Poderosa!

 É um elogio recorrente, que a mulherada de hoje em dia está acostumada a ouvir. Os motivos são variados. 

Célia Ferreira*

Pode ser porque ela é dessas que nunca desce do salto, acorda maquiada e atrai todos os olhares masculinos para suas curvas modeladas na academia. Ou porque é profissionalmente bem sucedida, financeiramente independente e tem grana para realizar desejos mundanos sem a necessidade de recorrer a homem nenhum. Ou porque é a líder de uma família invejável, com marido e filhos maravilhosos modelo comercial de margarina. Ou porque é do tipo que anda com o foda-se ligado o tempo todo, não dá a mínima para regras e padrões, e faz da vida dela o que bem quer. Ou porque é uma feminista combativa, ou uma intelectual respeitada, ou uma filantropa que faz o mundo mudar. Ou tudo isso ao mesmo tempo, ou um pouco de cada coisa de vez em quando ou qualquer outro motivo que eu nem imagino qual seja. O fato é que este é o principal elogio – público, pelo menos – que atualmente se dirige a uma mulher: poderosa!

Falávamos disso outro dia, eu e algumas amigas poderosas, e chegamos à conclusão de que é um bom elogio, que todas nós gostamos de ouvir, até porque, como quase tudo que nos faz felizes, esse adjetivo carrega em si uma boa dose de fantasia, criada pelo olhar do observador. E assim podemos acreditar, ainda que por alguns instantes, que somos realmente tudo aquilo que insinuam, e, mais até, tudo aquilo que gostaríamos de ser. E que carregamos em nosso DNA, em absoluto sigilo, algum tipo de superpoder semelhante ao das heroínas – e vilãs, por que não? – dos quadrinhos.

Mas quais são os reais superpoderes das poderosas de carne e osso? Certamente elas não podem ler a mente alheia, adivinhar esconderijos misteriosos, ficar invisível, resistir às piores bactérias do universo, ter uma força descomunal. Também não conseguem transformar-se numa inteligência digital fluindo pelos computadores da terra, manipular a água, proteger-se em campos de força, levitar, voar, regenerar-se, ressuscitar, enfim, não podem nada que uma mulher comum também não possa. E daí se conclui o óbvio: para ser poderosa, basta ser apenas isso, uma mulher comum.

Uma mulher comum que enfrenta múltiplas jornadas, que trabalha na roça de sol a sol e de vez em quando se dá o direito de descansar tanto quanto queira porque simplesmente ela precisa e merece; que se desdobra o tempo todo, durante toda sua existência, para tentar exaustivamente atender às necessidades de todos a sua volta, filhos, pais, companheiros, parentes, amigos, funcionários e até os desconhecidos que precisam de sua solidariedade. Uma mulher com tantas atribuições e qualidades que não caberiam nem mesmo no generoso limite de linhas desse texto. Uma mulher exatamente como todas que conhecemos, ricas ou pobres, brancas ou negras, gordas ou magras, jovens ou velhinhas. Mulheres de todos os jeitos e de todos os lugares. Pois não é assim que somos?

Então, da próxima vez que alguém lhe brindar com esse elogio, aproveite o sucesso e curta o reconhecimento. É porque somos mesmo poderosas!