Administração Trump veta uso de palavras em relatórios de saúde 

Trump proíbe uso das palavras “transgênero” e “feto” em relatórios de saúde; o Centro de Controle de Doenças também não poderá usar palavras como “diversidade” ou “vulnerável”, nem expressões como “baseado em dados científicos”. A restrição da linguagem obedecendo às normas da ideologia conservadora 

Sede da CDC em Atlânta - Reuters

O Governo de Donald Trump voltou a gerar polêmica nesta semana ao proibir o uso das palavras “transgênero” e “feto” nos relatórios do Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês), o mais importante órgão de saúde pública nos Estados Unidos. Os analistas tampouco poderão empregar termos como “diversidade” e “vulnerável”, nem expressões como “baseado em provas” ou “baseado em dados científicos” para explicar as tendências da saúde pública no país. A ordem representa uma guinada conservadora na definição e na narrativa de assuntos como o aborto e orientação sexual, algo que a Casa Branca já impulsionou em outras áreas da Administração.

Apesar de apresentar alternativas linguísticas para alguns desses termos, na prática o Executivo altera o discurso público sobre assuntos que motivam grande divisão social entre os norte-americanos. Não se sabe o motivo que levou as autoridades a eliminarem essa terminologia da esfera da saúde pública.

Em vez de utilizar a expressão “baseado em dados científicos”, os analistas do CDC deverão afirmar que o “CDC baseia suas recomendações em dados científicos, bem como considerando os padrões e desejos das comunidades sociais”. O Governo Trump, cuja agência ambiental é comandada por um cético da mudança climática e dos efeitos humanos sobre a deterioração do planeta, menospreza com esse gesto a força de um dado científico e empírico.

Desde a posse de Trump como presidente, vários órgãos de Governo dos EUA alteraram sua maneira de se referir a assuntos sensíveis, principalmente o aborto, a orientação sexual e a identificação de gênero de uma pessoa. O Departamento de Saúde eliminou do seu site informações voltadas para o coletivo LGTB, como os serviços oferecidos a portadores de necessidades especiais ou orientações para que vítimas de tráfico sexual peçam socorro. O presidente também tentou barrar a entrada de indivíduos transgênero no Exército, mas nesta semana a Justiça bloqueou a medida.

Polêmicas e intenções à parte, a proibição dessas palavras gera o risco de ambiguidades, pois o CDC realiza numerosos estudos sobre a prevenção de enfermidades de transmissão sexual, o HIV (AIDS), a hepatite e a tuberculose. Algumas dessas doenças incidem com especial força sobre coletivos como as pessoas transgênero. O uso da palavra feto, outro termo apagado por Trump, foi frequente nas pesquisas do CDC sobre o vírus Zika.

Em outros departamentos, como a Agência de Proteção Ambiental (EPA), a informação relativa ao aquecimento global foi retirada do site, assim como links com material útil para Governos locais que queriam aprender sobre a mudança climática. Há alguns meses, o Governo Trump retirou os EUA do Acordo de Paris, fazendo desta a única nação industrializada a não subscrever os esforços para frear as emissões de dióxido de carbono.