Aldo Arantes: Homenagear os heróis da Lapa e reforçar a luta

A ditadura já atingira 12 anos de violência e opressão sobre o povo brasileiro quanto ocorreu a Chacina da Lapa. O Comitê Central do Partido se reunira para fazer avaliação e tirar lições da heroica experiência da Guerrilha do Araguaia.

Por Aldo Arantes*

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Lá se discutiu a nova fase de luta contra a ditadura e foram estabelecidas as bandeiras em torno das quais o Partido deveria se empenhar na mobilização do povo: anistia ampla, geral e irrestrita, revogação dos atos e leis de exceção e Constituinte livremente eleita.

Com a falsa informação de que João Amazonas estaria na reunião, os militares desencadearam uma ação terrorista no dia 16 de dezembro de 1976. Dela participaram o 1º, 2º e 3º Exércitos, visando liquidar a direção do partido.

Na verdade João Amazonas, Dynéas Aguiar e Renato Rabelo estavam na China a convite do Partido Comunista da China (PCCh). O fato de que Amazonas não estaria na reunião só foi revelado por Pomar no início da reunião da Comissão Política ocorrida antes da reunião do Comitê Central. Jover Teles, membro do Comitê Central, em ato de aberta traição, dera a informação de que Amazonas estaria na reunião do Comitê Central. Revelara, também, que chegaria à reunião por intermédio de Elza Monnerat, com quem teria um contato.

Participaram da reunião do Comitê Central, realizada entre os dias 14 e 15 de dezembro, Pedro Pomar, Ângelo Arroyo, Haroldo Lima, Aldo Arantes, Elza Monnerat, Wladimir Pomar, Jover Telles, João Batista Franco Drummond e José Novais. Ângelo Arroyo chegara há pouco tempo do Araguaia.

Após a reunião, Pedro Pomar e Ângelo Arroyo, que ficaram na casa, foram fuzilados. Os demais saíram do local na noite do dia 15 em duplas: Haroldo e Aldo, Wladimir e Drummond e, na manhã do dia 16, Novais e Jover Telles. Drummond foi assassinado na tortura. Haroldo, Aldo, Elza e Wladimir foram presos e barbaramente torturados. José Novais conseguiu escapar da prisão, pois saiu da casa com o Jover. Os militares montaram uma farsa para dar a ideia de fuga. Ao não prenderem Novais, dariam a impressão de que ambos teriam conseguido fugir. Foram presos, também, o motorista Joaquim Celso de Lima e a cozinheira Maria Trindade.

O povo brasileiro e o Partido Comunista do Brasil perderam estes combativos militantes da luta em defesa dos direitos dos trabalhadores e do socialismo. Mas seus testemunhos de vida irão inspirar aqueles que lutam por ideal, por um país livre e democrático e pela construção de uma sociedade mais justa e humana.

Pedro Pomar, na época, tinha 63 anos. Era um destacado dirigente do Partido e, junto com Amazonas, o reorganizou em 1945. Paraense, com sua grande experiência política e preparo intelectual, deu importantes contribuições à orientação partidária. Dominava várias línguas e traduziu o livro Ascensão e Queda do 3º Reich. Com a simplicidade que o caracterizava, dedicou 40 anos de sua vida ao Partido.

Ângelo Arroyo era de origem operária. Teve destacado papel nas lutas dos trabalhadores em São Paulo, no início do século passado. Dedicou-se à tarefa de propaganda partidária. Na época do Massacre da Lapa tinha 48 anos. Foi, junto com Maurício Grabois, um dos dirigentes da Guerrilha do Araguaia.

João Batista Franco Drummond era um dos dirigentes de Ação Popular que se integraram ao PCdoB, com a incorporação AP ao Partido, em 1972. Tal acontecimento ocorreu no início das ações da Guerrilha do Araguaia. Dirigente estudantil, Drummond, como inúmeros outros jovens, deixou a faculdade para se dedicar à luta contra a ditadura militar e pelo socialismo. Na época estava com 34 anos.

Por razões de segurança alguns membros do CC não participaram da reunião. Outros estavam fora do país. Nestes quadros repousou a tarefa da reorganização da direção partidária.

