Formação de Cineastas Indígenas inicia módulo em aldeia Tapeba

Jovens aprenderão princípios de audiovisual em quatro dias de intensa programação. Realizado pelo povo Jenipapo-Kanindé, o projeto, apoiado pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), através do Edital Ceará de Cinema e Vídeo, contempla aldeias de quatro etnias do Ceará, promovendo também o intercâmbio cultural entre elas.

Formação de Cineastas Indígenas inicia módulo em aldeia Tapeba

O Módulo Tapeba da “Formação de Cineastas Indígenas – Um olhar etnográfico” começa nesta sexta-feira (26), e segue até domingo, 28, na escola da aldeia Lagoa dos Tapeba, em Capuã, distrito do município cearense de Caucaia.

Realizado pela Associação de Mulheres Indígenas Jenipapo-Kanindé, o projeto é composto de quatro Módulos. Os dois primeiros aconteceram em aldeias dos povos Jenipapo-Kanindé e Kanindé de Aratuba, respectivamente, e o ultimo será destinado a integrantes da etnia Pitaguary. São aproximadamente 15 alunos por Formação.

Capacitar jovens indígenas para usar o audiovisual como ferramenta de registro e expressão da própria cultura é o objetivo do curso. Contudo, os benefícios da iniciativa vão além da conquista de poder registrar “o olhar de um índio para outro índio”, explica a Cacique Irê, sucessora da Cacique Pequena na liderança da etnia Jenipapo-Kanindé. Segundo ela, os intercâmbios culturais entre as etnias envolvidas e a expansão dos horizontes profissionais entusiasmam os participantes e se refletem no desempenho escolar deles.

Além de oficinas de fotografia, vídeo e produção audiovisual, o projeto inclui rodas de conversa, vivências na mata, rituais indígenas e uma mostra de filmes etnográficos. De acordo com o cineasta Henrique Dídimo, coordenador pedagógico e facilitador da formação, um dos diferenciais da iniciativa é a relação com a cultura indígena, inclusive nas oficinas. “A gente incorpora o conhecimento indígena dentro da metodologia do curso.” Explica.

A produção do evento é realizada por membros das aldeias envolvidas. Ademais, os jovens Jenipapo-Kanindé que participaram da primeira formação, em abril deste ano, atuam como monitores nas oficinas, aprofundando e transmitindo o que aprenderam. A continuidade do processo de aprendizado também é possibilitada pela doação uma câmera fotográfica profissional a cada aldeia participante, e pelo retorno dos facilitadores aos locais aproximadamente um mês após cada módulo, para ministrar uma oficina de edição de vídeo. Apesar do público alvo específico, há flexibilidade para a participação de alunos de outras faixas etárias, respeitando o caráter inclusivo da pedagogia indígena.

Contando com o apoio da Secretaria da Cultura do Ceará, o projeto dá continuidade à primeira e à segunda Mostra Indígena de Filmes Etnográficos do Ceará, realizadas em 2015 e 2016, na aldeia Lagoa Encantada, da etnia Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz. Além da exibição de filmes com enfoque em questões indígenas, a programação dos eventos incluía uma série de oficinas de audiovisual. Agora os jovens cineastas Jenipapo-Kanindé exercitam e difundem os conhecimentos adquiridos.

A Associação de Mulheres Indígenas Jenipapo-Kanindé

Fundada em 2002, a Associação das Mulheres Indígenas Jenipapo-Kanindé (AMIJK) tem por objetivos defender os direitos das mulheres indígenas e melhorar a qualidade de vida dos povos da etnia Jenipapo-Kanindé, promovendo a cultura nativa, a saúde e a geração de renda na comunidade.

A etnia Tapeba

O povo Tapeba está divido em 17 aldeias ao longo do município de Caucaia. Cada comunidade tem sua organização interna e lideranças. A etnia possui diversas associações, entre elas a Associação das Comunidades dos Índios Tapeba de Caucaia (ACITA), primeira Associação indígena do estado do ceará. Os Tapeba contam com treze escolas indígenas, dez da rede estadual de ensino e três da rede municipal de ensino.

Uma das escolas pioneiras na educação escolar indígena é a escola Indígena Índios Tapeba, onde será realizada a Formação. Criada em 1990 pela professora Sinhá, e continuada pelo professor Weibe Tapeba. A instituição funcionou até 1998 em regime de trabalho voluntario, até o Governo do Estado do Ceará assumir a educação indígena. O prédio atual da escola foi inaugurado em 2006.

Serviço

Escola Indígena Índios Tapeba
Endereço: Aldeia Lagoa dos Tapeba, Rodovia Coronel Alfredo Miranda, Bairro de Capuã – Caucaia.
Página do projeto no Facebook: http://migre.me/wFBDz
Site: http://www.indiojenipapokaninde.org/

Programação do Módulo Tapeba da Formação de Cineastas Indígenas – Um olhar etnográfico

Sexta-feira, 26

– 8h: Momento de espiritualidade Toré
– 9h: Roda de conversa com os Mestres da Cultura: Mestre Pequena; Mestre João Venâncio e Mestre Luis Caboco e Cacique Sotero, com o tema "cultura indígena".
– 12h: Abertura da Formação, com um Toré, ritual sagrado indígena, falas das lideranças presentes e apresentação dos participantes.- 13h30 – Oficina de Produção audiovisual. Facilitador: Fábio Alves.
– 13h30: Formação de Cineastas Curumins – Sessão especial de filmes para crianças.
– 19h: Mostra de filmes etnográficos – Exibição do filme "Suaçuamussará" – Direção: Henrique Dídimo. Produção: Sesc Ceará.

Sábado, 27

– 7h: Vivência nas matas encantadas de Capuã.
– 9h: Oficina de fotografia / câmera. Facilitadores: Iago Barreto e Henrique Dídimo.
– 13h: Lançamento do livro infantil “O Segredo do Guajára”, com a presença do autor Henrique Dídimo.
– 15h: Roda de conversa “Perspectivas do audiovisual na luta das mulheres indígenas”, com a Cacique Juliana Irê e convidadas.
– 19h: Mostra de filmes etnográficos – Exibição dos filmes: “A lenda cotidiana” – Direção: Bárbara Moura e S. de Sousa. Roteiro: Rosa Pitaguary. “Os cabeludos da encantada”, de Sinval Diógenes.

Domingo, 28

– 8h:Oficina “Introdução à Produção Audiovisual Etnográfica”. Facilitadores: Henrique Dídimo e Iago Barreto.
– 12h: Encerramento.