Água não é mercadoria: PM reprime mulheres que protestam pelo país

O Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), que ocorre entre os dias 17 e 22, não está restrito à Brasília (DF), onde fica o acampamento que conta com a participação de milhares de pessoas vindas de todos os continentes.

Mulheres ocupam a Nestlé contra a mercantilização da água março de 2018 - fama2018.org.br

Logo no início da manhã desta terça-feira (20), às 6 horas, aproximadamente 600 mulheres organizadas no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ocuparam a sede da Nestlé, no município de São Lourenço (MG), como parte da construção do FAMA e de denúncia da estratégica das corporações em privatizar a água.

A Nestlé é uma das maiores companhias do setor alimentício, com o controle de 10,5% do mercado mundial da água. Chegou ao município de São Lourenço em 1997 e, desde então, acumula uma série de denúncias de apropriação indevida da água. Uma ação civil pública apurou que além de abrir ilegalmente o Poço Primavera, a Nestlé fazia a retirada de todo o minério do líquido por meio de um processo químico, para em seguida adicionar sais minerais de sua própria patente.

Além disso, a empresa detém 22% do mercado das marcas de café do mundo e grande parte da produção está no estado de Minas Gerais. Em 2015, dois adolescentes foram resgatados de fazendas da Nestlé, um de 14 e outro de 15 anos.

Contra a privatização

Também pela manhã, cerca de 2 mil mulheres sem terra ocuparam a sede da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), no município de Paulo Afonso (BA), com o objetivo de se contrapor à proposta de privatização das empresas estatais, como a Eletrobrás, por parte do governo golpista de Michel Temer.

Já em Canindé de São Francisco (SE), 300 mulheres sem terra ocupam a portaria da Usina de Xingó desde o início da manhã. Elas cobram uma reunião com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para tratar da questão do perímetro irrigado da região.

Repressão e cárcere privado

Após realizarem a manifestação na sede da Nestlé, as mulheres sem terra foram mantidas por cárcere privado pela polícia, que apreendeu as chaves de noves veículos e mantiveram 400 mulheres trancadas dentro dos ônibus.

Já em na ocupação da Chesf, a Polícia Militar invadiu um dos portões da empresa e, sem diálogo, jogou bombas de gás lacrimogênio contra as manifestantes. Duas mulheres ficaram feridas e outras passaram mal devido ao efeito do gás.

A coordenação do FAMA repudia veementemente as ações truculentas de repressão contra manifestações legitimas em defesa da água, que é uma fonte essencial à reprodução da vida e não pode ser transformada em mercadoria.