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Parece só um ônibus, mas é uma livraria ambulante

Não importa a idade, certamente a maioria das pessoas já assistiu a filmes e séries cujo elemento que permaneceu no imaginário foi o tal do ônibus amarelo. Ao entrar neste especificamente – que circula pelas ruas da capital paulista – é impossível não pensar que sem demora algo extraordinário vai acontecer. E de fato acontece. Afinal, o veículo que nos acompanhou durante boa parte da infância e adolescência em aventuras do cinema agora é uma livraria.

Por Mariana Serafini

Ônibus Rizoma - Mariana Serafini

As editoras Autonomia Literária, Elefante e N-1 se uniram para encurtar o longo caminho que um livro percorre ao sair das mãos do escritor e chegar ao leitor. Juntas elas criaram a Rizoma, uma distribuidora de livros independentes que contribui com pequenas editoras e simplifica o trabalho operacional e administrativo de gerenciar estoque, distribuir, divulgar e vender as obras.

A “casa” da Rizoma agora é um ônibus escolar que virou uma livraria ambulante com o objetivo de promover atividades culturais e aproximar os leitores das obras. Atualmente o ônibus está estacionado na Rua Rui Barbosa, 269, no tradicional bairro italiano Bixiga, na região central da capital paulista. Este é também o endereço do bar de refugiados palestinos Al Janiah, por isso enquanto está neste lugar a livraria funciona apenas à noite – das 18 horas até meia noite – e “aproveita” o público local.

Segundo Tadeu Breda, um dos editores que trabalha também na livraria, a ideia é ser justamente “uma alternativa à situação ingrata do mercado de venda de livros”. Diferente de grandes redes, no ônibus o leitor tem um contato muito próximo com todo o processo da obra, afinal, o atendente será alguém que trabalhou em pelo menos uma das etapas de produção do livro e, além disso, conhece com mestria o catálogo apresentado. A cultura dos livreiros, conhecedores de seus títulos, e livrarias fora de shoppings e galerias ganha fôlego com esta loja ambulante.

Tadeu conta que muitas pessoas questionaram o grupo sobre os motivos de investir na reforma de um ônibus da década de 80 ao invés de “montar um lugarzinho, uma livraria fixa”. A resposta está na ponta da língua: “justamente para evitar mais gastos de aluguel e poder se movimentar pela cidade, isso é o mais legal do ônibus. Se hoje nós estamos na rua Rui Barbosa, amanhã podemos estar na Avenida Paulista aberta aos domingos, num bairro da periferia, na Praça Roosevelt, em qualquer lugar…”.

Na livraria o leitor vai encontrar ensaios políticos, livros-reportagem, filosofia contemporânea, quadrinhos, poesia, literatura infantil, tudo feito em quantidades reduzidas e com muito cuidado. Atualmente, além das três editoras que mantém o projeto, outras também expõem, entre elas a Lote 42, Ubu, Jujuba, Mino e Veneta. O objetivo, segundo Tadeu, é ampliar este número e um dia chegar a vender as obras de todas as editoras independentes de São Paulo. “Mas a ideia é manter só com editoras independentes, aqui o leitor não vai encontrar best-sellers, nem livro de auto-ajuda”.

Frente à crise das grandes redes, o livro para formação humana

“Pode parecer meio bobo falar assim, mas a gente se empenha neste trabalho por amor”, afirma Tadeu que antes de trabalhar na editora Elefante era jornalista e via seu trabalho “caindo no esquecimento completo” em poucos dias após a publicação. “Então trabalhar com livro traz satisfação porque o livro fica, por menores que sejam, ele provoca pequenas mudanças no mundo”.


Tadeu Breda é um dos responsáveis pela livraria | Foto: Mariana Serafini 


Enquanto grandes redes fecham as portas, unem franquias ou ampliam o catálogo para cada vez mais equipamentos eletrônicos e menos publicações literárias, as pequenas editoras oferecem apenas um produto: livros bem feitos. “Fazemos isso porque acreditamos muito no que estamos publicando, porque achamos que é importante colocar em circulação determinado ponto de vista, determinada obra ou quadrinho. E isso é ótimo porque dá uma oxigenada muito grande para quem gosta de ler, os leitores costumam receber de braços abertos essa onda de editoras independentes. Lucro é a última coisa que acontece, a gente publica porque acredita muito que vale a pena o que estamos publicando”, garante Tadeu.

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Livraria nômade