O adeus de Seu Luiz, rei do baião

Em 1967 Luiz Gonzaga, um dos maiores fenômenos da música brasileira em todos os tempos, achava que era chegada a hora de se afastar dos palcos. Em determinado momento dos anos de 1950 conta-se que todas as prensas da gravadora RCA Victor, uma das gigantes do setor presentes no Brasil, estavam ocupadas prensando os discos do Rei do Baião.

Por Joan de Oliveira*, especial para o Vermelho

luiz gonzaga - Divulgação

Mas naquele então, novos movimentos musicais como a Bossa Nova, MPB, Jovem Guarda, relegavam Luiz para um patamar bem inferior. Já não fazia o mesmo sucesso de antes, já não era a coqueluche do rádio. Continuava reinando Brasil afora, mas não tocava mais como antes. Foi então que Onildo Almeida e Luiz Queiroga compuseram “Hora do adeus”, belíssima canção na qual o rei se despedia.

Lançada em um LP de 1967, a letra, uma das mais bonitas gravadas por Luiz Gonzaga, revela, com incontida amargura, o sentimento que tomava conta dele naquele instante. É uma despedida pungente, de quem ainda se sentia rei, mas se preparava para sair de cena: “Minha sanfona, minha voz, o meu baião/ Este meu chapéu de couro e também o meu gibão/ Vou juntar tudo, dar de presente ao museu/ É a hora do adeus/ De Luiz, rei do baião”.

Felizmente a despedida não se concretizou ali. Na década seguinte Luiz Gonzaga deu a volta por cima e continuou a ser o Rei do Baião, amado e idolatrado por seus súditos de norte a sul do país. Não seria exagero dizer que Luiz ajudou a inventar o “norte” no imaginário coletivo do Brasil. Seu gibão e seu chapéu de couro criaram uma imagem que se perpetua até hoje.

Mas a vida do rei não poderia se perpetuar para sempre. Há 27 anos, ao amanhecer do dia 2 de agosto de 1989, no Hospital Santa Joana, no Recife, silenciava aquele que, “desde o tempo de menino, cantava solto que nem cigarra vadia", a majestade do baião. No hospital, soltava aboios para espantar a dor.

Médicos, enfermeiras, pacientes, choravam ao ouvir os aboios, canto derradeiro de um rei, músico e soldado, vaqueiro e cangaceiro, homem do povo. Ao amanhecer daquele dia, a sanfona, o chapéu de couro e o gibão poderiam enfim ir para o museu, como fora sua vontade. Mas seu Luiz, merecedor da coroa que lhe deu seu povo, ainda reina absoluto quase três décadas depois.

Escute Hora do Adeus, por Luiz Gonzaga: