José Reinaldo fala em seminário internacional em Salvador

O Secretário de Relações Internacionais do PCdoB, José Reinaldo Carvalho, foi um dos palestrantes do Seminário Internacional “Os desafios da esquerda latino-americana e caribenha”, realizado pelo PT, nesta sexta (09.02), no Bahia Othon Palace, em Salvador

O seminário é parte de uma série de atividades realizada pelo Partido dos Trabalhadores para festejar seus 27 anos de fundação. Também como parte das comemorações, o PT realiza, neste período, na capital baiana a reunião de sua Direção Nacional, o ato de lançamento de seu 3º Congresso Nacional, previsto para Julho, um jantar para 500 convidados com o presidente Lula e uma festa para a militância e convidados.


 


O seminário foi aberto na manhã desta sexta com palestra do vice-presidente nacional do PT, Marco Aurélio Garcia, na qual apresentou a visão do PT sobre a conjuntura política da América Latina, destacando que as vitórias eleitorais de forças de esquerda têm contribuído para reduzir a vulnerabilidade do continente frente ao neoliberalismo e que estas vitórias tem se dado no marco da democracia.


 


Em seguida, foi a vez de Niko Schvartz, da Frente Ampla do Uruguai; de Javier González Garza, do PRD do México e de Nils Castro do PRD do Panamá, falarem com debatedores. Todos foram unânimes em se posicionar pela necessidade de uma maior integração dos processos políticos em curso no continente.


 


Na parte da tarde, os trabalhos foram retomados com a palestra do ex-ministro Roberto Amaral, do PSB. No seu diagnóstico sobre o momento político na América do sul, ele deu ênfase ao que chamou “emergência do povo”, considerando que as vitórias eleitorais decorrem de uma onda de movimentos nacionais populares, no qual os setores sociais desorganizados assumiram o protagonismo.


 


Por sua vez, o Secretário de Relações Internacionais do PCdoB, José Reinaldo Carvalho, apresentou o balanço de conjuntura internacional dos comunistas, destacando que no mundo atual há duas tendências principais:


 


A primeira, caracterizada por uma ofensiva abrangente do imperialismo norte americano, baseada na concepção da sua atual política de segurança de “guerra infinita contra o terrorismo através de sucessivas guerras preventivas”. Alertou que, apesar do foco atual desta política externa estar no Oriente Médio, “os EUA não perderam de vista a América Latina e pretendem manter sua dominação neocolonial no continente”.


 


Na opinião do dirigente do PCdoB, a segunda tendência “é uma contra-tendência à ofensiva norte estadunidense”, caracterizada pela crise estrutural da economia norte americana, por sucessivas derrotas políticas e militares no Afeganistão e no Iraque, pelo crescimento das lutas sociais e pela paz em todo o mundo e principalmente nos países capitalistas centrais, inclusive no seio dos EUA.


 


Destacou ainda, “É neste quadro que se destaca o novo cenário político da América Latina, com importantes vitórias de forças progressistas e mesmo revolucionarias”. Assim, entende que deste embate se descortina “um momento favorável para uma prolongada acumulação de forças por parte das forças progressistas e democráticas em todo o mundo”.


 


Em seguida, tivemos os pronunciamentos de Jorge Ferreira, do PC Cubano; da senadora boliviana do MAS, Leonildes Zurita e de Ernesto Zelailandia, da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional de El Salvador.


 


Participaram do seminário delegações de partidos de esquerda de diversos países, entre eles Angola, Argentina, Bolívia, China, Cuba, El Salvador, Espanha, França, Itália, México, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai.


 


A seguir, entrevista exclusiva de Jose Reinaldo Carvalho para o Portal Vermelho:
Como você vê o momento político por que passa as forças de esquerda na América Latina e a importância de seminários como este?


 


Eu vejo que a esquerda da América Latina está vivendo um momento novo, porque estamos vivendo um novo quadro político caracterizado por sucessivas vitórias eleitorais ou de forças democráticas, ou de forças de centro esquerda, ou mesmo de forças revolucionarias como é o caso do Hugo Chavez, do Evo Morales e recentemente do retorno ao poder da Frente Sandinista na Nicarágua.


 


Então, primeiramente, a importância de um debate sobre a América Latina está no fato de que ela vive um momento novo de desenvolvimento das lutas democráticas e de conquistas de vitórias. Isto é importante para a acumulação de forças no sentido antiimperialista. Eu acho que um seminário como este deveria contribuir para fortalecer convicções anti-imperialista na esquerda brasileira. Convicções estas que hoje estão um pouco esmaecidas. Então quando você reúne um leque de forças da esquerda latino americana você pode fortalecer este tipo de convicção. Eu penso que a esquerda brasileira precisa retomar a questão da luta antiimperialista e se o PT se incorpora a esta luta isto é muito positivo.


