Fortaleza: Sessão Solene na Câmara homenageia os 95 anos do PCdoB

A Câmara Municipal de Fortaleza realizou nesta quinta-feira (24) sessão solene em homenagem aos 95 anos de Partido Comunista do Brasil (PCdoB). A homenagem foi proposta através do requerimento de autoria da vereadora Eliana Gomes (PCdoB), aprovado por unanimidade pela Casa Legislativa. Em nome do presidente da CMFor, Salmito Filho (PDT), Eliana Gomes presidiu a sessão.

Fortaleza: Sessão Solene na Câmara homenageia os 95 anos do PCdoB

A mesa foi composta pelo secretário de Ciência e Tecnologia e Educação Superior, Inácio Arruda; o secretário de Cultura de Fortaleza, Evaldo Lima; Luís Carlos Paes, presidente Estadual do PCdoB; Carlos Augusto Diógenes (Patinhas), dirigente nacional do PCdoB; Valton Miranda Leitão, médico e psicanalista e o deputado estadual Carlos Felipe.

A vereadora Eliana Gomes disse ser um momento muito rico para o partido. “Daqui a dois dias o PCdoB comemora 95 anos de luta, quase um século. Mas muito mais numerosa foram nossas vitórias. Somando a coerência, atitude, radicalidade na luta pelo socialismo, o PCdoB é o partido mais antigo, mas se caracteriza por estar na vanguarda das lutas das causas populares. É o velho partido novo. Na Semana de Arte Moderna de 1922, diversas ações marcaram para sempre a história. Foi lá que começou jornada histórica de muitas lutas, quase resistência, na guerra mundial”.

Conforme a vereadora, a luta hoje o chama a coordenar luta contra a agressão imperialista em várias partes do mundo. “Devemos defender com firmeza os nossos ideais, como fizemos no passado. Na campanha ‘O Petróleo é Nosso’, nas lutas da União Nacional dos Estudantes, pela liberdade democracia, progresso da participação. Naquele período negro onde muitos camaradas tombaram ao lado dos que lutaram. Estivermos presentes nas Diretas Já, agora no “Fora Temer” e contra essa Reforma da Previdência deveremos continuar nas ruas”, revelou.

“O dia da inauguração do PCdoB é o dia da libertação dos escravos, é uma data de comemoração e de lembrança daqueles e daquelas que trazem na vida a luta pela liberdade. Movida pela seca em busca de dias melhores da capital, centenas de homens e mulheres tiveram contato com os ideais do PCdoB. Eu mesmo que vim de Canindé fui uma delas. As ruas e praças da cidade nos abrigam desde sempre. Estivemos em várias lutas. Na passeata contra ditadura, campanhas eleitorais, mobilizações contra o golpe.”

“Na Câmara exercemos o mandato de fazer orgulho ao trazermos as lutas do povo, a justiça social, o respeito. Trabalhamos com dignidade por Fortaleza. Nossas fronteiras vermelhas continuarão. Vamos honrar com nosso presente, o passado e o futuro através das dezenas de milhares de militantes pelo Brasil”. A parlamentar frisou que no dia 25 de março de 1922, nove revolucionários deram início a essa saga. “É por eles que dedicarei e dedico minha vida, com a frase que inspira gerações desde 1917, e que inspirou trabalhadores e trabalhadoras, do hino da Internacional – ‘Sejamos nós que conquistamos a terra-mãe livre e comum! Viva o Partido Comunista do Brasil”, concluiu.

Após a entrega da placa em comemoração aos 95 anos do PCdoB, pela vereadora Eliana Gomes, ao Presidente Estadual do PCdoB, Luís Carlos Paes, este se pronunciou agradecendo a homenagem: “Ao ouvir muito atentamente a fala da nossa vereadora, eu vi que ela percorreu de uma certa forma, todo o período de construção do nosso partido, desde 25 de março de 1922 até a presente data. Mas gostaria de acentuar algumas questões fundamentais”, observou

“O nosso partido tinha a sigla PCB, que vinha de um movimento muito forte, de uma nascente classe operária brasileira que tinha sua origem no movimento camponês. Muitos deles migraram para as grandes cidades, principalmente no Centro-Sul e havia um número muito grande de imigrantes, italianos e alemães, que trouxeram as ideias anarcossindicalistas. Mas teve um fato de grande influência – a revolução de outubro de 1917, na velha Rússia, que iniciou na primeira vez na história da sociedade, um novo regime social dirigido pelo proletariado. Que teve influência em todo o planeta, e aqui também”.

Paes destaca que o partido procurava combater a política retrógrada do “Café com Leite” que dominava o país, desde a criação da República em 1889. “Existia um movimento, e nosso partido surge nesse cenário, que tinha nas suas fileiras jovens intelectuais, mas que não tinham ainda uma compreensão maior do marxismo e nem muita clareza como se colocar nas lutas, e como achar o melhor caminho para iniciar o processo revolucionário no país”, avaliou.

Disse que nesses 95 anos, o partido busca assimilar mais conhecimento da doutrina marxista, através de Lênin e de outros intelectuais do País, que foram criando novas saídas para os problemas novos. Observa que o partido vai buscando assimilar esses conhecimentos e procurar entender melhor a realidade do nosso país. “O Partido tem esse viés de instrumento da luta do nosso povo, na defesa da democracia, da soberania nacional, do avanço e da luta dos trabalhadores em geral”, observou.

“Tivemos um momento muito especial, depois de 14 anos de avanço democrático e tentativa de avanço de um projeto neoliberal, que foi suspenso pela vitória de Lula, prevalece hoje um governo golpista que chegou ao poder por um consórcio jurídico-político midiático apoiado pelo grande capital nacional, que tirou do governo uma presidente honesta, que pode ter cometido erros, e que buscava dar continuidade a um projeto iniciado com Lula”.

