Formação contra assédio sexual obrigatória para políticos nos EUA 

Dois membros do Congresso, um republicano e um democrata, foram acusados de abuso na câmara dos Estados Unidos. Após as denúnicas irem além de Hollywood e atingirem a política, a formação contra assédio sexual será obrigatória aos parlamentares, deixando a mensagem clara: assédio sexual não terá espaço 

Paul Ryan - Reuters

A onda de denúncias de assédio sexual nos Estados Unidos, com relatos de mulheres que sofreram o abuso de poder por parte de algum superior, também chegou aos políticos. As duas câmaras legislativas decidiram instituir uma formação obrigatória contra o assédio e a discriminação para todos os seus funcionários, em todos os níveis. O porta-voz da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, anunciou a medida na terça-feira (14), um dia depois de o Senado ter feito o mesmo.

A cultura de abuso do poder não conhece distinção entre os partidos. A congressista Jackie Speier, da Califórnia, afirmou em uma audiência nesta semana que “dois membros do Congresso, um republicano e um democrata, que estão no exercício de suas funções, praticaram assédio sexual”. Speier, democrata, afirmou, além disso, que alguns casos desse tipo foram solucionados com acordos de compensação pagos com dinheiro do contribuinte. Ela mesma relatou ter sido vítima de agressão por parte de um chefe de gabinete. No total, entre 1997 e 2016, a Câmara pagou até 15 milhões de dólares em consequência de denúncias de discriminação, mas sem distinguir os tipos. “Muitas de nós, no Congresso, sabemos do que se trata, pois o Congresso foi durante tempo demais um caldo de cultura de um ambiente de trabalho hostil”, disse Speier.

A republicana Barbara Comstock denunciou no mesmo foro que uma funcionária da Câmara deixou o emprego depois que um parlamentar lhe pediu que levasse alguns documentos à casa dele e apareceu ali nu. “O que nós estamos fazendo pelas mulheres que têm lidado com situações como essa?”, perguntou Comstock, eleita pela Virgínia.

A questão explosiva do assédio também chegou a Washington, como uma chaga antiga, um segredo de Polichinelo, que deixou de constituir um tabu nas últimas semanas. A partir do escândalo de Harvey Weinstein, poderoso produtor de Hollywood abatido por uma avalanche de denúncias, muitas mulheres de outros setores relataram experiências traumáticas, trazendo à tona a grande amplitude do hábito do abuso.

Os republicanos, concretamente, viveram uma crise em relação a isso no Alabama: Roy Moore, candidato a senador pelo Estado sulino, foi acusado por diversas mulheres de ter tentado abusar delas quando eram menores de idade. A primeira a denunciá-lo tinha 14 anos quando o suposto abuso aconteceu. O líder conservador no Senado, Mitch McConnell, e outros membros do partido, como Ryan, exigiram que ele renuncie.

Em nota, o líder republicano no Congresso assinalou que o objetivo dessas medidas contra o assédio “não é apenas conscientizar para o tema, mas deixar claro que o assédio sexual não tem espaço algum na instituição”.