Mulheres: Rumo à greve geral no 8 de março contra o retrocesso

Oferecer elementos para o movimento de mulheres, atuar na organização da resistência para o próximo período são compromissos do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cefemea), que acompanha a atuação do legislativo brasileiro. Jolúzia Batista, colaboradora do centro, avalia as ameaças aos direitos das mulheres no Brasil pós-golpe. 

Por Railídia Carvalho

Ni Una Menos - UJS

Ela participa dos Diálogos Mulheres em Movimento: Direitos e Novos Rumos que começou nesta quarta-feira (25) no Rio de Janeiro promovido pelo Fundo Elas, Onu Mulheres e parceiros.

Jolúzia também faz parte da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), entidade que atua pela igualdade de direitos. Nesta perspectiva de resistência ela vê a criação de uma força feministra de esquerda como instrumento para combater o retrocesso que se impõe. Ela defende que o 8 de março seja uma data que demonstre a força da mobilização das mulheres e do ativismo do país.

“A esperança é que a gente possa criar uma força de esquerda feminista que possa denunciar e sustentar uma reação no Brasil. Da parte da Articulação de Mulheres Brasileiras vamos chamar para um 8 de março unificado, em que as mulheres parem, façam uma greve. Que parem mesmo e que se mobilizem nas ruas neste dia contra o retrocesso aos nossos direitos”, enfatizou.

Jolúzia (foto) avalia com pessimismo o cenário da luta das mulheres no Congresso Nacional. “A gente não tem esperança de segurar mais nenhuma pauta. Estamos na iminência de aprovar a PEC 58/2011, que retrocede inclusive ao que conquistamos sobre o aborto legal”, informou.

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 58/2011 foi criada inicialmente para ampliar a licença maternidade de mães com filhos prematuros. De acordo com o movimento feminista, a nova feição está sendo conduzida para a criminalização total do aborto.

“Nós seguimos resistindo e dialogando com as mulheres que a cada dia tomam decisões pragmáticas sobre a sua vida. Não tem como evitar. As mulheres brasileiras tomam decisões de interrupção de gravidez cotidianamente e também cotidianamente elas morrem. E é isso que estamos e é isso que estamos fazendo aqui (nos Diálogos do RJ), denunciando e dialogando com as mulheres”, explicou.

Ela destacou também o financiamento das ações e das entidades que atuam pela promoção da igualdade de gênero e na denúncia das violações de direitos da mulher. “Há uma ausência de debate para um fundo público para direitos humanos no Brasil e América Latina. Agora, o horizonte é longínquo porque os governos de cunho autoritário e liberal não apoiam essa iniciativa de promover os direitos humanos e não apoiam a pauta dos direitos sexuais e reprodutivos”.

Jolúzia também é socióloga e definiu o papel do fundamentalismo religioso no cenário conservador instalado no Brasil e no mundo. “Essa onda tem a ver com a crise agressiva de reestruturação do capital. O fundamentalismo religioso se coloca como um amálgama para sustentar o imaginário social desses retrocessos da parte conservadora da sociedade”, analisou.

Nessa conjuntura, O Estado esvazia as suas prerrogativas em favor da livre iniciativa e das corporações financeiras internacionais. “Nós mulheres estamos tensionadas a voltarmos para o papel tradicional do cuidado, da reprodução. Somos nós que seremos impactadas com a falta de creches, com a falta de escolas, com a ausência de políticas para idosos”, exemplificou.

“Voltaremos para aquele papel inicial do século 19 das mulheres cuidando desse entorno doméstico porque isso é que gera riqueza nesse atual momento do capitalismo. O fundamentalismo religioso vem para implantar, imprimir essa perspectiva moral da família tradicional branca e heteronormativa”, denunciou Jolúzia.

Confira abaixo a programação do Diálogos que prossegue até sexta-feira (27)