Contag realiza ato pela valorização das agricultoras familiares

Reunidas no Seminário Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar da Contag, trabalhadoras rurais, realizaram um ato que reafirmou que o debate sobre o conceito da agricultura familiar, passa pela valorização e reconhecimento das agricultoras familiares na produção de alimentos saudáveis, como guardiãs das sementes e da biodiversidade, defensoras da agroecologia, da produção orgânica e do bem viver.

Contag realzia ato pela valorização das agricultoras familiares setembro de 2017 - Reprodução do Portal CTB

A atividade que reuniu mulheres e homens de diversas regiões do país, contou com uma grande ciranda e a leitura de uma carta escrita pela Comissão Nacional de Mulheres da Contag.

O evento, que reúne em média 300 dirigentes, em Brasília, conta com uma ampla participação da CTB, e encerra o ciclo dos cinco Seminários Regionais realizados nos últimos meses, para debater e aprovar a Resolução sobre Conceito de Agricultura Familiar para Representação pelo Sistema Confederativo Contag e temas como o Fundo de Amparo Social, Paridade e Cota Mínima de Mulheres, e Cota Mínima de Juventude.

Confira a íntegra da Carta Abaixo:

CARTA ABERTA DAS MULHERES TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORAS FAMILIARES AO MOVIMENTO SINDICAL

Nós, mulheres trabalhadoras rurais agricultoras familiares participantes do Conselho Deliberativo Ampliado, denominado Seminário Nacional sobre Desenvolvimento da Agricultura Familiar, realizado em Brasília, no período de 18 a 21 de setembro de 2017, afirmamos que o debate sobre o conceito da agricultura familiar, passa necessariamente pela nossa valorização e reconhecimento do nosso trabalho na produção de alimentos saudáveis, como guardiãs das sementes e da biodiversidade, defensoras da agroecologia, da produção orgânica e do bem viver.

A realização deste Conselho, que objetiva a construção de consenso em torno do conceito da agricultura familiar para fins da representação sindical, é um importante passo para a organização e fortalecimento do nosso sistema confederativo.

Entretanto, a discussão e pactuação dos marcos referenciais da agricultura familiar – baseados no tamanho do estabelecimento, na contratação de mão de obra, na composição da renda familiar, dentre outros – não devem prescindir do debate sobre as bases do desenvolvimento rural sustentável e solidário que defendemos para o Brasil.

Orientadas pelo acúmulo historicamente construído pelas mulheres do campo, da floresta e das águas, que se expressa desde as práticas cotidianas – na unidade de produção familiar e nos quintais produtivos – até as lutas coletivas fortalecidas pelas Marchas das Margaridas, queremos reafirmar a importância do movimento sindical assumir a agroecologia como referência para o fortalecimento da agricultura familiar.

A defesa e a promoção de práticas agroecológicas exigem tanto o manejo sustentável, baseado na diversificação e consórcio de culturas, livres de agrotóxicos e transgênicos, quanto mudanças no modo de vida e na construção de relações sociais justas e igualitárias. Assim, sob nossa ótica não há agroecologia sem feminismo, afinal, não basta respeitar o meio ambiente e diversidade de seres que habitam os solos e as águas, é preciso lutar contra todas as formas de opressão e violência, contra todo o machismo e racismo que ainda impacta sobre a vida das mulheres.

A atual conjuntura de desmonte dos direitos da classe trabalhadora e de criminalização dos movimentos sociais e sindicais exige-nos trilhar de forma ainda mais estratégica e combativa os rumos da ação e organização do sistema CONTAG. Por tudo isso, é preciso que a conceito de agricultura familiar, consensuado neste Conselho, esteja contextualizado nos princípios do PADRSS, guiando nossa luta em defesa:

• do direito à água e à terra, por meio da reforma agrária ampla e de qualidade e da demarcação dos territórios quilombolas e indígenas;
• da garantia de políticas de organização e comercialização, que contemple a diversidade regional e as mulheres;
• da soberania e segurança alimentar;
• da retomada da democracia;
• dos direitos sociais e políticas públicas contextualizadas pelas realidades e saberes produzidos nos territórios rurais;
• da superação das desigualdade entre homens e mulheres, nos âmbitos público e privado.
• do combate a todas as formas de violência, expressos nos conflitos agrários, no trabalho escravo e na violência contra as mulheres.

Comprometidas com estes princípios e bandeiras de luta, seguiremos firmes pelo fortalecimento da agricultura familiar e da agroecologia, valorizando o importante papel assumido, historicamente, por nós, mulheres, nessa caminhada.
Seguiremos na luta, até que todas sejamos livres.

Brasília, 20 de setembro de 2017.