Belarus: Uma farsa dos nossos tempos

Em artigo publicado no jornal Avante!, do PC Português, o articulista Luís Carapinha expõe a política de ingerência dos Estados Unidos e da União Européia na República de Belarus, em relação às últimas eleições presidenciais do país, vencidas por Alexande

por Luís Carapinha

Os resultados das eleições de 19 de março na Belarus deixaram os EUA e a UE no limiar de um acesso de histeria. A avaliação, pertencente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros belarusso, não é exagerada. Tal como já ocorrera nas eleições de 2001, a tentativa de desestabilização golpista na Belarus, decretada pelos EUA de "última ditadura da Europa", saldou-se num fiasco que importa assinalar.

Na capital da antiga república soviética, a escassez de participantes na tramóia pós-eleitoral pré-programada foi por demais evidente, apesar do alarido midiático que chegou até nós pela mão da comunicação social dominante, sequiosa de novas “revoluções coloridas” a Leste e, em particular, na Belarus. Revelaram-se em vão os esforços de diligentes personagens do calibre de Javier Solana, o homem a quem, na qualidade de secretário-geral da Otan, o Pacto Militar do Atlântico Norte, coube há sete anos dar luz verde ao início da criminosa agressão contra a Iugoslávia e que é hoje o rosto da Política Externa e de Segurança Comum da UE. Segundo a agência RIA-Novosti (26/3/06), que cita a televisão belarussa, Solana forneceu diretamente indicações ao candidato opositor derrotado, Milinkevitch, sobre a organização de ações de protesto. Fato ilustrativo do gravíssimo rol de pressões e ingerências do imperialismo em todo o processo. E também do servilismo de uma "oposição democrática" paparicada pelo grande capital e dependente do apoio externo.

Sobre um país soberano e independente, que se opõe ao alargamento da NATO e não manifesta desejo de aderir à UE, abate-se a torrente “democratizante” do imperialismo, que não ainda a “democratizadora” chuva de mísseis de que estas coisas se vão tornando precursoras na atual desordem mundial. Inquisitoriais, EUA e a UE não reconhecem os resultados eleitorais. Para a NATO, que também tem opinião na matéria, as eleições não foram democráticas. O parecer da OSCE, invariável, não destoa. O presidente do Conselho da Europa, de onde a Belarus foi "democraticamente" suspensa em 1997, multiplica-se em sentenças sobre a ilegitimidade do poder belarusso. De Washington e Bruxelas decretam-se sanções contra Minsk e ameaça-se com a criminalização da direção belarussa. Dos contrafortes caucasianos ressoa o chamamento "democrático" de Saakashvili, prometendo a liberdade para a Belarus. Não fosse o assunto sério, seria caso para rir. Não importa o estado de ruína social em que se encontra a Geórgia, nem as crescentes tentativas do seu presidente, através das bandeiras do fanatismo nacionalista e mercê do apoio e assistência diretas dos EUA, de impor um regime militarista e repressivo. Não foi essa a ordem saída da aclamada “revolução das rosas” de 2003?

A campanha contra a Belarus finge ignorar a realidade do país. E esta mostra que os direitos sociais da sua população são superiores à dos países vizinhos, o que se reflete em níveis de pobreza e desigualdades anormalmente baixos para os tempos que correm, e ainda mais na região em causa. Ora, tal "proeza" foi conseguida precisamente contra o diktat das receitas neoliberais e os desígnios da dominação imperialista. O seu exemplo é na verdade inquietador para a ação, que une os EUA e a UE, apesar de tudo o que os divide, de consagrar mundialmente uma ordem exploradora e espoliadora. Um pingo de honestidade exigiria, no mínimo, o reconhecimento na experiência e curso belarussos dos esforços de reposição e defesa de direitos humanos básicos – ao trabalho, habitação, saúde, educação e cultura – que, precisamente, a ofensiva imperialista coloca hoje universalmente em causa. É bom não esquecer – como o confirmam vários relatórios da ONU – que a degradação social e a quebra da esperança de vida resultantes do fim da URSS e da restauração capitalista implicaram o desaparecimento de milhões de seres humanos. Trata-se de um autêntico genocídio a conta-gotas, ainda não terminado.

Mas isso, como se sabe, não faz parte das preocupações humanitárias da cada vez mais estafada "democracia" de classe do capital e da sua corte midiática.

O original encontra-se em http://www.avante.pt/noticia.asp?id=13598&area=24

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/.