José Bertotti: Diretas Já Podem Unir o Povo Brasileiro?

Os diferentes modos de encarar a vida são tantos que seria impossível numa reflexão elencar todos eles, por isso basta dizer que essas diferenças devem ser vistas como um ponto positivo a ser explorado, quando, diante de problemas aparentemente insolúveis, surge uma proposta viável de onde menos se espera.

Plano Popular de Emergência será lançado no Recife quarta-feira - Divulgação

Por isso talvez seja mais adequado buscar alguns consensos, seja porque esses consensos surgem em menor número do que as diferenças, ou porque ao trabalhar em torno deles podemos utilizar a energia coletiva para alcançar objetivos comuns. E acredite, esses consensos existem, mesmo que aparentemente estejam ofuscados pelas sempre presentes diferenças.

Uma das questões mais discutidas hoje é a permanência do atual ocupante da Presidência da República, Michel Temer. Na época do impeachment da ex-Presidenta Dilma Roussef, ela tinha, segundo o IBOPE 10% de aprovação e 69% de rejeição e nenhum pedido de autorização para apuração criminal, mas teve seu afastamento aprovado pela maioria do Congresso Nacional pelas ditas pedaladas fiscais, também cometidas na época por Michel Temer, que foi ignominiosamente absolvido.

Hoje Michel Temer tem, segundo o Barômetro Político da consultoria IPSOS, apenas 4% de aprovação, 84% de desaprovação e a certeza de 94% dos entrevistados de que o Brasil está no rumo errado. Com relação a sua conduta nesse momento, depois do afastamento por prisão de dois assessores diretos, aguarda-se um fato novo que justifique o seu definitivo afastamento.

Na esperança de que esse fato novo ocorra, outro consenso começa a surgir, já identificado numa pesquisas de opinião feita pelo Datafolha nos dias 23 e 24 de abril de 2017. 85% dos entrevistados querem que seja aprovada no Congresso Nacional uma emenda constitucional que permita eleições diretas para Presidente da República ainda em 2017.

No entanto, para que esse desejo se concretize, será necessária a sua transformação  em manifestações claras de clamor popular que expressem nas ruas uma ampla frente de forças, ultrapassando as fronteiras partidárias e até mesmo os campos políticos estabelecidos à esquerda, ao centro e à direita, em torno da ideia de retomar, a partir do voto popular, a legitimidade do mandato presidencial e consequentemente a clareza de qual o rumo político e econômico deve ser adotado, estabelecendo um ambiente de governabilidade necessário para retomada do desenvolvimento econômico.

A partir dessa retomada democrática, outro consenso pode ser exercitado, o de que o Brasil, para iniciar um processo virtuoso de desenvolvimento econômico, necessita de reformas. Mas, o consenso para por aí. As diferenças sobre quais são as reformas prioritárias e de que forma elas devem ser implementadas já causam uma imensa controvérsia entre todos que desejam essas reformas, sejam elas quais sejam.

Do ponto de vista dos trabalhadores, imensas manifestações já denunciam o caráter nefasto da perda de direitos, onde o ataque se concentra na imensa massa de trabalhadores do setor privado, justamente os que recebem os menores salários e consequentemente as menores aposentadorias. Além disso, está posta a fragilização das relações de trabalho, que a partir da reforma trabalhista atualmente em votação elimina o principal e único instrumento de negociação da classe trabalhadora, sua organização sindical. Tudo isso ocorre num ambiente de dura recessão econômica e aprofunda sobremaneira o imenso fosso de desigualdades sociais em nossa sociedade.

Já do ponto de vista de quem defende as reformas em curso e enxerga como única possibilidade para sua aprovação a continuidade do desgoverno Temer, o preço a pagar já começa a se tornar insustentável, vide a última reunião do principal partido aliado, o PSDB, que decide apoiar o governo para aprovar as reformas, mas irá recorrer ao Supremo Tribunal Federal para tentar mais uma vez impugnar a chapa que elegeu Michel Temer.

Ou seja, desse emaranhado, uma eleição direta, que restabeleça a democracia brasileira, pode de fato promover o necessário debate e apresentar para a decisão do povo as diferentes visões acerca do desafio de criar um ambiente de desenvolvimento produtivo no Brasil, que gere oportunidades de emprego, renda e negócios em nosso País.

(*) José Bertotti é presidente do Comitê Municipal do PCdoB do Recife.