Belarus: Uma farsa dos nossos tempos
Em artigo publicado no jornal Avante!, do PC Português, o articulista Luís Carapinha expõe a política de ingerência dos Estados Unidos e da União Européia na República de Belarus, em relação às últimas eleições presidenciais do país, vencidas por Alexande
Publicado 04/04/2006 09:26
por Luís Carapinha
Os resultados das eleições de 19 de março na Belarus deixaram os EUA e a UE no limiar de um acesso de histeria. A avaliação, pertencente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros belarusso, não é exagerada. Tal como já ocorrera nas eleições de 2001, a tentativa de desestabilização golpista na Belarus, decretada pelos EUA de "última ditadura da Europa", saldou-se num fiasco que importa assinalar.
Na capital da antiga república soviética, a escassez de participantes na tramóia pós-eleitoral pré-programada foi por demais evidente, apesar do alarido midiático que chegou até nós pela mão da comunicação social dominante, sequiosa de novas “revoluções coloridas” a Leste e, em particular, na Belarus. Revelaram-se em vão os esforços de diligentes personagens do calibre de Javier Solana, o homem a quem, na qualidade de secretário-geral da Otan, o Pacto Militar do Atlântico Norte, coube há sete anos dar luz verde ao início da criminosa agressão contra a Iugoslávia e que é hoje o rosto da Política Externa e de Segurança Comum da UE. Segundo a agência RIA-Novosti (26/3/06), que cita a televisão belarussa, Solana forneceu diretamente indicações ao candidato opositor derrotado, Milinkevitch, sobre a organização de ações de protesto. Fato ilustrativo do gravíssimo rol de pressões e ingerências do imperialismo em todo o processo. E também do servilismo de uma "oposição democrática" paparicada pelo grande capital e dependente do apoio externo.
Sobre um país soberano e independente, que se opõe ao alargamento da NATO e não manifesta desejo de aderir à UE, abate-se a torrente “democratizante” do imperialismo, que não ainda a “democratizadora” chuva de mísseis de que estas coisas se vão tornando precursoras na atual desordem mundial. Inquisitoriais, EUA e a UE não reconhecem os resultados eleitorais. Para a NATO, que também tem opinião na matéria, as eleições não foram democráticas. O parecer da OSCE, invariável, não destoa. O presidente do Conselho da Europa, de onde a Belarus foi "democraticamente" suspensa em 1997, multiplica-se em sentenças sobre a ilegitimidade do poder belarusso. De Washington e Bruxelas decretam-se sanções contra Minsk e ameaça-se com a criminalização da direção belarussa. Dos contrafortes caucasianos ressoa o chamamento "democrático" de Saakashvili, prometendo a liberdade para a Belarus. Não fosse o assunto sério, seria caso para rir. Não importa o estado de ruína social em que se encontra a Geórgia, nem as crescentes tentativas do seu presidente, através das bandeiras do fanatismo nacionalista e mercê do apoio e assistência diretas dos EUA, de impor um regime militarista e repressivo. Não foi essa a ordem saída da aclamada “revolução das rosas” de 2003?
A campanha contra a Belarus finge ignorar a realidade do país. E esta mostra que os direitos sociais da sua população são superiores à dos países vizinhos, o que se reflete em níveis de pobreza e desigualdades anormalmente baixos para os tempos que correm, e ainda mais na região em causa. Ora, tal "proeza" foi conseguida precisamente contra o diktat das receitas neoliberais e os desígnios da dominação imperialista. O seu exemplo é na verdade inquietador para a ação, que une os EUA e a UE, apesar de tudo o que os divide, de consagrar mundialmente uma ordem exploradora e espoliadora. Um pingo de honestidade exigiria, no mínimo, o reconhecimento na experiência e curso belarussos dos esforços de reposição e defesa de direitos humanos básicos – ao trabalho, habitação, saúde, educação e cultura – que, precisamente, a ofensiva imperialista coloca hoje universalmente em causa. É bom não esquecer – como o confirmam vários relatórios da ONU – que a degradação social e a quebra da esperança de vida resultantes do fim da URSS e da restauração capitalista implicaram o desaparecimento de milhões de seres humanos. Trata-se de um autêntico genocídio a conta-gotas, ainda não terminado.
Mas isso, como se sabe, não faz parte das preocupações humanitárias da cada vez mais estafada "democracia" de classe do capital e da sua corte midiática.
O original encontra-se em http://www.avante.pt/noticia.asp?id=13598&area=24
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/.