A homenagem aos heróis da Chacina da Lapa, após 40 anos do ocorrido, nos faz relembrar do período da ditadura militar. Visando aniquilar a luta popular e democrática e as conquistas obtidas durante o governo João Goulart, os militares desfrecharam o golpe. No poder assassinaram, torturaram e alijaram da vida política milhares de brasileiros. Colocaram o país sob tutela do imperialismo norte-americano e das classes dominantes do país. Adotaram medidas contra os interesses dos trabalhadores, do povo brasileiro e da soberania do país.

Para acobertar seus reais propósitos os golpistas proclamavam falsamente a luta contra a corrupção. Na onda do anticomunismo durante a chamada Guerra Fria, faziam terrorismo alardeando sobre o risco do comunismo no país. A onda fascista estava em crescimento. No Rio de Janeiro pichavam palavras de ordem como “já matou seu comunista hoje?”.

Nos dias de atuais, guardadas as diferenças de época, vivemos num regime de exceção, fruto de um golpe parlamentar. Golpe dado por corruptos que se colocaram como falsos defensores da ética. Com o apoio da grande mídia, dos grandes grupos econômicos e contando com o respaldo ou omissão de grande parte do Judiciário e do Ministério Público, os golpistas rasgaram a Constituição. Contaram, também, com a tropa de choque da grande maioria da Polícia Federal.

A quebra do Estado Democrático de Direito foi flagrante. A Constituição foi rasgada. A Operação Lava Jato, com o Juiz Moro à frente, foi o instrumento principal da ação golpista. Denúncias sem provas, feitas por delatores, foram seletivamente veiculadas pela mídia. Conversas telefônicas da então presidenta Dilma divulgadas, em desrespeito flagrante à Constituição. Foi executada a condução coercitiva do ex-presidente Lula e uma grande quantidade de outros atos ilegais foi praticada.

O ponto alto desta ofensiva, visando destruir o projeto de nação que retirou milhões da linha da pobreza, ampliou a democracia e afirmou a soberania do país, foi o impeachment da presidenta Dilma. Numa decisão que afrontou a Constituição, uma vez que não foi comprovado crime de responsabilidade, um grupo de corruptos cassou o mandato de uma presidenta legitimamente eleita por mais de 52 milhões brasileiros. E os fatos subsequentes demonstram quem são os verdadeiros corruptos neste país. As denúncias recentes da Odebrecht estão mostrando quem são os verdadeiros corruptos. E, no caudal da ofensiva conservadora, cresce a direita e ganha força o fascismo. Estamos diante de um grave retrocesso civilizatório.

A homenagem aos assassinados na Chacina da Lapa tem um importante significado ao reconhecer o papel daqueles que lutam por um ideal. Que deram suas vidas para a construção de uma sociedade mais justa e humana. Serve de exemplo para a juventude, sobretudo num momento em que há uma campanha para desacreditar a política, facilitada por um sistema político que abre o caminho para a corrupção e para uma representação política à imagem e semelhança do poder econômico. É a demonstração de que existe outro tipo de política, aquela praticada em função dos interesses coletivos, pelos democratas e patriotas e por aqueles que colocam suas vidas a serviço dos trabalhadores e do povo.

A rememoração deste acontecimento serve, também, para identificar as semelhanças entre as duas formas de golpe e suas diferenças e para armar os comunistas e o povo para esta nova e complexa fase da luta política.

Apesar das perdas com a Chacina da Lapa, o Partido se reorganizou e tem tido um papel crescente e importante na vida política brasileira.

Maiakóvski, em seu em seu poema NÓS OS COMUNISTAS, afirma:

Comunistas nós somos porque,
os pés solidamente plantados no dia de hoje,
sondamos do futuro a noite densa
somamos o presente do viver.

Comunistas nós somos porque
ouvimos a classe que murmura
com os sem vozes lançados ao ataque
formamos uma massa unida como um só e que
canta.

É essa massa unida que, nos dias atuais, nosso Partido deve contribuir para formar através de uma ampla frente dos democratas em defesa da Constituição, do Estado Democrático de Direito, contra a quebra de direitos constitucionais, sociais e previdenciários dos trabalhadores e em defesa do patrimônio nacional.

Brasília, 12 de dezembro de 1916