A semana decisiva para o governo alemão

No domingo (7) iniciaram os cinco dias de negociações entre a União Democrática Cristã (CDU), da primeira-ministra Angela Merkel, e o de centro-esquerda Partido Social Democrata (SPD), de Martin Schulz, com o objetivo de formar uma coalização para governar a Alemanha

Por Alessandra Monterastelli *

Angela Merkel e Martin Schulz - Reuters

Os líderes de ambos os partidos se mostraram positivos, ainda que cautelosos: Merkel declarou que muito trabalho deve ser feito, mas que os resultados podem dar certo. Todos repetiram que a nova “grande coligação” não pode ser apenas uma reedição da anterior – uma vez que nas eleições de 2017 ambos os partidos (que formavam uma aliança) sofreram uma grande perda de seus eleitores, conquistando apenas 53,4% dos votos (contra 67% conquistados em 2013).

Esse tipo de coligação implica a necessidade de consensos entre os dois blocos de partidos, dando a ideia de que não há posições políticas diferentes entre ambos, diminuindo a atuação de oposição. Além disso, como relembra uma análise do jornal Público, com o estilo de administração de Merkel, mais voltada aos consensos e ao pragmatismo, os últimos anos de governo foram vistos por muitos quase como um executivo de gestão, sem grandes reformas. Ainda assim, a economia continua a dar notícias positivas e na semana passada a Alemanha registou mais um recorde de baixo desemprego, o que explicaria, por exemplo, a reeleição da ministra.

Angela Merkel foi reeleita, mas com pouquíssimas cadeiras no parlamento (seu partido teve o pior resultado desde 1949), enquanto que os sociais-democratas foram os maiores perdedores: saíram com 20% dos votos, o seu pior resultado após a Segunda Guerra Mundial. Assim, não é motivo de espanto a preocupação de Schulz em continuar a aliança com a CDU. Análises feitas no período pós-resultado das eleições argumentavam que os eleitores alemães estavam insatisfeitos com o posicionamento do SPD, especialmente quanto a resolução de suas propostas de campanha. Logo após o resultado, Schulz anunciou que seu partido voltaria para a oposição.

Decisão que teve que ser repensada, uma vez que a Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita, obteve 13% dos votos e voltou a ter espaço no parlamento pela primeira vez após o fim do nazismo no país. Merkel está evitando uma aliança com a xenofóbica AfD, mas anunciar a nova organização do governo, necessária para governar, torna-se urgente. Daí as negociações entre os dois maiores partidos para a renovação da “grande coligação”, mas ainda, com cautela: Schulz pareceu exigir políticas de esquerda para que haja um possível acordo; isso seria explicado pelo pedido do SPD de comandar o Ministério das Finanças no governo de coalização, caso ele se formasse. O principal receio do SPD é tomar decisões que ponham ainda mais em risco a sua identidade de partido de centro-esquerda.

Riscos e possibilidades

Como noticiou o Público e a mídia alemã, os sociais-democratas têm falado muito da possibilidade de dar apenas apoio parlamentar a um governo minoritário, da CDU/CSU ou CDU/CSU e Verdes – hipótese amplamente descartada por Merkel, que nesse caso declarou preferir eleições antecipadas.

Qualquer um desses dois cenários – governo minoritário ou eleições antecipadas depois de um fracasso para formar o executivo – seria inédito e permitiria que a AfD reivindicasse vitória, já que foi a sua entrada no parlamento que dificultou a formação de um governo.

O prazo máximo estabelecido para a conclusão das negociações e a divulgação de um possível governo foi a Páscoa, que nesse ano será no dia 1º de abril. Os partidos concordaram em não dar informações à mídia até o termino da discussão, na próxima quinta-feira (11).