O Facebook e o dilema do ovo e a galinha 

O Facebook encontra-se capturado pelo clássico enigma do ovo e da galinha: o que veio primeiro, as mudanças nas prioridades dentro do news feed ou o engajamento dos usuários que vem se deslocando?

Por Christine Schmidt *

Mark Zuckerberg, proprietário do Instagram

Enquanto Mark Zuckerberg celebrava a diminuição de tempo que usuários passavam em sua plataforma, o 1º relatório de ganhos desde que o Facebook anunciou suas mudanças de rebaixamento de marcas e editoras no news feed mostrou também que a empresa perdeu usuários diários na América do Norte pela 1ª vez em sua história. Será isso um sinal de que suas mudanças no news feed efetivamente aumentaram o número de interações mais significativas, ou será que os usuários já estavam tomando a direção contrária?


Número de usuários do Facebook nos EUA e no Canadá cai pela primeira fez na história 

“No total, fizemos mudanças que reduziram o tempo gasto no Facebook em cerca de 50 milhões de horas todo dia. Ao focar em conexões mais significativas, nossas comunidades e negócios se tornarão mais fortes a longo prazo“, afirmou Zuckerberg no comunicado oficial do relatório.

E disse mais na conferência por telefone: “Esperamos que o Stories seja o caminho que substituirá os posts do feed como o jeito que as pessoas compartilham momentos entre todos os apps sociais.”

Em dezembro, pesquisadores do Facebook reconheceram que muito tempo gasto passivamente visualizando o news feed pode ser prejudicial. No início de 2018, o Facebook anunciou sua 1ª rodada de mudanças no news feed –e então fechou janeiro com um foco renovado em notícias locais. Os ajustes do produto-emblema do Facebook foram grandes, mesmo que as organizações de notícias estivessem de olho no tráfego vindo da plataforma diminuindo por meses e se preparando para mais mudanças. Quantas pessoas já vêm se distanciando do site?

Sarah Frier, da Bloomberg, comenta:

Mesmo com usuários regulares, o Facebook tem ficado mais faminto por posts. Os lembretes e notificações no topo do news feed, que sempre mostram memórias ou aniversários de amizade, têm recentemente representado algo a mais para marcos triviais – como ser marcado em 10 fotos com alguém ou receber 100 reações no seu post.

Mas o engajamento pode ter sido uma preocupação de Zuckerberg mesmo antes do anúncio. Enquanto a empresa diz ver movimentos positivos, não tem atualizado as estatísticas sobre quanto tempo as pessoas passam em suas propriedades desde o primeiro trimestre de 2016. Os minutos gastos no site dentro dos EUA estão diminuindo, de acordo com Nielsen e Comscore, mesmo que o movimento seja positivo mundialmente. No terceiro trimestre, o crescimento em usuários diários foi o menor de todos.

“Você poderia dizer que as ações anunciadas foram como respostas ao que estavam observando”, disse Brian Wieser, analista na Pivotal Research. “Com o tamanho da empresa, é de se esperar que chegassem a um limite em certo ponto.”

Nestes ganhos, é importante destacar que a diminuição de unidades diárias é pequena em comparação; mas a audiência de usuários diários do Facebook aumentou em 32 milhões de pessoas no 4º trimestre, “o menor aumento entre trimestre em 2 anos“.

Alex Kantrowitz, do BuzzFeed, destacou nesta semana que o Twitter tem estado em alta como fonte de referência para editoras quando o tráfego do Facebook diminuiu. A “emergência [do Twitter] como uma fonte social de tráfego viável poderia ajudar no baque que as editoras sentiram quando as mudanças ao news feed do Facebook ocorrerem nos próximos meses“. E, no ano passado, o Google passou o Facebook como fonte de tráfego e referências para as editoras.

Novidades: nos últimos meses, o Twitter cortou pela metade a liderança do Facebook na publicação de anúncios. O Facebook enviava 4,7 visitantes para cada site anunciante, a cada um tweet. Agora, ele envia 2,5. 
Manchete: "Twitter consegue mais cliques para anunciantes do que Facebook". 

Então isso é uma questão sobre tempo melhor aproveitado ou tempo gasto em outro lugar? Como Ethan Zuckerman, o diretor do Centro de Mídia Cívica no MIT, escreveu no The Atlantic: “As pessoas investem muito tempo e energia emocional em suas comunidades virtuais. Pedir a elas que joguem essas conexões fora e que vão para outra rede é um erro.”

Mas aí, novamente, deveríamos fazer como os executivos da mídia social fazem, não como falam.