somos”, disse Jussara em defesa da parlamentar carioca. “A declaração de Fraga, no fundo, tinha o sentido de dizer que lugar de mulher não é na política. Mas é sim! E lutamos por meio da política contra todas as formas de preconceito e desigualdade, para que as diferenças naturais sejam respeitadas”.
Jussara abriu o discurso usando frase proferida pela bancada feminina da Câmara Federal durante a sessão: “A violência contra a mulher não é o Brasil que a gente quer”.

A vereadora ainda lembrou trecho do discurso de Jandira: “Talvez os homens não compreendam qual é o sacrifício pessoal que nós mulheres fazemos para estar aqui, cotidianamente, fazendo a luta em que nós acreditamos. Talvez vocês não entendam qual é a cultura que pesa sobre nós na proteção dos filhos e a cobrança que sofremos por estarmos aqui em vez de estarmos em casa cuidando dos nossos filhos. Mas não há problema, porque essa é uma opção de vida”.

Leia abaixo a íntegra do discurso da deputada Jandira Feghali:

“Chegou a hora da votação mais importante neste plenário. Antes de entrar propriamente na matéria, eu queria fazer dois registros. Primeiro: na política, a gente precisa ter lado. Não se faz política sem ter lado. Não se faz política no muro e sem assumir posições claras para com a sociedade brasileira. Eu já esperava, em algum momento, neste plenário, até porque sou a única Líder mulher e porque falo, em todas as sessões, sobre as posições do nosso partido, que fosse alvo de atitudes agressivas e fascistas. Isso já era aguardado, mas não pensei que fosse ser tão rápido e de forma tão agressiva como foi.

Eu fui vítima do destempero do deputado Roberto Freire, que já se desculpou — achei uma atitude de grandeza de sua Exa. —, mas também fui vítima de palavras e de ameaças de um deputado que talvez não saiba qual é a principal característica de uma mulher.

Não pense, deputado Alberto Fraga, que firmeza, coragem e destemor são características masculinas. São características das mulheres (palmas), desde a dor do parto, que nós temos que ter para ter os nossos filhos — eu sou mãe de dois filhos —, até a luta política concreta não só pela proteção dos filhos, mas também a luta contra as adversidades da vida.

E mulheres que têm essa atitude têm essa atitude na política (Palmas.) Nós mulheres somos forjadas numa luta dura e difícil. Talvez os homens não compreendam qual é o sacrifício pessoal que nós mulheres fazemos para estar aqui, cotidianamente, fazendo a luta em que nós acreditamos. Talvez vocês não entendam qual é a cultura que pesa sobre nós na proteção dos filhos e a cobrança que sofremos por estarmos aqui em vez de estarmos em casa cuidando dos nossos filhos. Mas não há problema, porque essa é uma opção de vida.

Eu cheguei aqui forjada na luta e com a coragem política que o meu partido me ensinou a ter e com os valores de caráter e personalidade que a minha família me deu. Eu não sou agressiva com ninguém aqui. Em seis mandatos, vocês nunca viram, nem eu nem a nossa bancada, mulheres e homens da nossa bancada, tripudiarmos aqui, individualmente, sobre nenhum deputado, agredir nenhum deputado, nem aqueles que passam pelas situações mais difíceis, inclusive os investigados, os denunciados ou aqueles que passaram aqui por cassação. Jamais viemos à tribuna tripudiar sobre ninguém, porque nós sabemos o quanto é difícil chegar aqui. Nós não podemos permitir.

Eu lamento muito que alguns deputados tenham permitido e apoiado as falas e as ameaças do deputado Alberto Fraga e vaiado quem reagiu a essa agressão. Não podemos confundir divergência politica com desrespeito, ameaça e quebra de decoro. (Palmas).

Hoje, companheiros parlamentares, foi comigo; ontem, com a deputada Maria do Rosário; anteontem, com outras parlamentares ou com outros parlamentares.

Amanhã, pode ser com qualquer um de vocês que apoiou a atitude fascista do deputado Alberto Fraga, ao dizer que mulher que fala como homem tem que apanhar como homem. Isso não é frase que se expresse. Para mim, isso não só é quebra de decoro como também é ameaça.

Deputado Alberto Fraga, pegaremos as fitas, e V.Exa. espere um processo da nossa parte, porque ninguém faz isso impunemente nesta Casa.

De outro lado, quero agradecer, aqui, a solidariedade da grande maioria deste Plenário, particularmente aos Líderes Domingos Neto e Rogério Rosso, ao deputado Glauber Braga, à bancada feminina e a todos que, fora desta tribuna, me prestaram solidariedade, expressaram amor e carinho diante de tudo aquilo que aconteceu.

Quero apenas dizer que, dentro desta matéria, como temos lado, nós não fazemos demagogia. Nós não somos hipócritas. Nós sabemos a negociação que foi feita. Sabemos que este Parlamento ainda não teve, mas deve ter a coragem de fazer taxação de grandes fortunas, como o principal instrumento de ajuste. Aliás, há um projeto meu e de outros Deputados sobre essa matéria tramitando.

A oposição não tem autoridade política para falar em direito de trabalhador, nem o Solidariedade, cujo Secretário de Segurança, o Deputado Francischini, baixou a repressão sobre os professores no Paraná. Isso não é respeitar trabalhador. Quero dizer que o desemprego de 12,9%, quando o Lula pegou o Governo, juros de 8,5% do PIB, fator previdenciário, desemprego e congelamento de salário mínimo, tudo isso não é defesa de trabalhador.

Portanto, não há autoridade política nessa oposição de agredir governos que têm lutado, sim, pelos trabalhadores, mudando a vida de milhões de trabalhadores neste país.

Por causa disso e pelo compromisso com esse projeto e também porque nós temos lado na política, votaremos a favor do PLV, que é melhor do que a medida provisória original, para que os trabalhadores entendam que a negociação foi feita e que o projeto avançou.

Não há medida provisória ideal. Achamos que o ajuste deve ser outro, mas nós votaremos, porque temos lado, compromisso com um projeto que durará, sim, 4 anos. Não há impeachment, não há golpe que vá tirar a Presidenta Dilma! (Palmas.) Nós temos que avaliar o governo não pelo seu início, mas pelo seu final. Vamos avaliar os resultados pelo seu final e não pelo seu início.

Portanto, quero aqui registrar que nós votaremos a medida. Nada nos intimida. Partido que morreu no Araguaia não tem medo de discurso de delegado (Palmas.) E nós vamos enfrentar, com a mesma firmeza de sempre, presidente, as nossas posições e a divergência política.

Muito obrigada”.

Fonte: Assessoria de imprensa da vereadora Jussara Cony