Hungria: ruas da capital estão contra a vitória da extrema-direita

Viktor Orbán, do partido de direita, nacionalista e populista Fidesz, venceu novamente as eleições na Hungria no dia 8 de abril. Desde então, Budapeste, a capital húngara, continua a ser palco de grandes manifestações contra o governo, que é acusado de controlar a imprensa e de querer neutralizar a sociedade civil

manifestações na Hungria

No sábado (21), milhares de pessoas marcharam pelas margens do Danúbio em frente ao edifício da Assembleia Nacional, na maior ação de protesto desde as eleições. Os manifestantes levavam cartazes onde se lia “Viktor, nos devolva a democracia” ou “queremos liberdade de imprensa”. Nas eleições, o Fidesz obteve maus resultados nos distritos da capital, mas compensou-os com vitórias esmagadoras nas zonas rurais.

Uma das principais preocupações é a existência de cada vez menos órgãos de comunicação que adotam uma linha editorial crítica do governo. Ao longo dos oito anos desde que está no poder, o Fidesz colocou a mídia estatal totalmente alinhada com o Executivo, enquanto os órgãos privados que se mantêm em funcionamento foram quase todos adquiridos por empresários próximos do partido.

Logo após as eleições, o Magyar Nemzet, um histórico jornal diário que existia há 80 anos e que era um dos poucos que divulgava casos de corrupção de personalidades do Fidesz, anunciou o seu encerramento. Vários jornalistas de outros veículos confirmaram a existência de pressões por parte do governo para que se publicassem certas notícias, sobretudo quando relacionavam criminalidade e imigração. O principal argumento da campanha eleitoral do Fidesz foi a “defesa” da Hungria face à “invasão” dos refugiados provenientes de países muçulmanos.

“É o medo que mantém este sistema, e se amanhã as pessoas deixarem de ter medo, este sistema irá cair”, disse durante a manifestação o político Peter Marki-Zay, que ao vencer eleições locais em uma das prinicpais regiões do Fidesz com o apoio de toda a oposição se tornou num símbolo anti-governamental. A falta de coordenação e unidade entre os partidos da oposição é outro dos fatores que tem ajudado o Fidesz a manter a sua posição dominante.

Na semana passada, Budapeste já tinha sido palco de outra manifestação contra o governo, por causa de alegadas irregularidades durante as eleições. A marcha de sábado (21) passou muito perto da Universidade da Europa Central, fundada pelo investidor de origem húngara George Soros, que se tornou no inimigo número um de Orbán. Numa entrevista recente, o primeiro-ministro voltou a acusar Soros e a sua Open Society Foundation de fazerem “ativismo político” contra o governo.

O Parlamento deverá aprovar uma lei batizada de “Parar Soros”, que irá impor obstáculos ao trabalho das organizações não-governamentais que obtêm financiamento estrangeiro e sirvam de apoio às comunidades imigrantes na Hungria.

Os funcionários do ramo húngaro da Open Society – ligada a Soros – foram avisados na semana passada de que a aprovação da lei irá obrigar a uma redução das suas atividades no país e, muito provavelmente, à sua retirada, de acordo com o The Guardian.