Manuela: Bancos públicos devem ser parceiros de uma indústria que gere empregos

Manuela D'Ávila, pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB, em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta terça-feira (24), destacou a importância dos bancos públicos para o desenvolvimento do país.

Manuela

“O papel central do BNDES e dos bancos públicos é a garantia da retomada da economia brasileira. O BNDES tem de ser o nosso parceiro na construção de uma indústria nacional que gere empregos de qualidade”, enfatizou Manuela.

Na entrevista, a pré-candidata foi questionada sobre a questão fiscal brasileira, que tem sido usada pelo governo de Michel Temer e outros partidos que encamparam o golpe de 2016 para justificar reformas como a da Previdência.

Para ela, “o olhar sobre o crescimento da dívida pública mira apenas na doença, no tamanho, e não na capacidade que o Brasil deve ter de retomar o crescimento”.

“É imprescindível pensar numa reforma tributária. Como combater o aumento da dívida sem debater a capacidade de arrecadar do Estado? O problema do Brasil é que cobramos muitos impostos dos pobres e não cobramos nenhum imposto dos multimilionários”, frisou ela, citando a reação de alguns setores da classe média que reagem negativamente quando se propõe a taxação de grande fortunas.

“Uma parte da classe média acredita que o seu patrimônio de classe média se enquadraria no patrimônio de grandes fortunas. Temos uma parte da população brasileira muito pequena que declaradamente recebe mais de R$ 160 mil por mês. Temos uma outra parte da sociedade brasileira que não é tributada, porque faz as suas declarações a partir das suas empresas e lucros e dividendos não são tributados. Isso é algo estruturado da retomada do crescimento da economia e da retomada da capacidade de investimento do Estado”, afirmou.

Sobre as eleições, Manuela afirmou que a esquerda tem um conjunto de candidaturas com boas perspectivas de crescimento. “Nosso campo político tem um bom desempenho. Mesmo sem Lula somamos 24 pontos. Não tenho convicção de que a direita se organizará em torno de uma única candidatura. Eles têm muitos problemas para resolver entre eles”, avaliou.

Ela destacou que, apesar de se venderem como candidaturas de centro, os candidatos que se alinharam ao golpe de 2016 defendem políticas e projetos da direita.

“Neste momento não há um centro, e as candidaturas estão situadas, basicamente, em dois campos: aqueles que defendem, com variações, um projeto de desenvolvimento para o Brasil, entre os quais me situo, e aqueles que defendem um conjunto de reformas ultraconservadoras que não levará à retomada do crescimento da economia”, argumentou.

Manuela voltou a fazer a defesa do direito de candidatura do ex-presidente Lula e repeliu a sua condenação e prisão arbitrária.

“Torço e acredito que o presidente Lula deva concorrer nas eleições. Espero que o Supremo faça um debate sobre a ADC [Ação Declaratória de Constitucionalidade] que nosso partido patrocinou para garantir a ele o direito de usufruir da liberdade e, depois, de registrar a sua candidatura”, disse ela, se referindo à ação apresentada pelo PCdoB no Supremo Tribunal Federal que aponta a inconstitucionalidade da prisão em segunda instância.

Sobre geopolítica, Manuela disse que “respeita os caminhos de Cuba, Venezuela e de todos os povos”, mas enfatizou que “a tradição da diplomacia brasileira é de mediação dos conflitos”.

“Passamos no último ano para o comando de um presidente que dá pitaco no país vizinho, inclusive fomentando intervenção militar de outra região na nossa. O Brasil precisa apostar nos mecanismos de diálogo para se estabelecer caminhos pacíficos. O que eu quero para a Venezuela? A paz. Que oposição e governo consigam sentar à mesa e buscar uma solução, que respeitem as regras e as normas. Sobre Cuba, também respeito o caminho que o povo tem escolhido para si. Cuba enfrenta um bloqueio econômico há mais de 50 anos”, salientou.