Morte de imigrante acende protestos em Madri

Mame Mbaye, imigrante senegalês de 35 anos, que vivia há 13 em Madri, capital da Espanha, trabalhando como vendedor ambulante,  morreu vítima de um ataque cardíaco durante uma operação policial no bairro de Lavapiés, na sexta-feira (16). Após o ocorrido, o bairro tornou-se palco de diversas manifestações contra a violência e a repressão do governo de Rajoy

protestos em Madri - Publico

Ainda não é certo se Mame estava sendo perseguido pelos policiais quando morreu, mas o fato desencadeou três dias de protestos, que causaram destruição, algumas detenções, mais de vinte feridos e a ação de um aparato policial repressor que muitos afirmam só terem presenciado na época da ditadura franquista.

Enquanto alguns espanhóis defendem mais e melhores medidas para promover a integração de milhares de imigrantes clandestinos, sobretudo africanos, outros, levado por um discurso conservador, pedem o fechamento das fronteiras e acusam os refugiados de serem responsáveis pelo aumento da criminalidade.

A morte de Mame foi a gota d'água que fez transbordar a paciência de milhares de pessoas vindas de cerca de 80 países e que vivem em Lavapés. “Perseguiram-no desde mota até o Sol [Porta do Sol] e causaram o ataque de coração”, contou uma jovem africana ao jornal português Publico, recordando que são frequentes no bairro as intervenções agressivas da polícia.

“Sim, há tráfico de drogas e pessoas que roubam. Mas não são todos. A polícia não pode tratar todos do mesmo modo”, disse ainda, comentando sobre a reação popular que causou alguns conflitos e danos a alguns estabelecimentos comerciais.

“Os prejuízos não são apenas os dos vidros partidos ou das portas fechadas durante um ou dois dias. O bairro volta a ficar mal visto e os comerciantes podem ficar sem clientes durante meses. A culpa é das autoridades, que acolhem todos mas que não criam emprego”, explicou o dono de um restaurante de Lavapiés, também ao Publico, onde se estima que quase metade dos residentes seja de origem africana e asiática.

O governo conservador de Mariano Rajoy, primeiro-ministro espanhol, foi alvo de críticas, especialmente por não criar programas de acolhimento que funcionem aos imigrantes. A polícia espanhola já foi acusada de violência e repressão desproporcional em 2017, quando a Catalunha reivindicou a sua independência, e alguns eleitores ficaram feridos durante a votação do plebiscito.