Manuela: “Os fascistas saíram do armário com pedras e relhos”

Em entrevista à Quadrinstrevista, da CartaCapital deste domingo (1º), a pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela D’Ávila, abordou a escalada da violência na atuação de grupos contrários à bandeira do socialismo e partidários do golpe.

Manuela Quadrinstrevista - Reprodução

“É muito preocupante [a violência] porque demonstra na prática o que denunciamos há muito tempo, que essas organizações são fascistas e defendem o extermínio físico de quem pensa diferente”, salientou Manuela à revista. “Vivemos um tempo em que esses setores saíram do armário com suas pedras, seus relhos, mas muito legitimados e amparados pelo poder estatal e é isso que mais preocupa. Há uma construção crescente de uma espécie de Estado policial, que autoridades policiais fazem parte do sistema de repressão aos movimentos sociais. É uma escalada de violência simbólica e real contra o nosso campo”, disse.

A entrevista abordou a fragmentação do quadro político eleitoral. Manuela voltou a defender a unidade do campo de esquerda e progressista com uma agenda mínima de consenso.

“Essa eleição é marcada pela imprevisibilidade e a maior de todas é a existência de eleições em outubro. É preciso estar atento e forte, não podemos vacilar porque a democracia não é mais uma bandeira do lado de lá. Tivemos um golpe em 2016, estamos diante da iminência do impedimento do presidente Lula concorrer e também vimos iniciativas no fim do ano passado, como a PEC do semipresidencialismo, onde buscavam construir alternativas para as eleições”, advertiu.

E acrescenta: “Esse quadro faz com que tenhamos especulações sobre o que vai acontecer nas eleições. Diante disso, tivemos um avanço extraordinário, o fato de construirmos um programa comum entre quatro fundações que não dialogavam: PSOL, PDT, PCdoB e PT. Isso é central porque no sistema presidencialista como o nosso, o que deve pautar a construção das alianças é o programa”.

Sobre o ensaio de candidatura lançado por Michel Temer, Manuela foi irônica: “Será que Temer acredita no coelhinho da Páscoa?”, indagou.

Para ela, a pretensão de candidatura é uma novidade “porque ele não gosta de eleições”. “Não se elegeu deputado na última vez que concorreu, era suplente, não se elegeu presidente, deu um golpe para assumir o cargo. É interessante vê-lo fazer um movimento contrário às suas convicções, é uma novidade também do ponto de vista democrático”, cutucou.

“Temer conta com uma máquina poderosíssima. Se o mercado está menor para o povo, certamente está maior a verba publicitária e a liberação de emendas de parlamentares. Quem tentou ver o programa Roda Viva com o Sergio Moro, viu que eles não brincam em serviço. Eu particularmente fiquei com sono no meio porque a conversa estava muito chata, o juiz estava entre amigos”, argumentou.

Manuela abordou também o ativismo político do Poder Judiciário que tem atuado, em alguns momentos, como agentes políticos. “Na semana passada, um dos juízes tuiteiros dizia ‘não se sabe ainda a solução necessária para o Brasil, nem de onde ela virá’, mas uma coisa é certa: ela não virá através de agentes públicos temporários interessados em manter-se ou investir-se no poder”, frisou.

Segundo ela, os agentes públicos são os políticos. “O que diz o juiz tuiteiro? Que a solução não é eleição, porque não existe outra forma da construção de agentes públicos temporários que não a eleição. Ele quer dizer com isso que a solução é a judicialização completa da política? Que a Suprema Corte mande no país? É algo muito importante de ser dito diante desse cenário de imprevisibilidade”, enfatiza.

A luta pela ampliação da participação da mulher na política também foi abordada pela pré-candidata. Aos 36 anos, Manuela divide a atuação política com os cuidados à pequena Laura, sua filha, que a acompanha em alguns eventos partidários, o que num ambiente misógino da política acaba se tornando alvo de questionamentos, inclusive da imprensa.

“Ninguém pergunta com quem ficam os filhos pequenos dos meus adversários. Se causa estranheza que eventualmente a Laura esteja comigo, talvez seja legal perguntar ‘quem leva teu filho para a escola?’”, ressaltou.

Questionada sobre qual é o papel do comunismo na atualidade, Manuela afirma que no processo de redemocratização o PCdoB foi um dos últimos partidos a ser legalizado. “Só tivemos nossa legenda reconhecida em 1985. Além disso, desde 1989 tomamos uma decisão consciente de apoiar as candidaturas de Lula e Dilma, e sempre soubemos que a não disputa de eleições majoritárias tinha impacto na construção do partido num país como o Brasil”, apontou.

Ela destacou que os comunistas são defensores históricos de um projeto nacional de desenvolvimento. “A questão nacional é estratégica. E para provar que estávamos certos, o centro nevrálgico do neoliberalismo passa pela destruição do status de nação”, frisou.

Ela salientou que a legenda defende uma aliança com o setor produtivo que é o setor, segundo ela, mais atingido pelo rentismo, a partir da alta remuneração dos juros. “Isso faz com que o próprio setor industrial faça adesão ao rentismo porque vale muito pouco a pena investir apenas na produção”, declarou.

E finalizou: “Nossa ideologia é associada à ideia de um partido. Diante do golpe, para nós o centro do debate no processo eleitoral será como sair da crise econômica. Existem dois grandes projetos: aqueles que defendem que é possível construir saídas sem a participação relevante do Estado, o que é uma proposta falsa, pois ele só é pequeno para a população, mas continua grande para os banqueiros, e nosso campo político [que] defende o papel do Estado, da retomada do crescimento econômico”.