Penélope Toledo: Unidos do Futebol, nota dez!

Aos 48 do segundo tempo, no critério de desempate, a escola de samba são-paulina Dragões da Real foi vice do carnaval paulista. Sua coirmã Independente Tricolor foi vice da “Série B” e subiu. Em 2018 serão quatro escolas de torcidas organizadas no Grupo Especial. Futebol e carnaval, duas paixões nacionais cujos caminhos se entrelaçam.

Por Penélope Toledo*

Desfile da Gaviões da Fiel, escola de primeiro grupo de São Paulo e torcida organizada - Paulo Pinto/Liesp

A “tomada” do carnaval paulista pelas torcidas organizadas começou com a corinthiana Gaviões da Fiel, que virou bloco carnavalesco em 1975 e por 12 vezes foi considerada o melhor bloco. Ascendeu para escola de samba em 1989 e seis anos depois, cantando que “coisa boa é para sempre”, foi campeã do Grupo Especial. Hoje é tetracampeã.

No carnaval paulista de 2017 foram oito escolas de torcida sendo, além das mencionadas, as palmeirenses Mancha Verde (Grupo Especial) e TUP (Grupo 4), a santista Torcida Jovem (Grupo 1) e a corinthiana Camisa 12 (Grupo 2).

No Rio de Janeiro, o maior carnaval de avenida do Brasil, as escolas de samba tradicionais não dão espaço às torcidas organizadas, que concentram a sua festa nos blocos. Além disto, as escolas têm as suas próprias torcidas organizadas.

O futebol cantado na avenida

Sem escolas de samba de torcidas, o futebol marca presença na passarela do samba carioca como tema de enredos. Os mais recentes homenageados foram Pelé e Neymar, pela Grande Rio em 2016. Embora o tema fosse a cidade de Santos, o clube homônimo e os dois jogadores foram destacados no samba-enredo.

O ídolo flamenguista Zico não poderia ficar de fora da lista de jogadores agraciados com sambas-enredo, sendo tema da Imperatriz Leopoldinense em 2014. Além dele, Ronaldo Fenômeno (Tradição, 2003 e Gaviões da Fiel-SP, 2014) e Nilton Santos (Vila Isabel, 2002), já foram homenageados.

Clubes também embalaram escolas na Sapucaí. Os centenários do Flamengo (Estácio de Sá, 1995), Vasco (Unidos da Tijuca, 1998) e Fluminense (Acadêmicos da Rocinha, 2003) foram contados na passarela do samba. Em São Paulo, a Gaviões da Fiel homenageou o seu Corinthians em 1998 e em 2010 – “ninguém melhor do que nós para falar de você”, dizia o samba. Nenhum enredo de clube foi campeão.

O futebol foi levado para a avenida pela primeira vez em 1981, quando a Imperatriz Leopoldinense falou sobre Lamartine Babo, compositor do hino de 11 clubes cariocas, incluindo os quatro grandes. E foi em si o tema em 1986, da Beija-Flor, que diante da conquista do Mundial do México pela Argentina, reforçou a força do futebol brasileiro.

Futebol e carnaval: duas formas de expressão cultural ameaçadas

A relação estreita entre futebol e carnaval não é à toa, ambos guardam semelhanças entre si, a começar pelo fato de serem expressões culturais da nossa gente e de se traduzirem em uma alegríssima festa de cores, luzes e sons. Os dois movem paixões, arrastam multidões, fazem rir e chorar, são retalhos de memórias que arrepiam e marejam os olhos.

Se assemelham também nos dramas enfrentados. Em ambos a mercantilização transfere o foco para o lucro e o povo é afastado dos estádios de futebol, com a arenização que extinguiu as gerais e os ingressos a preços populares, e dos sambódromos, cujas entradas e fantasias são caros, apesar dos setores populares e das alas da comunidade. Além disto, a Globo detém o monopólio de transmissão dos dois.

Tão parecidos entre si, é imprescindível que mais do que se confundirem, sirvam de exemplo mútuo. Como no respeito entre as escolas de samba, ao ponto de visitarem a quadra umas das outras e de beijarem o pavilhão alheio. OK, o futebol não precisa ir tão longe. Basta que se compreenda que rivalidade não é inimizade.

*Comunista, jornalista com passagem pelo jornal Lance!