NOVAS REALIDADES, NOVOS OLHARES!

Quanto menos votos obtiver o 15 ou o 45, mais fortalecida será a nossa posição para, posteriormente, contrapor ao vitorioso que, independente de quem ganhar, é parte integrante da nau dos golpistas.

pmdb psdb - Miranda Muniz
• Miranda Muniz
 

O verdadeiro tsunami que se abateu sobre as forças de esquerda no primeiro turno das eleições, expresso pela derrota acachapante, sobretudo do PT, aliado à regressão de direitos e conquistas civilizacionais que estão sendo patrocinada pelas forças que perpetraram a violência golpista contra o mandato legitimamente conquistado pela presidenta Dilma, requer uma análise profunda e crítica dos erros e acertos do campo democrático e popular e, em especial, das Esquerdas.

Hoje, vou me deter a um aspecto que tem causado muita inquietação e debate: a questão dos “apoios”, em âmbito do segundo turno das eleições municipais.

Não comungo com a tese de que a derrota política do curto ciclo democrático e popular, consubstanciada pelo impedimento da presidenta Dilma, teve como causa fundamental a política de alianças com setores centristas. Muito pelo contrário, sou convicto que sem tais alianças as forças democráticas e populares não chegariam ao poder em 2003, com a posse do ex-presidente Lula, graças a aliança com parte do empresariado nacional, simbolizado pelo industrial e vice-presidente José de Alencar.

Entretanto, hoje a realidade mudou: o ciclo mudancista foi interrompido pelo Golpe contra a presidenta Dilma; as forças de direita estão na ofensiva e ganhando espaços; o centro, sempre vacilante, pendeu para a direita; a população “desconfia” da esquerda, em especial, nos aspectos ético, moral e na sua capacidade para “resolver” os problemas do Brasil.

Buscando aniquilar institucionalmente as forças mais à esquerda, as ditos “grandes partidos”, promovem uma reforma política e eleitoral, com viés excludente e antidemocrático com a reintrodução da famigerada cláusula de barreira e o fim das coligações. Nessa empreitada, espero que o PT não apoie tais medidas, pois se hoje ainda possui a segunda maior bancada na Câmara Federal, em futuro próximo poderá ter dificuldade em suplantar essas restrições que serão introduzidas.

Essas duas medidas (cláusula de barreira e fim das coligações) terá efeito fulminante para a existência de partidos pequenos e médios. Com a chamada “janela”, introduzida pela minirreforma de 2015, que permite ao parlamentar migrar de partido sem perca de mandato, é provável que de março a abril de 2018 haja uma debandada de deputados para os “grandes” partidos, em especial ao PMDB e PSDB, consórcio golpista que assaltou o Poder Central. Por outro lado, o PT, mesmo ainda “grande”, não terá “poder de atração”, haja vista seu estado de desidratação política e eleitoral.

A válvula de escape para agremiações menores subsistirem será a Federação Partidária. Um tipo de aliança mais programática e com uma duração mais estendida, prevista na nova reforma eleitoral e política. Caso contrário, partidos como PCdoB, PDT, PSOL, PV, REDE e mesmo o “gigante” PT (mais no campo democrático e popular), PSB (centro), PSD, PP, PTB, DEM, PPS, SD, PSC, PRB, etc. (campo centro direita), terão muitas dificuldades em suplantar as exigências da legislação restritiva.

É essa nova realidade (ofensiva da direita, inclusive com ataques regressivos dos direitos e das conquistas civilizacionais, e introdução de mecanismos excludentes) que impõe a necessidade de termos um novo olhar e adoção de novos métodos e estratégias de construção política.

Manter preso às antigas táticas, no momento que uma nova realidade se impôs, é cegueira política.

Se na conjuntura anterior, quando as esquerdas tinham força e credibilidade política, era possível atrair o “centro” e isolar a direita, hoje a situação é inversa. Não por desejo nosso, mas por uma realidade objetiva.

Daí, a meu ver, inevitavelmente, teremos que priorizar uma aliança mais à esquerda, através da Federação Partidária. Ao lado disso e sob pena de isolarmos, estar atentos e abertos para estabelecer alianças com novas forças de centro que provavelmente se formarão, a partir de dissidências na Base Governistas, ante os pacotes de maldades que estão impondo ao país e ao povo.

Neste contexto, a unidade dos setores mais consequente precisa ser construído desde já, sob pena de sermos pegos de surpresa nas eleições de 2018 e amargarmos uma derrota ainda mais retumbante.

Portanto, mais do que nunca, é preciso demarcar campos em relação às forças golpistas. A tese do “menos pior”, deve ser avaliada a luz da disputa de 2018 e dos embates contra os retrocessos em curso na atualidade.

Aqui em Cuiabá, temos no segundo turno, o candidato do 15, Emanuel Pinheiro, e o candidato do 45, Wilson Santos.

No quadro mais geral daria pra cravar qual dos dois seria o “menos pior”, e embarcar numa das canoas?

Tenho convicção que não, pois ambos representam um conjunto de forças que apoiaram o golpe contra a democracia brasileira, afastando a presidenta Dilma para impor uma política de redução dos direitos sociais e trabalhistas, bem como para entregar as nossas riquezas, dentre elas o pré-sal, às empresas estrangeiras. A PEC que congela os gastos públicos por 20 anos em saúde, educação, salários, habitação, judiciário, ministério público, etc., é a expressão mais acabada dessa politica anti-povo, praticada hoje.

PSOL, que indicou voto nulo, PCdoB e PT, que decidiram não apoiar nenhuma das duas candidaturas e “liberar” seus filiados a votarem de acordo com suas consciências, também responderam negativamente.

Os dois últimos ainda apontaram para a necessidade da construção da unidade democrática e popular, para fazer os enfrentamentos às medidas regressivas, bem como para os embates eleitorais futuros.

Há meu ver, aliar a qualquer um desses candidatos, mesmo circunstancialmente, não contribui para uma clara demarcação de campos. Ao “misturar” com tais forças, turvamos o tabuleiro político e o grande contingente de eleitores não conseguirão perceber nossas diferenças. Com isso, perderemos tempo e dificultaremos a construção da unidade necessária.

Por fim, admito que a consequência prática dessa posição de não apoiar nem 15, nem 45, será a valorização do voto de protesto, configurado pela simples abstenção ou pelos votos branco ou nulo. Quanto menos votos obtiver o 15 ou o 45, mais fortalecida será a nossa posição para, posteriormente, contrapor ao vitorioso que, independente de quem ganhar, é parte integrante da nau dos golpistas.

• Miranda Muniz
– agrônomo, bacharel em direito, oficial de justiça avaliador federal, dirigente da CTB-MT e presidente do PCdoB/Cuiabá