Marina Araújo: LGBTfobia e Relações de Gênero é assunto de escola!

"É fundamental repudiar qualquer tipo de violência e transformar essa indignação em luta para a garantia dos direitos LGBTs. Políticas sociais efetivas são medidas que podem verdadeiramente apontar saídas. Além da responsabilização dos agressores, é preciso olhar para a história, não podemos acreditar que o punitivismo, a vingança e o ódio indiquem uma transformação social positiva”.

Por *Marina Araújo

LGBTfobia faz mais uma vítima: Matheus Camilo, estudante gaúcho - Reprodução

A indignação e os questionamentos sobre o assassinato da travesti Dandara dos Santos não se esgotam – nem podem. No entanto, um deles urge quando se trata de homolesbotransfobia: o que a Educação tem a ver com isso?

Em meio às votações dos Planos de Educação em todo o Brasil, durante 2015 e 2016, sofremos ataques dos setores conservadores que não permitiram incluir as questões de gênero, diversidade sexual e combate à discriminação por orientação sexual na educação escolar. Que papel desempenharam os parlamentares diante de tantos dados sobre uma realidade de violências contra LGBTs e contra mulheres? E o que nós fizemos ao perdermos essa batalha emblemática?

A população foi às ruas, em Fortaleza, para reivindicar o direito à vida, o respeito à diversidade e à visibilidade LGBT. A morte de Dandara na periferia da cidade nos impõe um posicionamento pela cobrança do papel do Estado e uma reflexão crítica sobre medidas de combate à violência. Neste mesmo mês, o Cedeca Ceará recebeu denúncia de agressão contra um adolescente de 15 anos, que ficou desacordado em uma festa após linchamento coletivo. O motivo? Ser gay.

Em verdade, vivenciamos alertas cotidianos; mais de 300 pessoas são assassinadas por ano, no País, em razão de sua orientação sexual e/ou identidade de gênero. Inúmeros são os casos de evasões escolares e de recorrentes expulsões dos núcleos familiares que afetam LGBTs. A disputa política e ideológica tem que existir.

É fundamental repudiar qualquer tipo de violência e transformar essa indignação em luta para a garantia dos direitos LGBTs. Políticas sociais efetivas são medidas que podem verdadeiramente apontar saídas. Além da responsabilização dos agressores, é preciso olhar para a história, não podemos acreditar que o punitivismo, a vingança e o ódio indiquem uma transformação social positiva. Sabemos para que tem servido o hiperencarceramento e qual a classe social e a raça das pessoas que estão no sistema penitenciário e socioeducativo.

Enquanto isso, assistimos ao desmonte da educação básica, que quer implantar a “Escola Sem Partido” e faz com que acreditemos que o Ensino Médio tenha como único objetivo formar uma massa de trabalhadores, e não adolescentes mais humanos e com capacidade de leitura crítica dessa sociedade injusta e desigual. Não podemos permitir que nossa sociedade continue a reproduzir mais meninos e meninas agressores.

*Marina Araújo é graduada em Direito e assessora comunitária do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente – Ceará (Cedeca Ceará)

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