Celina Arêas: Agenda nacional para combater desigualdade de gênero

Em entrevista à Revista Mulher de Classe, a secretária da Mulher Trabalhadora da CTB, Celina Arêas, faz amplo balnaço da conjuntuar e dos desafios da luta pelo igualdade de gênero em uma conjuntura de retrocessos.

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Acompanhe íntegra da entrevista:

Quantas mulheres de luta são necessárias para a igualdade de gênero ser alcançada?, pergunta a dirigente sindical Celina Arêas, nova secretária da Mulher da CTB no triênio 2017-2021. A professora mineira iniciou sua atuação sindical no Sindicato dos Professores de Minas Gerais e ajudou a fundar a CTB em Belo Horizonte, em 2007. Já foi secretária de Formação e Cultura e agora assume esse novo desafio em tempos de grandes retrocessos. Foi em Rubim, interior de Minas, que ela iniciou a sua atividade política e também a vida profissional como professora primária. Já participava de movimentos em defesa da educação pública, gratuita, laica e de qualidade. Mais tarde mudou-se para Belo Horizonte, onde fez curso universitário, sem abandonar a militância no movimento estudantil. Depois de formada, passou a atuar no movimento de professores da rede pública e do setor privado. Fez parte da direção do Sindicato dos Professores de Minas Gerais e foi eleita presidenta por duas gestões. “Um dos princípios da nossa central é a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. Apesar do caos em que vivemos no Brasil hoje, tenho certeza de que avançaremos no trabalho iniciado pelas mulheres guerreiras, secretárias da Mulher Trabalhadora da CTB”, diz.

Mulher de Classe: Qual o maior desafio de assumir a secretaria num momento de forte ofensiva conservadora?

Celina Arêas: Assumir a Secretária da Mulher Trabalhadora numa conjuntura tão imprevisível, instável e incerta nos incentiva a ampliar a luta em defesa da democracia, de um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho e entender que é dura a luta de classe pelas mudanças nas relações de produção. O movimento específico das mulheres pela emancipação deve atuar tendo a política como orientadora.

Como avalia a luta por igualdade de gênero no país hoje?

2017 foi um ano contraditório, de derrotas no campo social e progressista. E também o ano em que comemoramos 100 anos da primeira greve no Brasil e da Revolução Russa, acontecimentos fundamentais para a história, nos quais as mulheres tiveram protagonismo. Também em 2017, completam-se 10 anos que, pela primeira vez, cria-se no Brasil, uma central sindical que carrega no seu nome mais da metade da população e mais de 48% do mercado de trabalho: a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Como um dos princípios da nossa central temos a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. Apesar do caos em que vivemos no Brasil hoje, tenho certeza de que avançaremos no trabalho iniciado pelas mulheres guerreiras, secretárias da Mulher Trabalhadora da CTB: Abgail Pereira, Raimunda Gomes (Doquinha) e Ivânia Pereira. Trabalharemos para ampliar a participação das mulheres nos centros de decisão e do poder político no movimento sindical e em todas as esferas de atuação.

O golpe contra a democracia, que afastou a presidenta Dilma Rousseff, dificultou a vida das mulheres?

Entendemos que o golpe não foi contra a presidenta Dilma. O golpe foi contra um projeto que pensava um Brasil mais justo com aprofundamento na democracia, na soberania e nos direitos sociais. Nesse período, houve avanço na educação, na saúde, mais pessoas saíram da extrema miséria e aumentou a presença do Estado nas políticas sociais. A presidenta representava esse projeto. Programaram um consórcio parlamentar, jurídico e do capital financeiro para retirar a primeira mulher reeleita democraticamente. Em menos de dois anos, o Brasil só acumula desastres: retirada de direitos, entrega do nosso patrimônio e crise em todos os setores. Ataque às leis trabalhistas, à Constituição Federal e às mais importantes conquistas do povo brasileiro.

O que o movimento sindical deve fazer para massificar o debate das questões de gênero, mesmo em meio a tantos ataques?

Penso que o movimento sindical deve sair da teoria e ir para a prática. Assumir como de todo o movimento sindical as principais bandeiras de luta relacionadas com a questão fundamental da emancipação da mulher: realidade da mulher no mercado de trabalho, o problema da violência contra a mulher, defesa de políticas públicas e sobretudo a participação da mulher trabalhadora nos espaços de poder no movimento sindical.

As mulheres são mais da metade da população, mesmo assim têm cerca de 10% do Congresso e poucas têm presença nos executivos estaduais e municipais. Como mudar essa situação?

Infelizmente, essa é uma realidade cruel em todas as instâncias: partidos políticos, movimento sindical, Poder Executivo, Legislativo (federal, estaduais e municipais) e Judiciário. Somos da opinião de que não basta ser mulher: precisa ser de classe. Ter consciência de que pertence à classe trabalhadora. Uma das necessidades imprescindíveis é a formação político-sindical-ideológica das mulheres para se convencerem de que são capazes de assumir qualquer espaço de poder.

Quais os planos da Secretaria da Mulher Trabalhadora para os próximos anos?

O movimento sindical passa por um momento muito crítico. Esse governo golpista sabe qual o papel do movimento sindical no enfrentamento do golpe e ataca todos os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras e tenta calar o movimento sindical com a retirada do sustento financeiro. Isso tem consequência no planejamento que a Secretaria da Mulher Trabalhadora precisa colocar em prática. Enfrentaremos com coragem e disposição para vencer essa dura realidade.

Quais as prioridades?

Uma das prioridades da secretaria é estar mais próxima das secretárias estaduais e fazer um planejamento nacional. Tenho certeza de que a partir da organização das mulheres nos estados, avançaremos na nossa organização e na luta pela igualdade de gênero. Uma deliberação importante foi o Congresso da CTB aprovar a criação da Secretaria Adjunta da Mulher Trabalhadora, ocupada por uma companheira rural para que a unidade do campo e da cidade se dê também em relação às mulheres.