A resistência tem rosto: Brasileiros saem em defesa da democracia

Depois da ordem de prisão do juiz Sérgio Moro contra Lula, milhares de brasileiros se mobilizaram para defender o ex-presidente. Este processo de mobilização e resistência se concentra em São Bernardo do Campo, a cidade onde começou a história do líder sindical que se tornaria um dos maiores dirigentes políticos da América Latina.

Por Mariana Serafini

Stella Pinheiro - Teddy Falcão

Milhares de pessoas começaram a chegar em São Bernardo na noite de quinta-feira (5) e as caravanas continuaram nesta sexta-feira (6). A ideia é defender Lula e impedir que ele seja preso. Estas pessoas vêm de diversas cidades, por diferentes motivos, o que as une é o senso de justiça e a defesa de um Brasil justo e democrático.

Conversamos com algumas pessoas durante a manifestação e cada uma apresenta um motivo para estar aqui, porém, cada um deles, se personifica em Lula que hoje é o principal alvo da direita.

Veja os depoimentos:

Stella Pinheiro – Terapeuta ocupacional, de Campinas – "Vim pra cá, e entendo que todos vieram, porque hoje este é o lugar para se estar no Brasil. Se você é cidadão brasileiro, pensa na democracia, e se foi da época que viveu o golpe militar, que é o meu caso, não há outro lugar no mundo para estar. É um absurdo o que estão fazendo, estão rasgando nossa Constituição, fraudaram nossas eleições, acabaram de dar um golpe neoliberal e hoje querem injustiçar o maior brasileiro da nossa história. O Lula não vai sair daqui, não adianta virem buscar".

Stella Pinheiro (Foto: Teddy Falcão)

Geniede de Barros Gomes – Psicóloga, de São Paulo –  "Estou aqui porque é o lugar de estar hoje em defesa da Constituição, dos direitos, contra a violência e pela justiça para o povo. Lula representa tudo isso e não há provas contra ele. Lula representa o povo, então estamos aqui por isso. Aqui é o lugar de estar".

Geniede de Barros Gomes (Foto: Teddy Falcão)

Alexandre Fiamori – Petroleiro técnico de operação, de Minas Gerais – nós entendemos que defender o Lula é defender a esquerda, é ir contra a Resolução 23, a privatização dos eletricitários, dos petroleiros, tentar revogar o projeto da reforma trabalhista e impedir que venha a reforma da previdência. Este é um momento de acirramento da luta de classes, precisamos que toda a esquerda se una em torno de um projeto maior. Não se trata do Lula indivíduo, mas o Lula representando os ataques que a esquerda está sofrendo. Se nós deixarmos passar este ataque agora, os outros vão vir com pedalada.

Alexandre Finamori (Foto: Teddy Falcão)

Maraisa Almeida – Cientista social, de Santo André – "Simbolicamente nós temos o Lula, mas estamos aqui para defender a nós mesmos. O que fazem com o Lula já estão fazendo há anos na periferia com a população negra: é falta de respeito, essa desumanização…" 

"Quem diria que nós estaríamos aqui hoje, quarenta anos depois, pelas mesmas coisas, pela democracia, para democratizar meios de comunicação, desmilitarizar a polícia, descriminalizar as drogas, pela não criminalização dos movimentos sociais. Todas essas são bandeiras do movimento negro há anos. Esse é um momento importante do Brasil porque está caindo a ficha em mais gente, as cortinas caíram e nós sabemos com quem estamos lidando. As estratégias devem ser outras daqui pra frente".

Maraisa Almeida (Foto: Teddy Falcão)


Aldo Jofre Osório
– Cinegrafista, de Santiago, Chile – "Estou aqui como latino-americano pela necessidade de nos unirmos. Estamos vivendo um momento muito difícil, uma onda do fascismo que está marcando toda a América Latina de diferentes formas. Estar aqui é uma forma de se solidarizar com o povo brasileiro porque estamos juntos. E a única forma de derrotar o fascismo é nos blindar de povo".

Aldo Jofre Osório (Foto: Teddy Falcão)

Mateus Borges – Técnico de Informática, de São Paulo – "Estou aqui para defender a democracia, não só o Lula. É muito importante nos posicionarmos contra este golpe que deram no Brasil. Isso tudo é muito esquisito, não estão seguindo a Constituição, então independente de que lado a pessoa esteja na política, ela tem que defender que os processos sejam feitos da maneira correta. Não podemos aceitar atalhos jurídicos. Por isso, é importante estar aqui para defender a justiça, isso vai além de partidos. Não estou aqui só pelo Lula, pelo PT, mas sim pela Constituição".

Mateus Borges (Foto: Teddy Falcão)