Milhares de argentinos marcham contra política neoliberal de Macri

A Avenida 9 de Julho, uma das maiores de Buenos Aires, foi completamente tomada por manifestantes nesta quarta-feira (21). Eles exigem o fim da política neoliberal de Maurício Macri que, ao longo destes dois anos de governo, já pesou muito no bolso dos trabalhadores. Os organizadores estimam que 400 mil pessoas participaram do ato.

Por Mariana Serafini

Manifestação na Argentina - Telám

A manifestação foi convocada pelas centrais trabalhistas do país que denunciam as ondas de demissões em massa e o aumento abusivo das tarifas de serviços básicos como água, luz, gás e transporte público. Para Hugo Yaski, dirigente do sindicato dos professores, uma das áreas mais afetadas pelas políticas de austeridade, Maurício Macri governa apenas “para os patrões.
O dirigente sindical pede uma audiência com o presidente para “construir soluções” populares “sem extorsões, sem comportamento mafioso”.

O estopim para esta grande marcha foi a decisão do governo de impor um teto para os aumentos salariais de 9% em um ano que, segundo os melhores prognósticos, a inflação será de 20%.

As medidas mais austeras começaram depois de outubro passado, quando o macrismo obteve maioria nas eleições parlamentares. Isso deu condições ao governo para aprofundar os ajustes antipopulares. Unido a isso, veio também uma nova onda de demissões em massa de funcionários públicos. Áreas extremamente delicadas, como a fiscalização alimentar e a saúde ficaram desmanteladas, trata-se um completo desmonte do Estado em apenas dois anos de governo.

Assim como no Brasil, Macri também propôs uma reforma trabalhista e previdenciária que atinge diretamente o bolso dos trabalhadores e aposentados ou pensionistas. O salário mínimo sofreu queda entre 6 e 10%. Ao mesmo tempo, só em 2017, o serviço de distribuição energética teve um aumente de cerca de 1700%, e o transporte público de 66%.

Os investimentos externos prometidos pelo governo Macri nunca chegaram e, como nos velhos tempos de crise argentina, o país recorreu aos empréstimos do Banco Mundial. Além de jogar fora toda a negociação feita durante anos pela ex-presidenta Cristina Kirchner, para não pagar juros abusivos nos chamados Fundos Abutres, Macri afundou ainda mais a economia argentina em dívidas externas.

Segundo dados do Observatório da Dívida Externa da Universidade Metropolitana para a Educação e o Trabalho (ODE-Umet) divulgados em janeiro deste ano, os empréstimos feitos ao longo do ano por Macri já somam mais de 121 milhões de dólares. Atualmente, de cada 100 dólares emitidos pelo Tesouro Nacional Argentino, 84 são destinados para estabelecer a fuga de capitais e financiar dividendos das empresas estrangeiras.

Estes números mostram que a economia argentina está na banca rota, as cifras são comparáveis apenas às de 2001, quando o país entrou numa profunda crise política e surgiu o lema “Que se vayan todos”. Na época, o presidente Fernando de La Rúa renunciou ao cargo e outros cinco políticos ocuparam a presidência em poucos meses, sem dar conta de tirar o país do fundo do poço. A estabilidade só chegou com o Kirchnerismo, em 2003.