Participação feminina no parlamento espanhol bate recorde europeu

Legisladoras ocupam 165 dos 350 assentos, na maior participação proporcional do continente

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Segundo a agência Reuters, citada pelo jornal O Globo, a nova legislatura do Parlamento espanhol, inaugurada nesta terça-feira, tem a maior participação feminina em toda a Europa. A conquista não é pequena para um país que ainda se reinventa, quatro décadas após o fim de uma ditadura que se estendeu por boa parte do século XX.

Com 47% de mulheres no Legislativo, ocupando 165 dos 350 assentos, a Espanha é atualmente o país europeu com a maior presença proporcional feminina no Congresso, ultrapassando a Suécia, que conta com um amplo histórico de promoção das igualdades.

Segundo dados do Banco Mundial, apenas Ruanda, Cuba, Bolívia e México têm congressos com representatividade feminina mais expressiva.

No país ibérico, os direitos das mulheres têm destaque no debate político há mais de uma década. A presença é tamanha que o partido de extrema direta Vox chegou à Assembleia pela primeira vez apoiado por uma plataforma que busca reverter algumas das leis de igualdade.

“Incorporar um ponto de vista feminino deve permitir um melhor diagnóstico de problemas e gerar propostas que sejam mais coerentes com a realidade da vida das pessoas”, disse Marisa Soleto, chefe do grupo de campanha pró-igualdade da Fundação das Mulheres. “E isso se aplica a tudo, desde políticas industriais até questões econômicas e sociais.”

A participação feminina cresce desde 2007, quando foi aprovada uma lei de igualdade que determina que ao menos 40% dos nomes na lista de candidatos dos partidos sejam de mulheres.

O governo de Pedro Sánchez, que chegou ao poder em junho de 2018, tem mais mulheres ministras do que homens.

Entretanto, a presença feminina na esfera mais alta de poder ainda é pequena. Todos os líderes de legenda na última eleição eram homens.

Com suas posições abertamente antifeministas, o Vox desafia as reformas dos últimos anos, aprovadas com apoio multipartidário, que buscam aumentar a igualdade entre os gêneros e combater a violência contra as mulheres.

A legenda deseja acabar com cotas de gênero e leis que acreditam ser discriminatórias aos homens. As medidas incluem uma lei criada em 2004 que determina a criação de tribunais específicos para crimes contra a mulher.

Até o Partido Popular, parte da centro-direita espanhola e por décadas grande opositor do PSOE, tem demonstrado tendências mais conservadoras no que diz respeito aos direitos das mulheres para atrair eleitores com perfis mais tradicionais.

A legenda havia declarado compromisso com a igualdade de gênero e o combate da violência contra a mulher em seu manifesto de campanha. Contudo, Pablo Casado, líder do Partido Popular, afirmou que o grupo não participaria das manifestações no Dia Internacional da Mulher, em março, por considerar que os partidos de extrema esquerda estariam utilizando a data para estimular uma guerra entre os sexos.

Apesar da oposição, feministas espanholas consideram que a representatividade feminina no Congresso é um marco.

“O fato de nós, mulheres, sermos minoria na política é uma falha das democracias representativas” disse Adriana Lastra, deputada e porta-voz do PSOE no Congresso. — A maior conquista dessa presença feminina é que ela serve de exemplo para outros países ao nosso redor.