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RS: 450 metalúrgicos de Caxias votam sair da CUT rumo a CTB

“Um passo histórico, marcado pela ousadia e disposição de luta”, assim o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul (RS), Assis Melo, definiu a decisão da assembléia do sábado, 1º de dezembro, que aprovou a desfiliação da entidade da CUT e

Cerca de 450 metalúrgicos e metalúrgicas lotaram o auditório do sindicato, em uma das maiores assembléias dos últimos anos. A ampla maioria dos trabalhadores trazia no peito a marca da CTB. A participação do sindicato na fundação na nova central classista e democrática foi, justamente, o primeiro assunto da pauta.


 


Assis fez a defesa da desfiliação da CUT e da adesão a nova central. Para isso, evocou as lutas travadas pelos metalúrgicos de Caxias do Sul no último período, como as mobilizações contra a Emenda 3 e o dissídio. Ele disse tratarem-se de exemplos que demonstraram que a classe trabalhadora têm disposição de luta, para defender seus direitos e por mais conquistas.


 


Assis ainda condenou a passividade da CUT diante da iminência de perda de direitos com a Emenda 3 e a posição dependente da central em relação ao governo, em questões como a Reforma da Previdência e o Fator Previdenciário.


 


“Achamos que a unidade dos trabalhadores no país não passa mais por apenas uma central. Deve ser construída num fórum de centrais, que possa unir o conjunto dos trabalhadores. Neste contexto é necessário uma central classista, autônoma e independente. Vamos apoiar o governo naquelas questões que representem avanços para os trabalhadores, mas faremos pressão para que não ocorram retrocessos e para que nossas propostas sejam atendidas”, afirmou.


 


Princípios classistas


 


A liderança reforçou que se trata de uma decisão que visa construir um espaço voltado para o debate da unidade de todos os trabalhadores do país, em torno de propostas concretas e unitárias, como o projeto de desenvolvimento, com valorização do trabalho e geração de empregos. Assis também pontuou que a luta da nova central é por nenhum direito a menos, só direitos a mais.


 


“A CTB será uma central de princípios classistas. Comprometida com os interesses imediatos e históricos dos trabalhadores. Autônoma e independente, em relação a governos, partidos e ao capital. A CTB será uma grande central, contará com a presença de mais de mil sindicatos de todo o país”, argumenta.


 


Assis ainda destacou que participarão da CTB as principais federações estaduais de trabalhadores na agricultura (Fetag's), configurando uma verdadeira união dos trabalhadores do campo e da cidade, com plataforma comum de lutas.


 


Ao concluir, o dirigente afirmou que a CTB deverá ter caráter plural e democrático, com a defesa da unicidade sindical.


 


Contribuição sindical


 


Outra questão que voltou a ordem do dia na assembléia deste sábado foi a discussão sobre a contribuição sindical no projeto de legalização das centrais que tramita no Congresso Nacional.


 


Assis defende a manutenção da contribuição, como dispositivo que ajuda a garantir a sustentação das entidades e lutas dos trabalhadores. Condenou as posturas que considera equivocadas e oportunistas, de dentro do próprio movimento, e do governo, que defendem o fim do imposto.


 


A questão foi submetida à votação que decidiu pela desfiliação da CUT por ampla maioria, bem como pela participação do sindicato no congresso que criará a CTB. A filiação da entidade na nova central deve ocorrer em nova assembléia, que será realizada nos próximos meses.


 


Fundo de Mobilização: decisão histórica


 


Outra definição de grande repercussão para as lutas futuras da categoria, na avaliação da direção do sindicato, foi a aprovação de criação de um fundo de mobilização que reforçará a entidade para os embates no próximo dissídio e mobilizações da categoria. O fundo também foi aprovado pela maioria dos presentes.