Segundo ele, mesmo com todos os problemas, foram os governos do PT que deram uma nova feição ao Brasil, que passou a aparecer de forma altiva no mundo. O governo procurava se unir com seus irmãos da América Latina, procurando uma unidade para projetos de desenvolvimento. Vivemos hoje essa situação de retrocesso. Foi aprovado o projeto da terceirização que retira ganhos dos trabalhadores e agora vem a Reforma da Previdência que visa privatizar esse setor, inviabilizando o direito a aposentadoria para a maioria dos trabalhadores brasileiros”, concluiu.

Em seguida, falou o secretário de Cultura de Fortaleza, e vereador licenciado da Câmara, Evaldo Lima, que afirmou que o momento é de comemoração da memória afetiva da história brasileira.

“O partido que deu o sangue dos seus militantes pela liberdade brasileira. O que faz nosso partido vivo é a militância aguerrida e que tem uma característica que enxerga a realidade como perspectiva como um horizonte. O PCdoB embora não tenha se tornado o maior partido do país e do ocidente como dizia Ferreira Gullar, ao se contar a história do Brasil tem que se fazer referência ao pouco da luta do PCdoB. Longa vida ao PCdoB!”, pontuou.

O médico Valton Miranda se pronunciou destacando ser a homenagem da Câmara um momento importante que marca a presença do PCdoB no processo político cearense. “Dentro do contexto, examinando os acontecimentos dramáticos e trágicos que vive o Brasil não vi nenhum partido que tenha sido mais combativo que o PCdoB. Não é um momento apenas de obscurantismo, é uma tragédia. Não vivemos apenas um retrocesso, mas o avanço terrível das forças do capital, do lucro sobre o trabalho de maneira avassaladora. É impressionante ver a cada dia, esse avanço que esmaga as nossas forças debilitadas, frágeis e pouco articuladas, ” comentou.

“Não se pode esconder que quando a esquerda esteve à frente do país, com Lula, o funcionamento da esquerda e sua mobilização foi absolutamente enfraquecida, seja pelo capitalismo de coerção, ou pela convivência com o capital como se fôssemos parceiros políticos importantes e esquecemos que o sistema do mercado e do capital é nosso inimigo. Esse foi um dos nossos maiores erros e devemos fazer nossa crítica e autocritica. O PCdoB é um partido extraordinário, mas tem que se aliar com a esquerda. Não pode deixar de denunciar as patifarias que estão fazendo com nosso povo. E no final quero mandar um recado para nossos inimigos políticos: coxinhas, sacanas, vocês vão nos ver pela frente. Fora Temer”.

O secretário de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Estado, Inácio Arruda frisou que há uma realidade que impõe a existência dos comunistas, o trabalho de transformar a sociedade, que avançou milenarmente. “Mas um agrupamento partidário ascendeu contra a exploração do trabalho. Já tivemos muitas tragédias sociais no mundo, duas grandes guerras, o fascismo, nazismo, a chegada dos europeus na América, que dizimou os povos que tinham aqui. Num pequeno espaço de tempo você assume o Governo e faz uma transformação, como ocorreu com Lula. Nosso partido podia ter lançado um candidato em 1989, mas decidimos apoiar Lula. A luta continuou até a conquista do Governo em 2002, que criou uma luta feroz, porque um operário assumiu a presidência do Brasil, e isso para os milionários era uma afronta do povo. Mas funcionou! ”

“Mas a elite comanda a mídia e a batalha que travamos recentemente, mostra que temos grandes possibilidades, que podem se materializar num espaço curto de tempo com diálogo das forças que podem fazer esse movimento, que são as de esquerda, mesmo com seus defeitos e divisões. Descobrimos o Pré-sal, Lula bancou para a Saúde e ganhamos. É uma riqueza. O Brasil contratou uma empresa brasileira para desenvolver um submarino nuclear para reforçar as forças armadas. O que essa operação que está em curso fez? prendeu o almirante Otto que era o homem do projeto do submarino, um dos mais respeitados do mundo. Outra operação desse povo que nunca investigou nada nos governos passados, quer prender o ex-presidente Lula para ele não ser candidato. A questão central não é de moral, é de poder, é de comando, que enriquece meia dúzia de capitalistas, que não se preocupam com seu próprio país. O que vimos foi um golpe de estado no Congresso Nacional, com apoio do Judiciário Nacional. Estamos sendo chamados a lutar e denunciar essa situação. O nosso partido está trabalhando para dar essa contribuição ao conjunto das forças populares, o projeto de desenvolvimento nacional, se acertamos o passo aqui, podemos reunir uma força política capaz de derrotá-los novamente pelo voto!” concluiu o comunista.

História

Fundado em 1922, o Partido Comunista do Brasil é o partido mais antigo do país. Viveu 60 anos na clandestinidade. Em 1962, rechaçou o oportunismo de direita, reorganizou-se, adotando a sigla PCdoB, e realçou sua marca revolucionária. Muito perseguido pelo regime militar, dirigiu a Guerrilha do Araguaia em 72-75. Ao fim da ditadura, alcançou a legalidade. Vive hoje uma das suas fases mais ricas.

O PCdoB guia-se pela teoria científica de Marx, Engels e Lênin, e desenvolvida por outros revolucionários. Procura aplicá-la criativamente à realidade do Brasil e desenvolvê-la sem cessar.

O princípio básico da organização do PCdoB é o centralismo democrático, que estimula a expressão das pessoas de forma livre e responsável para a construção das orientações partidárias sob um único centro dirigente e no qual as decisões tomadas são válidas para todos, subordinando o interesse individual ou da minoria ao do coletivo, ou da maioria. Assim, o Partido age como um todo uno, onde a unidade de ação é sua força.