É impossível calcular a dimensão de Chávez, diz chanceler da Venezuela

O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, falou para um auditório soltado nesta terça-feira (10), em Lisboa, sobre o impacto do legado de Chávez na América Latina. O evento foi promovido pelo Conselho Português para a Paz e a Cooperação, em solidariedade ao povo venezuelano.

Jorge Arreaza - Referencial

O objetivo do evento é difundir a realidade da Venezuela na Europa para que se esclareçam os fatos e se ampliem as companhas de solidariedade com o país caribenho.

Arreaza destacou a figura do ex-presidente Hugo Chávez como um real “representante do povo” e valorizou o legado do líder que mudou os rumos da Venezuela com políticas públicas e inclusão social.

O ministro venezuelano lembrou, nomeadamente, a oposição de Chávez aos desígnios norte-americanos na Cúpula das Américas de 2001, realizada no Quebec (Canadá), e as políticas de ruptura com o que era habitual na Venezuela até então, no sentido de defender o povo. Isto, num país onde era difícil “fazer uma revolução socialista”, em virtude de todos os recursos que possui (como gás, petróleo, ouro, água, entre outros) e por ter os EUA “a poucos quilómetros”.

Apesar dos retrocessos que acontecem hoje no Brasil, na Argentina, no Equador, Jorge Arreaza mostrou confiança no papel da América Latina, afirmando que “será a referência dos processos progressistas para o mundo”. Sobre Chávez, disse que é “uma esperança que está viva”, um ‘gigante cujo impacto no mundo ainda está por calcular, por definir”, sublinhando que um dos “erros de cálculo do imperialismo” foi ter concebido que “a revolução e os processos progressistas no continente iriam desmoronar com a morte de Chávez”.

“A tarefa heroica de Maduro”

Arreaza contou que estava no hospital onde Chávez ficou internado, em Havana, quando decidiu que Nicolás Maduro era o quadro certo para liderar o governo caso viesse a falecer em breve, como aconteceu. Para Arreaza, a escolha de Maduro como sucessor de Chávez – uma tarefa que classificou como “difícil, quase heroica” – se deu não apenas à lealdade e aos anos de experiência política acumulados, mas sobretudo ao seu “carácter operário”.

Com a morte de Chávez, muitos sugeriram “pragmatismo, que fosse pragmático, traísse a revolução”, afirmando que, se esta “era possível com Chávez, já não o era com ele, Maduro”, em virtude da conjuntura existente e dos “inimigos do país”. Mas “Maduro respondeu-lhes com muita firmeza” e se manteve fiel aos princípios revolucionários, destacou Arreaza.

Violência da oposição, ANC, paz…

Referindo-se aos últimos cinco anos, o diplomata venezuelano enfatizou a violência e a desestabilização a que o seu país foi submetido, tendo enumerado os crimes que a extrema-direita, liderada por figuras públicas e apoiada por Trump, Rajoy, Mogherini ou Felipe González, levou a cabo na Venezuela, as manifestações violentas, as propriedades públicas e privadas destruídas, as pessoas queimadas, os mais de 120 mortos em quatro meses de violência – entre abril e julho do ano passado.

Sobre este cenário, afirmou que “a questão podia ter sido resolvida com violência policial, com repressão, mas que o governo venezuelano decidiu que não era assim” – e, lembrando algumas afirmações proferidas por responsáveis da União Europeia, da Organização de Estados Americanos ou por Mariano Rajoy e Emmanuel Macron questionando o respeito pelos direitos humanos na Venezuela, perguntou como teria sido resolvida a questão se tivesse ocorrido nas ruas de Paris ou Madrid, capital de um “país que reprimiu as pessoas por votarem num referendo na Catalunha, em outubro último”.

Maduro decidiu convocar uma Assembleia Nacional Constituinte (ANC), que na Venezuela tem poderes plenipotenciários, “mesmo com a massa chavista temendo uma derrota”. Mas, disse Arreaza, que Maduro estava convencido de que a ANC traria a paz e insistiu.