Sintetizadores, violinos e outras combinações perdidas na URSS

Quando saem as listas das melhores bandas, músicos, cantores ou cantoras do mundo quase nunca se lembram de listar as bandas soviéticas e dos demais países socialistas do Leste Europeu. E não é por falta de qualidade. Certamente a mídia ocidental ignora os acontecimentos musicais daquela parte do planeta, sobretudo nos anos da União Soviética. Assim como faz com quase tudo que é produzido fora do eixo Europa Ocidental e Estados Unidos.

Por Thiago Cassis*

Sintetizadores soviéticos - Divulgação

De música clássica, a ritmos nativos, a música russa, e das demais repúblicas que compunham a URSS e os outros países do bloco, apresentam estilos muitos diversos e de qualidade. Mas aqui falaremos sobre bandas que ousavam e experimentavam em busca de novas texturas e sonoridades.

Para começar, um músico que angariou certa popularidade por lá, Edouard Artemiev, nascido em Novosibirsk. Se especializou em trilhas sonoras de filmes, e flertou muito com o progressivo eletrônico.

O álbum para o filme Siberiade

No disco que compartilhamos abaixo, composto para o filme produzido pela Mosfilm, Siberiade, de 1979, o músico aposta em ritmos acústicos e tradicionais no Lado A e experimenta com seus sintetizadores na segunda metade do álbum.

De Yekaterimburgo, na atual Rússia, vem a banda que pode causar algum estranhamento nos ouvidos mais convencionais. O Sonans, misturou ao rock progressivo a música clássica e de câmara. Deixaram apenas um EP registrado e suas composições trazem violinos, piano, sopros e violões. A banda era formada por estudantes universitários e iniciou suas produções em 1975.
Na sequência um pouco da experimentação do Sonans:

Para trazer os ouvidos para um ambiente mais convencional, e até porque não dizer um tanto pop, a banda Ariel, que viveu seus melhores anos durante os 70, e era liderada pelo músico Valery Yarushin, gravou boa parte de seus discos pela gravadora estatal Melodiya, e embora tentasse se aproximar do que era feito nos países pra lá da Alemanha Ocidental, eventualmente misturavam progressivo e folk, combinação usual entre bandas soviéticas do período. O Ariel foi formado em Tcheliabinsk (cidade próxima aos Montes Urais).

O disco abaixo, Russian Pictures, é de 1977.

Para finalizar viajamos para fora da URSS, mas sem sair da área de influência soviética e consequentemente da Revolução Russa. Da Tchecoslováquia, mais especificamente da capital Praga, vem o Marsyas, da excelente vocalista Zuzana Michnová. O trio gravou 5 álbuns entre 1978 e 89. Um elemento curioso dessa boa banda é a quantidade de instrumentos que utilizam em suas composições, com violão, guitarra, teclados, percussão, harmônica, violino, flauta e, ainda mais inusitado, até cuíca.

Vocalista do Marsyas, Zuzana Michnová

A música que selecionamos é Den s tebou, que encerra o bom disco de estreia da banda, intitulado Same.