Manuela D’Àvila: Minha candidatura independe de Lula 

Pouco conhecida no Nordeste a pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB, Manuela D'Ávila, desembarca no Recife na próxima sexta-feira (23), com vistas a estreitar relações com o elei¬¬torado pernambucano. Em Pernambuco, Ma¬nuela terá encontros com dirigentes e mili¬tantes do partido, mas o destaque da agenda será um almoço com o governador Paulo Câmara (PSB) e com o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB). 

Manuela D’Àvila e Luciana Santos | Divulgação PCdoB

A reportagem da Folha de Pernambuco conversou com a presidenciável, que defendeu um time de esquerda em campo para construção de uma agenda nestas eleições. Embora tenha se colocado na corrida eleitoral, ela disse esperar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja candidato.

Desde 1989 o PCdoB apoia candidaturas do PT. O que motivou o lançamento de uma candidatura própria?

Nossa intenção é colaborar com a busca de soluções para a grave crise que o Brasil enfrenta. O Governo Temer é uma tragédia para o País, porque entrega as riquezas nacionais para estrangeiros, destrói a economia interna, extermina os direitos dos trabalhadores, torna massacrante a vida das mulheres e da juventude, faz barganha política deslavada. Esta eleição é a possibilidade de discutirmos soluções para o futuro do Brasil.

Teremos um programa para o Brasil se desenvolver como nação e deixar de ser subserviente aos interesses políticos e econômicos de superpotências estrangeiras. Defendo a criação de um Fundo Nacional de Segurança Pública, o reaparelhamento tecnológico e de gestão das polícias, a adoção de piso salarial nacional para os policiais militares, a criação de uma autoridade nacional específica para esta gestão e implantação de uma ouvidoria pública, para garantir a legitimidade das polícias.

Com a condenação de Lula no TRF4 e a possibilidade de ele ser impedido de disputar as eleições, a senhora se vê como uma alternativa à candidatura dele? Acha que pode herdar votos de Lula?

Eu espero, sinceramente, que o ex-presidente Lula possa ser candidato, porque o julgamento político cabe aos eleitores. Se ele for excluído da disputa, será mais um duro golpe na nossa combalida democracia. De todo modo, a minha pré-candidatura independe de ele ser candidato ou não. Tenho um programa a ser apresentado à sociedade, com a expectativa de conseguir o voto de todos os brasileiros que queiram desenvolvimento com justiça social, taxa de investimento que permita o crescimento econômico, queda dos juros de forma séria e taxa de câmbio que torne nossos produtos competitivos.

Lula defende uma grande frente de esquerda nas eleições, mas há quem diga que a tendência é a esquerda se pulverizar em várias candidaturas. Qual a melhor estratégia na opinião da senhora?

Acho importante termos um time em campo, jogando com unidade, e isso, certamente, se dará a partir do programa mínimo unitário que estamos construindo para disputar as eleições e, depois, em torno de um nome no segundo turno. Um time tem mais condições de defender amplamente as ideias de que o Brasil precisa reencontrar o caminho da democracia e do desenvolvimento e que a eleição consiga produzir um governo com legitimidade. Defendo o papel central do Estado na política econômica e a função dos bancos públicos no fomento ao desenvolvimento. Quanto mais candidatos defenderem essas ideias, melhor para a população.

Caso seja eleita, pensa em revogar alguma das medidas aprovadas pelo presidente Michel Temer? Quais?

Penso em fazer referendos para que o povo decida se quer manter as medidas de Temer. Considero absurdo que um governo ilegítimo, surgido de um golpe e que tem a maior rejeição já registrada na história da República, faça reformas tão brutais contra o povo. A Emenda Constitucional 95 (PEC 95) congelou por 20 anos os investimentos públicos em Saúde e Educação. A reforma trabalhista extermina direitos elementares de quem vive de salário. Há poucos dias o IBGE divulgou que, em 2017, o número de pessoas que trabalham por “conta própria” ou em vagas sem carteira assinada superou o daqueles que têm um emprego formal, com CLT e direitos. Recentemente, circulou na internet um anúncio para contratação de porteiro “intervalista” free-lancer por R$ 153,68 ao mês, para jornada de uma hora diária. Isso é precarização do trabalho, rumo a um regime de semiescravidão, algo imoral, que fere a dignidade do trabalho e do trabalhador.

Vale lembrar que a reforma da previdência é irmã gêmea dessa outra, porque também destrói a dignidade de quem trabalhou a vida inteira e não vai conseguir se aposentar. Em outras palavras, vai fazer surgir um grande contingente de desamparados e provocar enorme empobrecimento da população da terceira idade. Some-se isso ao desmonte do Sistema Único de Saúde e ao fim das farmácias populares que o governo Temer está cometendo, o que restará para milhões de brasileiros? Restará a barbárie. Por isso, defendo que a população decida o que fazer com essas medidas tão perversas.

O PCdoB, em Pernambuco, quer lançar Luciana Santos ao Senado pela chapa do governador Paulo Câmara (PSB). O PSB votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma e foi chamado de golpista pela esquerda. Como a senhora avalia essa situação?

O PSB tem longa tradição de luta democrática simbolizada na história de Arraes e Eduardo Campos, e mantém com o meu partido uma aliança sólida em Pernambuco. Inclusive o vice-prefeito de Recife, no governo liderado pelo PSB, é meu colega de partido, Luciano Siqueira, portanto me parece natural que haja conversações a respeito da eleição de 2018.

Publicado na edição de hoje da Folha de Pernambuco.