O plano B da Lava Jato

Por Geraldo Galindo*

 

Muito se tem especulado, principalmente depois da farsa do julgamento de Lula no TRF-4, sobre qual seria o plano B do PT na eventualidade do impedimento da candidatura de Lula. Existem opiniões divergentes sobre a tática a ser trilhada a partir da condenação do ex-presidente, e é natural que assim seja, diante da complexidade do momento político que atravessamos. Não há saída fácil, simples. O implacável cerco judicial, policial e midiático contra Lula parece querer levar às últimas consequências o plano de desmoralizá-lo, humilhá-lo, impedi-lo. Dessa forma, na visão dos golpistas, estaria facilitado o plano de continuidade do golpe iniciado com a deposição ilegal da presidenta Dilma.

As forças progressistas e democráticas, se não têm unidade sobre os caminhos a seguir, têm pelo menos a compreensão do que está em curso. O estado brasileiro foi capturado por grupos elitistas e conservadores no judiciário, no Ministério Público e na Polícia Federal, que atuam em indecorosa parceria com as Organizações Globo. Sintonizados com os interesses antinacionais, esse consórcio usa as instituições para perseguir adversários políticos e proteger correligionários, mesmo que possam eventualmente descartar alguns de seus parceiros de caminhada, como Eduardo Cunha, para dar o ar de imparcialidade.

O objetivo desses fundamentalistas é claro: alijar a esquerda da eleição de 2018 e assegurar a vitória de um candidato do “mercado”, para continuar a devastação dos direitos sociais e solapar o que resta de soberania nacional. Para tanto, rompem com as regras asseguradas na constituição e criam inovações não constantes de nosso arcabouço jurídico. Fazendo o serviço sujo que o “mercado” lhes reserva, essa casta tem como contrapartida manter seus enormes privilégios como supersalários acima da lei, farras de diárias, palestras no horário do expediente, imorais auxílios-moradia, especialização, creche, educação etc. Somando esses penduricalhos, muitos deles formam massa salarial de R$100, R$150 mil reais mensais, se configurando, no caso do judiciário e do MP, os mais caros do mundo. Hoje (29/01) foi divulgado que o juiz Marcelo Bretas (Lava Jato-RJ), o cristão que tira fotos armado com fuzil, recebe auxílio-moradia (R$4.300,00 mensais), mesmo tendo apartamento próprio e a esposa, também juíza, é beneficiária da mesma regalia. São esses falsos moralistas que querem empurrar para a sociedade a imagem de combatentes da corrupção. Somente com auxílio-moradia, esses paladinos da moralidade consomem dos cofres públicos cerca de R$8bi (em cinco anos), quase três vezes a mais do que os procuradores anunciam ter repatriado aos cofres públicos na operação Lava Jato. Resumindo: para supostamente combater a corrupção, essa minúscula elite do aparato estatal saqueia os cofres públicos para se enriquecer através de artifícios jurídicos imorais e muitas vezes ilegais, tudo isso com a conivência da OAB, com a complacência dos meios de comunicação, seus fiéis escudeiros, e a benevolência dos CNJ, STJ e STF.

E qual seria o plano B da Lava Jato/Globo? Antes é bom lembrar que a turma de procuradores e policiais federais, bem como seu líder maior, a abjeta figura do juiz tucano Sérgio Moro, atuaram partidariamente nas duas últimas eleições, sempre organizando operações espetaculosas no período da campanha para detonar a esquerda e assim favorecer os candidatos amigos. Aliás, muitos deles, sem nenhuma compostura, usaram e usam as redes sociais para acintosamente declarar simpatia aos candidatos e amigos do PSDB, com quem pousam para fotos, participam de eventos juntos etc. Quase todos eles fizeram campanha aberta ou velada para Aécio Neves, em nome do “combate a corrupção”. Delegados da Polícia Federal em Curitiba, desavergonhadamente, funcionaram como autênticos cabos eleitorais do “honrado” senador mineiro.

Feita essa premissa, deve ficar muito claro para nós da esquerda que esse aparato estará de prontidão para ser usado novamente na próxima eleição e em outras vindouras, caso esse monstrengo de características fascistas não seja desmantelado. Devemos reparar que a cada ano um desses venais procuradores anuncia o fim da Lava Jato para o ano seguinte, e no ano seguinte dizem a mesma coisa. A direita brasileira não pode mais prescindir desse instrumento poderoso de arma política e eleitoral e assim, não se vislumbra o fim dessa aberração no curto prazo.

Se o plano A da Lava Jato é tornar Lula inelegível e colocá-lo atrás das grades, o plano B seria inviabilizar qualquer candidatura do campo da esquerda com a repetição do uso de suas espalhafatosas ações, divulgadas em cadeia nacional da mídia a seu dispor, tachando um novo nome de corrupto, chefe de quadrilha, de organização criminosa etc. Qualquer que seja a alternativa que crie as condições de se viabilizar sem a candidatura de Lula, a tropa de choque dos procuradores, policiais e juízes, irá pra cima. Na lógica deles, depois de derrubar Dilma e retirar Lula da disputa, não é aceitável que surja um “intruso” para melar os planos da Casa Grande, de quem são obedientes serviçais.

Não à toa que um dos nomes mais lembrados para uma candidatura do PT em alternativa a Lula, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, foi indiciado por caixa dois pela Polícia Federal no dia 15 de Janeiro deste ano, sem nenhuma base jurídica, apenas como arma política. Ali, os golpistas, pouco dias antes do jogo de cartas marcadas em Porto Alegre, mandaram um recado claro para reiterar o que pretendem: qualquer nome para substituir Lula, no PT ou outro progressista, será alvo da mesma artilharia pesada que eles vêm usando para demonizar a esquerda e garantir a segurança para aqueles – seus verdadeiros patrões – que auferem indecentes lucros na especulação e no rentismo. Enquanto as denúncias contra o PSDB vão sendo arquivadas e os comprovados crimes tucanos sendo prescritos, eles abrem processos e mais processos contra dezenas e dezenas de líderes da esquerda. A essa altura, faltando oito meses para a eleição presidencial, a tropa de choque da Lava Jato já deve ter dossiês bem elaborados contra todas as principais lideranças de nosso bloco, que poderiam vir a ser uma opção ao nome de Lula. Não é necessário ter provas contra nenhum, o grupo as forja. E é muito simples, pois a receita já existe e funciona: basta chantagear delatores com tortura psicológica (ameaças de 20, 30 anos de prisão), os obrigarem a delatar (mentir) e pronto, pelos novos manuais do direito brasileiro, a denúncia está comprovada. E se delatar Aécio ou Temer, o delator será repreendido, é claro. Como diz o Mussolini do Paraná, não vem ao caso.

Os que lutam por democracia e liberdade não aceitam conviver na disputa política com regras fora da institucionalidade, com o estado de exceção atropelando o estado de direito. Enfrentar os grupos que se apoderaram dessas corporações, denunciá-los permanentemente, sem vacilação, é tarefa de cada militante da causa. Nunca teremos democracia, mesmo em se tratando da deformada democracia burguesa, com figuras não referendadas pelo voto popular atuando por fora da legalidade e ditando os destinos do país. Nem com plano A, nem com o plano B.

*Geraldo Galindo é secretário de comunicação do PCdoB – Bahia.