Jesualdo Farias: O Brasil regride

"Desde o início da crise econômica em 2014 e do aprofundamento da crise política em 2015, o Brasil acumula prejuízos irreversíveis, a médio prazo, que tendem a piorar ainda mais a produtividade e a competitividade de suas empresas. As Universidades e os Institutos Federais agonizam por falta de recursos. Os investimentos públicos federais em PD&I são os menores dos últimos 12 anos”.

Por *Jesualdo Farias

gráfico para queda de índices

Na primeira metade da década de 1960, a Coreia do Sul era um país pobre e a sua população acumulava a metade da renda dos brasileiros. Com um território inferior ao do Estado do Ceará e envolto em conflitos bélicos, só conquistou a democracia plena no fim da década de 1980 quando ocorreram as primeiras eleições diretas em 1987. Hoje é um dos países mais desenvolvidos do mundo. Com uma das mais avançadas infraestruturas do planeta, destaca-se na produção de aparelhos eletrônicos e na indústria naval.

A Coreia investe mais de 4,0% do seu PIB em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). A Alemanha e os Estados Unidos, por exemplo, investem pouco menos de 3,0%. O Brasil patina com investimentos em torno de 1,2% do PIB. No entanto, o que surpreende é que, nos países desenvolvidos, o investimento privado em PD&I oscila entre 60% e 80% do total, enquanto no Brasil o investimento continua sendo eminentemente público, ou seja, em torno de 60%. Isso representa aproximadamente 0,7% do PIB.

Criou-se uma dependência do poder público para alavancar este setor tão relevante para o desenvolvimento. Houve, como consequência, uma acomodação do setor privado que, ao investir muito pouco em PD&I, contribui com a redução da competitividade internacional nos colocando à frente apenas da Venezuela e da Mongólia, de acordo com levantamento recente realizado pelo instituto IMD da Suíça em parceria com a fundação Dom Cabral. São avaliadas a performance econômica, a eficiência de governo, a eficiência empresarial e a infraestrutura.

Desde o início da crise econômica em 2014 e do aprofundamento da crise política em 2015, o Brasil acumula prejuízos irreversíveis, a médio prazo, que tendem a piorar ainda mais a produtividade e a competitividade de suas empresas. As Universidades e os Institutos Federais agonizam por falta de recursos. Os investimentos públicos federais em PD&I são os menores dos últimos 12 anos. Enquanto isso, o País, atolado em escândalos, assiste em silêncio à fuga de pesquisadores talentosos que buscam financiamento para as suas pesquisas no Exterior.

*Jesualdo Farias é secretário estadual das Cidades e professor titular da UFC

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