BC prevê 2018 cor de rosa, mas números e política o confrontam

Banco Central prevê alta de 2,6% no PIB e nova queda da desocupação. Porém, e a renda e a qualidade do emprego e de vida dos trabalhadores?

Meireles e Goldfajn - Foto: Antônio Cruz Agência Brasil

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, está otimista. Vê um 2017 “positivo”, graças a uma “combinação rara”. A queda acentuada da inflação e dos juros estimulou o consumo e este empurra a economia. Daí o horizonte para 2018 ser favorável, com o banqueiro a enxergar menos desemprego e aceleração do PIB, conforme disse em recente entrevista coletiva de balanço de 2017.

Embalado pelo cenário róseo traçado no BC, com o qual está plenamente de acordo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anima-se em seus planos presidenciais. A propaganda partidária de seu PSD a ser televisada na quinta-feira 21 teria ele como estrela, a pregar o reencontro do Brasil com a “prosperidade”.

Mas será que há hoje – e haverá em 2018 – “prosperidade”, ao menos para o cidadão comum? Na política, entre opositores do governo Michel Temer, e na economia, existem céticos. E diante de certas estatísticas, não dá para ficar lá muito otimista com a velocidade e qualidade dos rumos econômicos. E dá para desconfiar: a vida do brasileiro vai melhorar?

“Antes de 2018, há o legado de 2017, de crescimento muito baixo. Crescer em 2018 de 2% a 3% também é pouco, depois de dois anos de recessão (2015 e 2016) e do resultado de 2017”, diz o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. “Nossa economia ainda não recuperou o dinamismo.”

Para 2017, o BC aponta uma expansão do PIB de 1%, conforme seu último relatório trimestral de inflação do ano, divulgado na quinta-feira 21. Para 2018, 2,6%. Na inflação, o resultado deve ser de 2,8%, abaixo da meta oficial, de 3%. No eleitoral ano de 2018, o índice sobe e deve ficar em 4,2%.

Para a queda da inflação, afirma Perfeito, deve-se agradecer à natureza, não ao governo ou ao BC. É consequência, diz, sobretudo da supersafra agrícola deste ano, que derrubou o preço da comida. “O que parece positivo não tem a ver com o que foi feito pelo governo.”

Goldfajn também aponta expectativas promissoras no mercado de trabalho. Neste ano, comentou ele na entrevista coletiva de balanço de fim de ano, houve 1,3 milhões de novas vagas, sendo 200 mil com carteira assinada. Motivo de comemoração?

Antes de as vagas surgirem, o governo Temer acumulou cerca de 3 milhões de desempregados, entre maio de 2016, mês em que o peemedebista assumiu o poder, e março deste ano. O primeiro trimestre de 2017 foi o de maior desemprego da história do País, com 14 milhões de pessoas atingidas e uma taxa oficial de desocupação de 13,7%. A criação de 200 mil vagas formais mostra que o grosso dos postos de trabalho era informal, emprego de pior qualidade e remuneração.

No trimestre encerrado em outubro, informou recentemente o IBGE, o desemprego era de 12,2% e vitimava 12,7 milhões. Tem caído graças à informalidade, como o aumento do batalhão de domésticas. Do trimestre terminado em julho para o terminado em outubro, o mercado de trabalho ganhou 868 mil pessoas, das quais 87% em vagas informais.

O avanço da informalidade se reflete no bolso. A renda média dos trabalhadores no trimestre encerrado em outubro era de 2,127 mil reais mensais. Uma alta de 2,5% em relação ao trimestre anterior, variação que para o IBGE é “estabilidade”. Idem na comparação com o trimestre terminado em outubro de 2016, de aumento de 0,4%.

“A economia vai melhorar em 2018, mas não na vida real das pessoas. O governo vai gastar muito dinheiro com propaganda para mostrar que a situação está melhor, mas há limites para convencer as pessoas”, diz Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Luiz Inácio Lula da Silva durante oito anos de Presidência dele. “O Lula salvou-se no ‘mensalão’ por isso: as pessoas sentiam que estavam melhor de vida, com emprego e renda. Agora a reforma trabalhista vai gerar precarização, não emprego.”

“A reforma trabalhista é objeto de uma ideia tola. Ela não cria vagas, ela diminui as barreiras às contratações e demissões, e com isso pode gerar mais eficiência produtiva”, explica André Perfeito. “É provável que o desemprego não caia muito em 2018, só se aumentar a informalidade.”

Pobreza no Brasil

Segundo a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE, 25% da população vive na pobreza (Pixabay)
Uma perspectiva ruim em um País dono de uma desigualdade indecente. Em 2016, 10% da população ficou com 43% da massa de rendimentos mensais per capita, conforme relatório divulgado no fim de novembro pelo IBGE, a esmiuçar os dados sobre renda contidos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2016.

Em meados de dezembro, outro documento do IBGE reforçou a fotografia da histórica desigualdade nacional. Na “Síntese dos Indicadores Sociais 2017”, vê-se que o Brasil tem 25% da população a viver na pobreza, pelo critério difundido pelo Banco Mundial, de que é pobre todo mundo que vive com menos de 5,5 dólares por dia (uns 387 reais mensais).

Pelo critério adotado em um programa federal do governo Dilma Rousseff, o Brasil Sem Miséria, o quadro é algo menos alarmante. A pobreza seria caracterizada por uma renda de 170 reais mensais e a miséria, por uma de 85 reais. Neste caso, a pobreza brasileira seria de 4,2% em 2016, não de 25%.