União Europeia vê governo paralisado na Itália após eleições de março

Pesquisas apontam que nenhum partido terá maioria; Em 2013, cenário semelhante já havia dificultado formação de um novo governo no país. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou na quinta-feira (22) que se prepara para um governo paralisado na Itália após as eleições legislativas de 4 de março

Itália

A declaração de Juncker se baseia nas últimas pesquisas de intenção de voto no país, que mostram um cenário fragmentado e que nenhum partido ou coalizão conseguirá sair das urnas com maioria no Parlamento.

"Há um início de março muito importante para a União Europeia. Há o referendo do SPD [Partido Social-Democrata] na Alemanha e as eleições italianas, e estou mais preocupado com o êxito das eleições italianas do que com o resultado do referendo do SPD", afirmou o presidente do poder Executivo do bloco.

Segundo Juncker, Bruxelas precisa se preparar para o "pior cenário", ou seja, um "governo não operacional na Itália". A primeira sessão da nova legislatura italiana está marcada para 23 de março, quando serão definidos os presidentes da Câmara e do Senado.

Logo em seguida, o chefe de Estado Sergio Mattarella deve iniciar consultas para a formação do novo governo, que precisará, necessariamente, da maioria no Parlamento. De acordo com as últimas pesquisas, a liderança é ocupada pela coalizão de direita, que une Silvio Berlusconi e partidos ultranacionalistas, mas somente com 35% das intenções de voto.

Em 2013, um cenário semelhante de fragmentação já havia dificultado a formação de um novo governo no país, impasse que só foi resolvido com uma frágil aliança entre o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, e o conservador Berlusconi. Situações parecidas também foram vivenciadas por Espanha e Alemanha nos últimos anos.

Intenções de voto

Segundo um levantamento da Ipsos para o jornal Corriere della Sera, a coalizão de centro-direita tem 35,6% das intenções de voto, enquanto a centro-esquerda tem 34% e o Movimento Cinco Estrelas tem 28,6%.

Enquanto a centro-direita tem uma coalizão já formada, com o Força Itália de Berlusconi, o ultranacionalista Liga Norte e o Irmãos da Itália (FdI), a centro-esquerda não tem um grupo de partidos unidos de fato.

O principal expoente desse bloco é o Partido Democrático, de Matteo Renzi, que está no poder desde 2013, e que tem sozinho 22,6% das intenções de voto. Para a pesquisa, foram incluídos nesse bloco o Livres e Iguais (LeU), de esquerda e de dissidentes do PD, com 6,1%; o Juntos, com 1,1%; a lista Cívica Popular, com 1,1%, e o +Europa, de Emma Bonino, com 3,1%.

Já o M5S anunciou, por diversas vezes, que não pretende se unir a nenhuma sigla tradicional para governar em caso de vitória.

Em números totais, segundo a pesquisa divulgada pelo Corriere, dos 617 assentos disponíveis no Parlamento, 283 ficariam com a centro-direita, 158 com a centro-esquerda e 152 com o M5S. A pesquisa ainda fez as estimativas de quais seriam as mínimas e as máximas para cada grupo, com a centro-direita tendo entre 270 e 296 assentos, a centro-esquerda com 148 a 168 e o M5S com uma variação de 137 e 167.

O levantamento ainda solicitou o índice de confiança nos principais expoentes políticos do país, com o atual premiê, Paolo Gentiloni, recebendo 47% dos votos positivos; Bonino, com 36%; e Luigi Di Maio, chefe político do M5S, com 35%. Já Matteo Salvini, líder do Liga Norte, tem 29%, Berlusconi tem 28% e Renzi, 26%.

Cenários

Todos os cenários mostram que, se não houver uma grande união dos partidos, ficará complicada a definição do novo governo italiano após o dia 4 de março.

Pelos discursos antes do pleito, as alianças entre centro-esquerda e centro-direita, que já foram realizadas no passado, parecem cada vez mais distantes por conta da união de Berlusconi com o xenófobo Liga Norte.

Por sua vez, o M5S mantém uma postura crítica a ambos os grupos, o que também colocaria o partido de Di Maio em uma saia justa em caso de vitória, tendo que optar por se coligar com quem sempre criticou ou ir às urnas novamente.

Em diversos momentos, Berlusconi afirmou que, mesmo com a vitória de sua coalizão, em caso de não formação de governo, o país "deve voltar às urnas" e manter Gentiloni no posto de premiê.

Apesar de parecer estranha, a medida poderia beneficiar o próprio Berlusconi, que está inelegível até 2019 e aguarda uma decisão da Corte de Direitos Humanos de Estrasburgo para tentar reaver antecipadamente seus direitos políticos.