 


Este segundo mandato do governo Lula se inicia com um novo debate. Não é mais desenvolvimentista versus ortodoxos. Há uma discussão agora sobre o crescimento. Em que patamar estamos neste segundo governo Lula?


 


Olha, é um começo. É difícil você adiantar o que vai ser. As declarações de intenções e as afirmações eleitorais foram mais claras do que na campanha anterior. Foram mais claras no sentido de firmar o caminho pró desenvolvimento, pró resgate dos direitos sociais do povo. Mas isto ainda precisa ser testado. Eu vejo com preocupação o fato que tivemos um mau começo do ponto de vista político na medida em que houve uma divisão profunda nas relações dentro da base do governo. A possibilidade do governo Lula se orientar num sentido mais progressista residia na consolidação de um núcleo de esquerda dentro da ampla frente, dentro da ampla coalizão. Núcleo de esquerda este formado pelo PT, PSB e PCdoB. Aparentemente renunciou-se a esta idéia de um núcleo de esquerda na medida em que o PT, na demonstração que deu na eleição da presidência da Câmara, inclinou-se para uma aliança preferencial com o PMDB, e um setor de direita do PMDB. Então ao invés de ser um governo baseado numa frente ampla com um núcleo de esquerda, é um governo baseado numa frente ampla, mas com um núcleo de centro ou de centro direita. Então isto é preocupante. Mas nós achamos que é preciso insistir na luta entre dois caminhos. Eu penso que o governo Lula, no segundo mandato, vai continuar comportando uma luta entre dois caminhos. De um lado, o caminho dos desenvolvimentistas, dos antiimperialistas, dos defensores da soberania nacional, dos que querem aprofundar a democracia, dos que querem conquistar direitos mais amplos para o povo e do outro lado aquelas forças que ainda querem manter o Brasil nesta estagnação, ou mesmo aprisionado no sistema de dominação do capital financeiro internacional.


 


Quais as principais lições a se tirar e as consequências deste episódio da eleição da mesa da Câmara?


 


A principal lição que tiro é a seguinte: De que as forças democráticas e progressistas para avançar precisam cultivar mais o sentimento da unidade do que o sentimento da auto preservação de uma só força política. Esta unidade obviamente deve ser baseada em princípios, em programas, em metas, em objetivos concretos a alcançar. Eu penso que isto não prevaleceu. O que prevaleceu foi uma visão exclusivista, hegemônica e tenho a impressão de que se isto continuar neste segundo mandato, ele vai ser mais difícil do que o primeiro.


 


Durante este processo formou-se um bloco com PCdoB, PSB e PDT, envolvendo 70 parlamentares. Qual o significado deste bloco? Ele pode se constituir no novo núcleo de esquerda para a política brasileira?


 


Isto também está para ser verificado. Porque este bloco começou agora, não está totalmente definido. Além de tudo, ele é muito heterogêneo. As forças ali presentes são muito heterogêneas. Então eu acho que seria um pouco pretensioso dizer que este bloco já seja o núcleo de esquerda Acho que nós ainda deveríamos fazer esforços para recompor a base do governo numa coalizão que reunisse todas as forças de esquerda Isto ainda me parece que é o melhor caminho, não só para a governabilidade do Lula, mas para agente afiançar um projeto de mudança. Mas eu vejo com otimismo a formação deste bloco porque ele pode ser um fator de pressão importante. Ele pode ser um fator de aglutinação de forças no sentido das idéias desenvolvimentistas, em defesa da soberania nacional e do aprofundamento da democracia, mas ainda não deve se invocar, dizendo somos nós o núcleo da esquerda. Isto também seria uma atitude excludente. Eu acho que ele pode dar a sua contribuição na medida em que agregue forças.


 


O PCdoB está preparando a 1ª Conferência sobre a Questão da Mulher. Qual a importância deste evento?


 


Em primeiro lugar ele é importante por ser inédito na vida partidária uma Conferência desta natureza, segundo porque nós estamos vivendo uma época de grandes transformações sociais, culturais, políticas e dentro destas transformações uma das mais significativas é a emergência da mulher exercendo o seu papel em todas as áreas da atividade humana, com protagonismo, com destaque, com capacidade e competência. Acho que isto precisa se refletir necessariamente nas fileiras do partido. Ainda é muito rebaixado o papel da mulher nas fileiras partidária, muito embora seja numeroso o contingente de mulheres comunistas talentosas, com capacidade de direção, com capacidade política e com capacidade de organização. Por isto eu faço votos para que ela possibilite um salto na participação das mulheres nas instâncias de direção do Partido.


Emanoel Souza
Mtb 1868 – DRT/Ba