FHC contra-ataca e chama Aécio de “inocente útil”

Por Bernardo Joffily


O ex-presidente Fernando henrique Cardoso comprou a briga com seu correligionário  tucano, o governador de Minas e candidato à reeleição Aécio Neves. FHC coloca Aécio sob suspeita de ser um “inocente útil” que pode se

As explicações ex-presidenciais se devem à hoje famosa “carta aberta” que FHC fez colocar no site do PSDB (www.psdb.org.br) na quinta-feira passada. Conforme Merval, Fernando Henrique atribui a insatisfação de muitois tucanos com o documento à “velha mania brasileira de julgar as intenções e não os fatos”. Proclama-se “ainda confiante na realização do segundo turno” na disputa presidencial, e nas chances de Geraldo Alckmin, negando ter jogado a toalha, como foi a interpretação de muitos.



Se a campanha Alckmin sentiu-se atingida com a carta que dava a impressão de jogar a toalha, Aécio Neves reagiu a outro trecho do domumento. Nele, FHC, em meio a uma pregação anticorrupção, anti-Lula e anti-PT, ataca de supetão o PSDB de Minas Gerais. Afirma que “erramos quando quisemos tapar o sol com a peneira no caso do senador Azeredo”, referindo-se a Eduardo Azeredo, senador do PSDB-MG e ex-presidente nacional do partido, que usou caixa dois na campanha de 1998 para o governo do estado.



Os objetivos de FHC e a ironia de Merval



Aécio respondeu que era “melhor não comentar” a carta, pois “a  melhor forma de eu contribuir com esse projeto é evitar comentar ações que mais desagregam do que agregam”. Arrematou ainda que “estamos discutindo o governo a partir de 2007, e não a partir de governos passados”. A troca de bicadas foi interpretada como uma antecipação da disputa dentro do PSDB no pós-outubro.



Na coluna de Merval Pereira, FHC diz que tinha dois objetivos com sua carta: “pôr mais lenha na militância, nesta reta final, e preparar o partido para um revigoramento futuro”. O jornalista acrescenta, com ironia, que “as motivações não precisam obedecer exatamente a essa ordem”.



“As forças do atraso”



Sempre conforme Merval, FHC diz que “considera muito cedo para pensar em 2010”. Agrega que, entre os possíveis presidenciáveis tucanos, Aécio e José Serra, “chegará lá quem melhor acumular forças”.



É quando deixa os lugares-comuns que o presidente mostra os dentes: se não for possível “evitar atritos antes da hora”, diz, “o lulismo-peemedebismo virá com força e o governador de Minas, Aécio Neves, poderá se transformar apenas num 'inocente útil'”.



A expressão “inocente útil” anda um pouco fora de moda. Nos idos da Guerra Fria, há coisa de quatro décadas, era usada pela imprensa pró-EUA para designar pessoas que, sem o saberem, serviam de instrumento aos desígnios do comunismo. Seu emprego faz parte da recaída saudosista do ex-presidente, que clama por “um novo Carlos Lacerda”.



FHC admite um suposto “progressismo” de Aécio, e que este “talvez seja, de fato, o mais capaz de juntar forças”, caso em que “o ajudará”. “Mas adverte que ele tem que tomar cuidado para não se descaracterizar e não virar 'instrumento das forças do atraso', em referência à tentativa de Lula de aproximar Aécio do PMDB, aventando a possibilidade de ele vir a ser o candidato oficial à sua sucessão”.



O preferido de FHC em 2010: Serra



Já o “candidato preferido” de FHC, adianta a campanha, seria José Serra, embora tenha que “se livrar da fama de ser muito paulista”.



Merval diz ainda que o ex-presidente não está está “aborrecido” por não participar da campanha, ou “despeitado pelos resultados do governo Lula”. Mas, “na qualidade de presidente de honra do PSDB, insiste em que foi errado não exigir a demissão de Azeredo da presidência”. Quer dizer: não recua da carta aberta; “explicou a alguns amigos que seus propósitos 'podem ter sido bem ou mal logrados, mas não eram outros'”.



Com O Globo