Classe C não se recupera tão cedo e ascensão do passado vira sonho

Enquanto os super-ricos viram seus rendimentos crescerem durante a recessão, os brasileiros que foram empurrados pela crise de volta à base da pirâmide não conseguirão voltar à classe C tão cedo. De acordo com analistas ouvidos pelo Valor Econômico, uma nova mudança entre as classes só deverá acontecer com o retorno do emprego, previsto para o médio prazo, mas um fenômeno de mobilidade como o ocorrido entre 2006 e 2012 não deverá se repetir.

desigualdade social - Fernando Frazão/Agência Brasil

Marcel Motta, diretor-geral da Euromonitor, avalia que, uma nova fase de ascensão exigirá uma mudança de expectativas, seguida pela ocupação da capacidade ociosa existente na economia e, por fim, a retomada do emprego.

"Não vejo um regresso ao que vimos anos atrás, de 'boom' de consumo, para essas famílias agora. Isso pode acontecer, mas num ciclo mais longo, a partir do momento em que o emprego estiver de volta e a renda for restabelecida", afirma o analista ao jornal.

Márcia Sola, diretora do Ibope Inteligência, concorda. Para ela, vai precisar de pelo menos dois ou três anos para haver uma nova movimentação entre as classes.

No Brasil de hoje, apesar do discurso contrário do governo, o índice de desemprego ainda está muito elevado – 12,3 milhões de brasileiros sem trabalho – e a renda encolheu. Com isso, as famílias que voltaram às classes D e E frearam o consumo daquilo que não é essencial.

Assim, compras de eletrodomésticos e viagens, por exemplo, vão ficando para depois. Muitas famílias também passaram a optar por escolas públicas e cortaram planos de saúde.

De acordo com estudo da Tendências Consultoria, citado pelo Valor, 4,6 milhões de famílias voltaram às classes D e E entre 2015 e 2017. Apesar de o inchaço da base da pirâmide social ter diminuído o ritmo no ano passado, a Tendências avalia que uma queda no número absoluto de famílias das classes D e E só deve vir em 2026.

Mesmo assim, não repetirá o cenário de mobilidade social vivenciado durante os governos do PT, "seja porque a renda total está crescendo menos, seja porque setores que empregam mão de obra de menor qualificação não vão ser grandes destaques de crescimento".

Se, para os mais pobres, a crise tem consequências duradoras, no topo da pirâmide ela sequer fez cócegas. Estudo do economista Sérgio Gobetti apontou que, entre 2014 e 2016, a renda dos super-ricos brasileiros só fez crescer. O rendimento total da parcela formada por pessoas que ganham mais de 160 salários mínimos por mês aumentou 2,2% em termos reais no período.