Luciano Siqueira: Mais do que balões de ensaio

Há uma expressiva distância entre o gesto e a intenção na movimentação de supostos pretendentes a uma candidatura presidencial, afoitos ao geraram balões de ensaio, como que dando as costas para a gravidade da crise que o Brasil atravessa, que tem como uma de suas marcas precisamente a imprevisibilidade.

bandeira do brasil eleição

Especula-se sem sequer se saber que regras presidirão o pleito vindouro, depois do novo arremedo de reforma política em andamento.

Da parte do governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin (duramente chamuscado por denúncias de corrupção), por exemplo, a intenção é mostrar que ainda está no jogo, conforme assinalam na grande imprensa seus apoiadores.

Da parte de outros, é botar a cara para ver no que dá.

O que falta, entretanto, aos possíveis pretendentes é pelo menos uma palavra, ainda preliminar que seja, acerca dos rumos do país.

Pois embora possam caminhar juntas, hipotéticas postulações à presidência da República e ideias para a superação da crise, a ausência de conteúdo passa a impressão – talvez a certeza – de que alguns embustes estão em gestação, na esteira da rejeição à política e aos políticos.

Tipo Emmanuel Macron, eleito presidente da França com a falsa imagem de "novo", mas com compromissos bem definidos com o sistema financeiro e, em particular, com os Rothschild.

É a solução outsider, que levou o principal líder do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a afirmar em entrevista recente que o prefeito de São Paulo, João Doria e o apresentador da TV Globo, Luciano Huck, representam o “novo”.

No campo popular e democrático, também não basta erguer os nomes de Lula e Ciro; urge ampliar o debate de soluções para a crise sistêmica em que o Brasil se vê mergulhado.

Que posição adotar face os atuais agravos à integração regional e realinhamento subalternamente aos EUA e à Europa, ponto nodal da política externa?
Que peso deve ter o Estado como indutor do desenvolvimento na construção de soluções à crise econômica e social?

Em que medida será possível retomar a associação do crescimento econômico com a distribuição de renda, a valorização do trabalho, a diminuição das desigualdades sociais e regionais?

Como resgatar o processo democrático em meio aos esgarçamento das instituições e ao conflito exacerbado entre os chamados Três Poderes da República?

Como seguir combatendo a corrupção, preservando entretanto princípios constitucionais e normas processuais vigentes?

Como reagir ao desmonte de conquistas e direitos ora em acelerado andamento pelo governo Temer?

São questões, dentre várias, que remetem ao cerne dos impasses que o Brasil atravessa. E que estão a reclamar muito mais do que pirotecnia midiática e especulação pré-eleitoral.