Insegurança não diminui após dois meses de intervenção no Rio

Dois meses depois de anunciada, a intervenção militar no Rio de Janeiro não alcançou os resultados prometidos pelo governo. Enquanto Michel Temer se diz satisfeito com as operações, os moradores não viram os índices de violência caírem, ao contrário, e há aumento da sensação de insegurança.

Intervenção no Rio de Janeiro - EBC

Os militares ainda esperam por verbas para estender o reforço do policiamento durante a noite. Até o momento, eles são autorizados a ocupar as ruas apenas em horário comercial, da 8h às 17h.

Especialista em formulação de políticas de segurança pública, a antropóloga Jacqueline Muniz considera que a medida, até agora, não passa de um teatro. "O que de fato fez a intervenção até agora? Nada, ela não apresentou um plano de emergência que pudesse articular o que de fato eles pretendem fazer, em junção com a polícia militar, civil e corpo de bombeiros, para reduzir as incidências criminais e violentas", critica.

Março teve o maior índice de roubos de carro da história do Rio. Na zona norte, as ações da polícia não reduziram o roubo de cargas e o maior exemplo da falta de planejamento foi a presença do Exército na Vila Kennedy, uma espécie de laboratório da intervenção militar. Depois de 30 dias os soldados deixaram a comunidade sem prender o chefe do tráfico, nem apreender quantidade expressiva de armas e drogas.

"Eles foram lá fazer uma ação de suporte pontual, isso significa duas coisas. Primeiro, eles não têm recursos para garantir o policiamento 24 horas. Segundo, eles não têm competência e qualidades para fazê-lo", afirma Jacqueline.

A intervenção militar nas ruas do Rio reforçou o policiamento com 165 agentes federais, além dos efetivos das polícias civil e militar, mas depois de dois meses não existe um balanço detalhado das operações. Em algumas regiões do estado, o que houve foi até o aumento da violência, como no caso dos tiroteios.

Foram registrados 1.500 disparos com armas de fogo e confirmadas seis execuções, como as de Marielle Franco e o motorista Anderson. Enquanto a população espera a solução para os crimes a orientação da própria polícia para quem tem carro, é comprar um seguro ou deixar na garagem.

"O sentimento que se tem é que trocou seis por meia dúzia. A insegurança continua sendo percebida de maneira generalizada pela população e as polícias seguem fazendo a rotina que estava fazendo com poucos recursos", conclui a especialista.