 


A criação do fundo foi debatida junto com a definição dos novos parâmetros da contribuição confederativa para 2008. A proposta foi de reajuste em R$ 1 nesta (atualmente a contribuição confederativa é de R$ 6). O valor adicional será direcionado para o fundo que também terá, como complemento, a livre contribuição dos trabalhadores sócios do sindicato, que poderão optar pelo redirecionamento da restituição dos 60% da contribuição sindical que receberiam da entidade para o montante. Como o sindicato devolve para os sócios estes valores, agora estes poderão optar entre a restituição ou a aplicação no fundo, mediante autorização individual.


 


O fundo terá uma conta própria e será gerido por uma comissão, composta de cinco trabalhadores – o presidente e o vice do Sindicato, um trabalhador aposentado e mais dois metalúrgicos, escolhidos na assembléia.


 


Para Assis, a sustentação da entidade, que tem se mantido em bons patamares nos últimos anos, tem sido fundamental para as conquistas obtidas. Ele salienta, porém, que se apresentam novas demandas e desafios a ser enfrentados, como a prática patronal de pressão permanente sobre os trabalhadores, com ameaças de não-pagamento de dias parados e multas por interditos proibitórios, que visam desmobilizar a categoria.


 


“Não queremos impor nada a ninguém, queremos sim é ampliar a participação solidária e a consciência da categoria, para reforçar a nossa unidade, mobilização e condições para a luta. Com um pouquinho de cada um ficaremos ainda mais fortes”, concluiu.


 


Confederativa


 


Assis destaca a importância da contribuição confederativa, como uma demonstração de solidariedade da classe que tem sido decisiva para manutenção da estrutura da entidade e o reforço da luta dos trabalhadores. A contribuição confederativa também tem feito a alegria de muitos metalúrgicos e metalúrgicas, pois a cada semestre distribui diversos prêmios – entre eles um carro zero quilômetro.


 


Na assembléia também foi apresentada a nova marca do sindicato. Foi elaborada pela agência de propaganda WOW, com inspiração na marca utilizada na vitoriosa campanha salarial deste ano. A idéia foi incorporar na nova identidade visual da entidade o ganho simbólico obtido no dissídio, além de torná-la graficamente mais clara e moderna.


 


Veja abaixo algumas opiniões sobre a construção da CTB.


 


Abrelino Dal Bosco: metalúrgico aposentado, é sócio do sindicato há 40 anos. Trabalhou 28 anos na Agrale (empresa em que se aposentou exercendo a função de mandrilador).


“Escapei do fator previdenciário. Mas os trabalhadores de hoje, estão sujeitos a grandes perdas no seu salário. O fator previdenciário é uma ameaça aos nossos direitos. Tenho grande preocupação com as pessoas que vão se aposentar eles vão ter um salário de fome. Uma das missões da nova central é lutar para derrubar o fator previdenciário que reduz a aposentadoria do povo.”


 


Jusmari Borges dos Santos: Trabalhadora da empresa Invensys há 14 anos. Cipeira há 10 anos.


“A CTB é a possibilidade dos trabalhadores das trabalhadoras terem um órgão que vai defender seus interesses. A CTB nasce pela vontade dos trabalhadores.”


 


Guiomar Vidor: Presidente da Fecosul (Federação dos Comerciários do RS) e membro da coordenação pró-CTB no RS.


“A assembléia que definiu pela participação na fundação da nova central é um marco na história dos metalúrgicos de Caxias do Sul.  É uma decisão acertada e coerente como a luta que essa categoria tem travado ao longo dos anos. Os metalúrgicos de Caxias são um exemplo de luta para o Brasil. A saída da CUT mostra que os trabalhadores estão enxergando o momento político que estamos vivendo. A nova central nasce para ampliar ainda mais os nossos direitos. Os metalúrgicos de Caxias não estão sozinhos, eles estão em sintonia com o desejo das demais entidades de classe da nossa cidade”.


 


Miltom Viário: Presidente da Federação dos Metalúrgicos do RS


“A nossa expectativa é que esta decisão ajude na luta da classe trabalhadora. Temos uma tarefa grande pela frente, que é construir a unidade”


 


De Porto Alegre (RS),
Por Clomar Porto