Revista italiana denuncia machismo e é atacada: apenas um exemplo

A revista italiana L’Espresso teve como capa da semana passada uma matéria sobre como o machismo ainda persiste nos tempos atuais, feita pelas mulheres da redação e especialistas entrevistadas. Como resposta, obteve xingamentos de diversos homens

Por: Alessandra Monterastelli 

capa revista

“A nossa última capa, que falava sobre o poder dos homens, poder esse cujo nunca desapareceu e hoje tornou-se ainda mais arrogante ao manifestar-se, desencadeou a ira de muitos. Demonstrou, enfim, que o tema ainda é tabu” conta a chamada do artigo feito pelas próprias jornalistas como resposta às provocações dos leitores ofendidos. A reportagem, que foi capa da revista, denunciava a descriminação, a violência de gênero e o autoritarismo “que sempre existiram, mas agora, diante de vários exemplos, revelam-se de forma mais arrogante”.

O texto cita como alguns exemplos os discursos e comportamentos do presidente norte-americano Donald Trump e as “ombreiras”, referindo-se a um evento ocorrido recentemente na Itália, em que durante um debate entre políticos (todos homens) mulheres jovens foram contratadas para segurar guarda-chuvas sobre eles para que estes não fossem incomodados pelo sol.

A reportagem da revista foi escrita por nove pessoas, entre jornalistas e escritoras, todas mulheres. Além disso, teve participação de profissionais de diversos setores, também mulheres. “Esse trabalho desencadeou a ira de machões dedicados a encher a caixa de e-mail da redação com os mesmos comentários desrespeitosos usados para insultar a nossa página do Facebook”.

Os comentários dos leitores revoltados são em sua maioria falas sexistas, justamente aquelas que a matéria tratava de denunciar. Entre alguns, o artigo divulgou um dos e-mails: “ei, mulherzinhas, se a Itália e os homens italianos são ruins para vocês, a solução é simples: vão embora. Quem sabe nos ‘paradisíacos’ países sul-americanos”, mostrando, além do machismo, o claro preconceito e xenofobia comuns entre os conservadores europeus com países da América Latina, considerados inferiores por estarem em desenvolvimento.

Outros, ainda, usavam o argumento errôneo de que o feminismo é sinônimo de insegurança: “peço desculpas às galinhas estúpidas que devido a frustrações pessoais generalizam todos os homens”. As jornalistas, no artigo resposta, chamaram ironicamente esse último comentário de “ainda mais iluminado”. Outro comentário ainda mostrou como o machismo entende a supremacia da masculinidade, unindo-se, em diversos casos, a homofobia, já que tudo o que é afeminado e feminino é considerado inferior: “o homem foi aniquilado por vocês, agora a virilidade virou crime”.

Foram proferidas também falas negativas se referindo às leis que protegem as mulheres na justiça: “os pais sofrem constantemente falsas acusações de mulheres que usam os filhos para extorquir dinheiro”, além de diminuir sempre a importância e veracidade da palavra feminina.

O artigo-resposta da redação encerra-se com uma frase válida para o mundo inteiro: “sim, o machismo é ainda um problema necessário de ser discutido”.