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Jorge Debravo: Milagres

Em nova tradução inédita do poeta Alexandre Pilati para o Prosa, Poesia e Arte, apresentamos hoje Milagres, do costarriquenho Jorge Debravo (1938-1967). O poema, retirado do livro Los Despiertos (1967), é simbólico da obra desse autor, nascido Jorge Delio Bravo Brenes. Tendo crescido em uma família de camponeses humildes, Debravo trabalhou desde criança para ajudar os pais. Morreu aos 29 anos, num trágico acidente, quando viajava de motocicleta para tratar de assuntos de trabalho.

As bombas

Apesar de sua breve existência, o autor possui uma relevante obra poética, que o situou como uma figura destacada da literatura da Costa Rica. Sua poesia é cheia de imagens poéticas que combinam o humano ao natural, o tempo presente ao tempo da utopia. O resultado é uma poética participante que jamais cede à retórica fácil, pois sua dicção poética busca a articulação da beleza universal com a realidade social, segundo a perspectiva dos espoliados do mundo.

Alexandre Pilati, que traduz Milagres para a língua portuguesa, é também professor de Literatura da Universidade Brasília (UNB) e um dos grandes colaboradores do Prosa, Poesia e Arte. Confiram abaixo sua tradução:

Milagres
(Jorge Debravo)

Misteriosas substâncias emergem da luz.
Matérias genéticas trabalham na noite.

Uma manhã amanhecerá a morte
recolhendo flores,
subindo pela seiva e pelo sangue
para beijar o homem.

E o tempo encherá
de olhos os relógios,
para ver o milagre
do homem produzindo o homem.