General “sindicalista” se antecipa a Bolsonaro e sai dos Correios 

Sem citar o presidente Jair Bolsonaro (PSL) nem qualquer membro do governo, o general Juarez Aparecido de Paula Cunha anunciou, nesta quarta-feira (19), no Twitter, sua saída da presidência da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos). Na semana passada, Bolsonaro afirmou que demitira o general do posto porque ele “agiu como um sindicalista” ao contestar a privatização da estatal.

Por André Cintra

Cunha

“Hoje me afasto dos Correios. Foram 7 meses de alegria, obtivemos excelentes resultados, conduzimos a recuperação da Empresa e fizemos grandes amigos”, tuitou Cunha. Sua gestão deixa, conforme suas palavras, “saldo muito positivo e a certeza que vocês continuarão no cumprimento da missão”.

Não foram divulgados, porém, números que apontem tamanho sucesso. Cunha é o 19º integrante do primeiro ou do segundo escalão a deixar a gestão, em evidência da crescente crise interna no Planalto.

Em seu período à frente dos Correios, o general chegou a tirar fotos com parlamentares da oposição – a exemplo, por sinal, do vice-presidente da República e também general Hamilton Mourão. Juarez Cunha também divergiu do governo em audiência pública na Câmara. Foi a ocasião em que ele declarou, abertamente, ser contrário à privatização.

O que dizem os (verdadadeiros) sindicalistas

Para lideranças sindicais ecetistas, apesar do discurso de Bolsonaro, é inapropriado chamar Juarez Cunha de “sindicalista”. A categoria jamais foi recebida pelo general, apesar dos pedidos de entidades como o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo (Sintect-SP) e a Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect).

“Protocolamos solicitações de audiência, mas ele não se preocupou em dialogar com o movimento sindical”, afirma Elias Cesário de Brito Junior, o Diviza, presidente do Sintect-SP e vice-presidente do Findect. “A ironia é que justo ele – que não gostava de dialogar – provou do próprio veneno e foi avisado de sua demissão pela imprensa”.

Diviza afirma que a crise entre os presidentes da República e dos Correios é “a cara” da gestão Bolsonaro. “Não há entendimento nem entre eles próprios”. Além disso, em videoconferência transmitida na segunda-feira (17), Cunha reafirmou as intenções do governo de privatizar os Correios, conforme promessa de Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018.