Adriano e o fim do império

"Jogadores não costumam admitir que o fim chegou. Muito menos aquele que um dia foi dono de um império".

Adriano Imperador

Adriano deixou o futebol em 2014 depois de passagem frustrada pelo Corinthians e espasmos em outros clubes. Seu último momento de glória, quando jogou em alto nível, se deu em 2009 no Flamengo na conquista do Brasileirão. De lá até hoje tem acalentado torcedores e fãs com uma volta quase impossível. Insistir no renascimento é quase um acinte, é iludir flamenguistas que ainda veneram o Imperador.

“Ele que vai decidir. Pela qualidade técnica, tem. Pelo artilheiro que é, tem. Tem que ver a parte física, se está em condições de superar isso. Quando você tem lesão de tendão de Aquiles, tem que ficar atento. (…) É um jogador que vai ser muito exigido. Tem de entender isso, não é um jogador qualquer. Se voltar a jogar, o pessoal quer que decida, faça gols e conquista títulos. Acostumou o torcedor com isso”.

A sentença acima é de Zico, ídolo e autoridade quando o assunto é Flamengo, em entrevista nesta quarta-feira (27/12), após o tradicional jogo “Amigos de Zico” no Maracanã. Detalhe: Adriano chegou atrasado para o evento, jogou mais de 30 minutos e foi ovacionado pela torcida, maioria esmagadora de flamenguistas.

Esta ode no Maracanã foi mais uma em direção à volta de Adriano. O atacante parece inebriado diante de apelos constantes para recuperar o império perdido. Entende que tem condições de voltar a ser o que era. Mesmo diante de alertas, como o de Zico, não esmorece. Conta a favor do Imperador a benevolência do Flamengo, que abre suas portas ao Imperador, desde que consiga provar que ainda pode ser um jogador profissional. É a mesma decisão do Grêmio, cada vez mais com jeito de clínica de recuperação de jogadores encostados.

O problema é este. Adriano está com 35 anos. Há quase oito anos não segue uma rotina de atleta. A recuperação da lesão do tendão de Aquiles, segundo manifestações de especialistas pela imprensa, não teria sido adequada. Um prejuízo irrecuperável. Dúvidas sobrepõem às certezas a respeito da volta ao futebol.

Ibrahimovic, parceiro de Adriano na Inter de Milão no auge da carreira do Imperador, deu a letra ao falar que o atacante entrou em depressão ao receber a notícia de morte de seu pai e não se recuperou mais.

“Quando ele recebeu o telefonema sobre a morte do seu pai (em 2001), nós estávamos no quarto. Ele bateu o telefone e começou a gritar de um jeito que ninguém poderia imaginar. Isso me arrepia ainda hoje. A partir daquele dia, Massimo Moratti (ex-presidente da Inter) e eu tratamos ele como um irmão mais novo. Ele continuou a jogar futebol, fazer gols e dedicá-los a seu pai apontando para o céu. Mas depois daquele telefonema, nada foi como era antes.”

Zanetti, lateral da Inter de Milão naquela época, endossou o sentimento de Ibrahimovic:

“Quando ele marcou aquele gol no Real Madrid (de falta, em 2001), eu disse a mim mesmo que nós tínhamos encontrado o novo Ronaldo. Uma noite, Ivan Córdoba (zagueiro colombiano da Inter) dividiu quarto com Adriano e lhe disse que ele era uma mistura de Ronaldo Fenômeno e Zlatan Ibrahimovic e perguntou se ele estava consciente de que se tornaria o melhor do mundo. Nós não fomos capazes de tirá-lo do túnel da depressão. Essa foi minha maior derrota, eu me senti impotente“, revelou Zanetti.

Diante de testemunhos de jogadores importantes, de gente que conviveu com Adriano, fica difícil acreditar que o jogador, ou o ex-jogador, possa voltar a ser um atleta profissional. Nada caminha para esse lado.

Jogadores não costumam admitir que o fim chegou. Muito menos aquele que um dia foi dono de um império.