Temer ataca servidores para aprovar reforma da Previdência

O Palácio do Planalto vem tentando convencer a população de que o texto não retira o direito à aposentadoria. Veiculada nos meios de comunicação desde o dia 17 de novembro, a campanha publicitária, que custou R$ 20 milhões, ataca o que chama de “privilégios” dos servidores públicos e afirma que “tem muita gente no Brasil que trabalha pouco, ganha muito e se aposenta cedo”.

Jandira - Richard Silva/PCdoB na Câmara

“Desrespeitosa” e “mentirosa”, essas foram as palavras dos representantes de servidores públicos contrários à reforma da Previdência (PEC 287/16). Do lado de fora da Câmara dos Deputados, mais de mil manifestantes, entre lideranças sindicais, de luta por moradia e terra, protestaram contra o desmonte do sistema previdenciário na manhã desta terça-feira (28).

O salário e a aposentadoria dos servidores têm sido utilizados como bandeira de Temer, afirmando que a folha de pagamento onera o bolso dos contribuintes. A propaganda tende à criminalização do funcionalismo público. A estratégia é convencer parcela da classe média de que o Estado precisa enxugar sua máquina administrativa.

Toda esta movimentação do Planalto é para reverter o cenário de derrota da nova proposta de reforma, apresentada aos parlamentares da base em jantar oferecido por Michel Temer no dia 22 deste mês. A tática do governo parece não ter surtido ainda o efeito desejado. Segundo interlocutores, ainda não foram alcançados os 308 votos necessários para a aprovação.

A oposição comemora a pressão dos servidores públicos, aposentados e trabalhadores nos estados. Esta mobilização deve fazer a diferença na balança dos votos. Em reunião com os movimentos sociais nesta terça-feira (28), a vice-líder da Minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), disse ser decisiva a participação da sociedade nas bases dos deputados.

As bancadas contrárias às reformas do governo Temer se articulam para “tensionar” os discursos em Plenário, denunciando o que chamam de “manobra para enganar a população”. “Eles tentam passar a ideia de que melhoraram a reforma, reduzindo em quatro pontos o texto. Temos que construir uma forma de contrapor a desinformação difundida pelo governo”, salientou Feghali, para quem o papel da comunicação neste processo é “central”.

Na prática, a proposta ainda impõe a contribuição por 40 anos para ter direito à aposentadoria integral, além de cumprir a idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres, alertaram os deputados do PCdoB.

O discurso de fragilidade das contas públicas fica cada dia mais insustentável, por exemplo, frente aos benefícios ofertados ao agronegócio. O perdão de dívidas de quase R$ 20 bilhões, enviado ao Congresso Nacional através de medida provisória, apesar de derrotado, demonstra incoerência da equipe econômica de Temer.

Um alerta aos partidos da base, que correm atrás do prejuízo buscando apoio. Dentro do próprio PMDB, partido do presidente ilegítimo, os deputados demonstram temor com a exposição negativa em seus redutos eleitorais ao votar a favor da medida.

O Planalto trabalha hoje com pouca margem de manobra, largando com 251 votos para a reforma da Previdência, demonstra um estudo realizado pela MCM Consultores divulgado no site Infomoney. Para os dois turnos de votação na Câmara, os governistas precisam de uma faixa entre 315 e 320 votos. Por isso Temer avança na direção de 64 congressistas do PMDB, PR e PSD.

O objetivo da equipe econômica de Temer é garantir que o novo texto da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287/2016 seja aprovado no próximo dia 6 de dezembro pela maioria dos deputados.