Professores da Metodista são demitidos por perseguição política

A Universidade Metodista de São Paulo demitiu 60 professores em apenas uma semana. Sob justificativa de uma crise financeira na universidade, a real motivação para as demissões é política. A maioria dos demitidos participou de assembleias para debater atrasos no pagamento de salários, férias, 13º, FGTS e crescente acúmulo de débitos. Os cursos mais afetados pelas demissões são os de pós-graduação.

Por Verônica Lugarini*

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Os desligamentos dos professores começaram a acontecer na última semana (07), meses depois que o novo reitor, o professor Paulo Borges Campos Júnior, assumiu em abril deste ano juntamente com o atual diretor da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades, Kléber Nogueira Carrilho e Adriana de Azevedo, coordenadora do curso de Pós-Graduação.

A nova gestão da universidade, que encabeçou as demissões em massa, usou como justificativa a crise econômica que afeta o país e consequentemente a instituição, tornando necessárias as demissões. Porém, grande parte dos docentes demitidos participavam de assembleias e movimentos contra o atraso dos pagamentos, 13º, férias e FGTS. O que indica perseguição política, já que os professores demitidos não tinham os salários mais altos, mas sim, ligação com as reivindicações pelos direitos trabalhistas.

“Muitas das demissões não tiveram justificativa, no meu caso ela foi política. E temos outros exemplos, o professor José Salvador Faro – que era um dos participantes que tentavam diálogo com a universidade para a tratativa dos pagamentos – também foi demitido. Tentamos diversas vezes dialogar [com a instituição] para ter mais transparência nas contas da universidade. Até agora nós não sabemos a extensão dos problemas financeiros e não sabemos o projeto de universidade que será implementada a partir das demissões. O próprio Sindicato dos Professores do ABC (Sinpro ABC) tentou negociar na com a Metodista sobre a situação há pouco tempo, mas nenhum representante da universidade apareceu neste último encontro”, explicou a professora doutora Marli dos Santos, que estava na Metodista há 19 anos, lecionava na graduação, coordenava o programa de pós-graduação, atuava em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e atual pesquisadora da FAPESP.

“Além da universidade, o Colégio Metodista também teve nesta quinta-feira (15) a demissão de 15 professores com a mesma alegação de problemas financeiros, mas desconhecemos efetivamente essas contas e os problemas porque o diálogo não foi propiciado”, informou Marli em entrevista ao Portal Vermelho.

Segundo o Sindicato dos Professores do ABC (Sinpro ABC), o descompromisso com os salários acontece desde 2015. Apesar das tentativas de negociação, a universidade não tomou nenhuma providência e não manteve o diálogo. Por isso, os professores tomaram a decisão em uma assembleia de judicializar essas questões.

Segundo a Cristiane Gandolfi, diretora do Sinpro ABC e professora do curso de pedagogia da UNESP, foi com essa ação que a situação se radicalizou e então se tornou também uma questão política. E agora, o principal objetivo do sindicato é “readmissão já. Não às demissões políticas”
“Agora o nosso objetivo é a readmissão, tanto que estamos organizando uma audiência pública na Alesp, na próxima quarta (20) às 19h30. Enquanto isso, já pedimos uma audiência para conversa com o reitor e tentar rever as demissões”, falou a diretora ao Portal Vermelho.

Os cursos mais afetados pelas demissões serão os de pós-graduação. Já as áreas de estudo mais afetadas serão comunicação, educação, psicologia e administração.

Além das demissões em massa, houve também a redução da carga horária de diversos professores, em até 50% de horas aula, o que afetará na pesquisa e qualidade.

Alunos afetados

Após os desligamentos, mais de 60 alunos ficaram sem orientadores para os trabalhos de conclusão de curso. Houve, inclusive, uma banca de TCC que foi cancelada no dia da apresentação, apenas algumas horas antes.

“Deixar alunos sem orientadores para os trabalhos de conclusão é muito grave. Há uma aluna que está em Portugal, em fase de finalização do estudo, mas ficou sem orientadora. Os alunos escolhem os orientadores por seu currículo e pelo seu vínculo afetivo também. Os estudantes que não estão no último ano optaram por grade de disciplina que provavelmente não será cumprida. Os alunos estão indignados com todo o processo que vem acontecendo na gestão”, explicou Marli dos Santos.

Em meio aos acontecimentos, diversos estudantes se reuniram em frente da universidade para manifestar contra as demissões.

“Nós, os professores demitidos, estamos muito sensibilizados com essa manifestação e o posicionamento dos alunos. Todo o apoio tem sido fundamental para lutar pela democracia, diálogo e pela educação de qualidade, já as demissões foram políticas”, finalizou Marli.

Sucateamento da educação

Marli lamentou o desmonte da universidade. Ela foi aluna da Metodista nos anos 80 e pontuou que os atuais gestores não fazem jus ao que a instituição representa.

“A Metodista é uma universidade privada, mas também comunitária em sua proposta e que tem uma missão. E não esperávamos isso da Metodista. Outras instituições têm se aproveitado da reforma trabalhista para fazer demissões, afetando assim, a qualidade de ensino”.

“Educação se faz com professor em sala de aula e a sociedade precisa se manifestar sobre isso. Também precisamos preservar os trabalhadores, não pode ser ‘entra em crise e corta trabalhador”, finalizou Cristiane.

Confira abaixo mais fotos do ano desta quinta-feira (14):

Fotos por: Jennefer Andrade