Trabalhadores acompanham discussão sobre novo programa automotivo

Os trabalhadores acompanham atentamente o andamento das discussões sobre o Rota 2030, programa para o setor automobilístico que deve substituir o Inovar-Auto. O presidente do recém-criado Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento (TID-Brasil), Rafael Marques, considera fundamental garantir a manutenção de uma política industrial, ainda mais em um governo de visão "ultraliberal", como o atual. 

Industria automotiva - Agência Brasil

"Eu diria que é um suspiro de uma política industrial articulada", diz Rafael, também diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Na última terça-feira (14), Michel Temer recebeu representantes da indústria automobilística para discutir o assunto. "Não discutimos detalhes do programa, mas o que tem esboçado é que realmente os 30% (do IPI sobre os carros importados) caem e isso deverá ter alguma alíquota complementar da ordem de 10% ou 15%, que poderá ser anulada mediante compromisso que as empresas venham a fazer, mais ou menos nos moldes do Inovar-Auto”, disse à Agência Brasil o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antônio Megale.

O Inovar-Auto foi objeto de denúncia na Organização Mundial do Comércio (OMC), em parte por onerar produtos importados. Para Rafael, o programa foi importante para a indústria nacional, em um momento de "enxurrada" de carros internacionais no Brasil. "Se não tivesse Inovar-Auto, acho que estaríamos em uma situação mais difícil. O programa foi importante porque desenvolveu novas regiões, trouxe diversificação à indústria automotiva", avalia.

O câmbio desfavorável enfraqueceu o segmento de autopeças, que também passa por dificuldades estruturais, observa o dirigente, que fala de uma discussão, ainda incipiente, no Rota 2030, sobre um programa de desenvolvimento de fornecedores locais. Para fortalecer o setor produtivo, diz Rafael, é preciso garantir a formação de indústria articulada, o que inclui montadoras, autopeças, parque de ferramentaria, engenharia.

"Uma indústria completa, articulada, garante relevância no mercado global", afirma o presidente do TID-Brasil. "O mercado interno deve ser uma forma de também aumentar a complexidade de sua indústria, da economia."

Ele manifesta preocupação com a possível intenção do governo de apenas anunciar o programa após a conclusão de negociações com a União Europeia e com o Mercosul. "Seria ruim ter um vácuo", diz, lembrando que o Inovar-Auto termina no mês que vem.

Em setembro, o secretário de Desenvolvimento e Competitividade Industrial do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Igor Calvet, disse, também à Agência Brasil, que mesmo com problemas o programa – criado em boa parte com participação dos trabalhadores – foi positivo. "Nós temos, a partir do Inovar-Auto, uma grande capacidade produtiva de pelo menos 450 mil veículos por ano. Tivemos ampliação da produção, vários investimentos foram feitos, várias montadoras chegaram ao país, assim como laboratórios de pesquisa e outras coisas mais."

O TID-Brasil, criado há um mês, tem a preocupação de participar das discussões de diretrizes para o desenvolvimento da indústria brasileira, com fomento de pesquisa e desenvolvimento e medidas que levem à eficiência energética, preocupações do Inovar-Auto que devem se manter no Rota 2030. A entidade já acompanha debates que envolvem temas como relação com a China, União Europeia e Mercosul. "O governo precisa ter uma posição clara em defesa do parque industrial brasileiro", afirma Rafael, para quem também é preciso incluir novos temas na pauta sindical.

Ele chama a atenção para a importância de acompanhar as negociações econômicas internacionais, pelo impacto direto que isso tem na economia local. "A Austrália, quando fez acordo bilateral com a Tailândia, em menos de 15 anos acabou a indústria automobilística."