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Carta Capital relata turbulências na candidatura Alckmin

A revista Carta Capital desta semana traz como reportagem de capa uma reveladora análise da conjuntura política que destaca as dificuldades que o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, enfrenta para sustentar sua candidatura em meio a ataques vindos n&a

A revista Carta Capital desta semana traz como reportagem da capa uma reveladora análise da conjuntura política que destaca as dificuldades que o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, enfrenta para sustentar sua candidatura em meio a ataques vindos não só dos adversários petistas, mas principalmente do próprio ninho tucano, mais especificamente dos serristas que acalentam o desejo de trocar Alckmin por Serra ainda em 2006. “Para quem parecia concorrer, além da Presidência da República, ao posto de santo, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin entrou cedo no caminho que leva ao purgatório de uma campanha política”, diz a revista.

Segundo a revista, nunca, nos seis anos à frente do Estado de São Paulo, o tucano foi tão fustigado. “No intervalo de 15 dias, falou-se das cerca de 40 peças de roupas (ou 400?) doadas por um estilista à ex-primeira-dama Lu Alckmin, dos anúncios oficiais publicados em uma revista de propriedade do acupunturista do presidenciável e da compra em duplicidade de 500 fornos por parte da mesma Nossa Caixa, doados a programas sociais comandados por dona Lu. Soube-se até que o então prefeito de Pindamonhangaba demonstrava certa simpatia pela ditadura, conforme atesta correspondência enviada no início dos anos 80 ao general João Baptista Figueiredo, o último presidente do ciclo militar”, relata o semanário.

Carta Capital destaca também o suspeito protagonismo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que assumiu a “tarefa” de oferecer argumentos jurídicos para um provável pedido de impeachment do presidente Lula e escalou, para tal, um advogado com estreitos laços com o tucanato.

Confira abaixo os principais trechos da reportagem, assinada por Leandro Fortes e Sergio Lírio, com colaboração de Ana Luísa Vieira. Os intertítulos são do Vermelho.

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Destaque na mídia

Desde que o jornal Folha de S. Paulo divulgou, no domingo, 26 de março, que a Nossa Caixa, por ordem do Palácio dos Bandeirantes, brindou veículos de comunicação de políticos aliados com publicidade oficial, ex-governador tem gastado um bom tempo de sua recém-iniciada campanha a dar explicações, ainda que atravessadas e incompletas.

Em termos de espaço na mídia, as “denúncias” contra Alckmin só tiveram menos destaque  do que os desdobramentos da quebra ilegal do sigilo do caseiro Francenildo Costa (…)

Ameaça constante

A forma como o ex-governador impôs sua candidatura, à revelia do desejo dos caciques da legenda, deixou feridas abertas que dificilmente serão fechadas antes das eleições de outubro. Muitas das denúncias que agora vêm a público circulavam entre jornalistas semanas antes do anúncio do nome do PSDB à Presidência. A fonte de nenhuma delas era, então, atribuída a petistas. Entre fevereiro e março, os alckmistas viveram a expectativa de ser alvejados a qualquer momento, o que abriria caminho para Serra ser ungido pela cúpula tucana.

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A equação para os “serristas” parece simples: se Alckmin não decolar nas pesquisas até a convenção do PSDB, em junho, nada impedirá que o ex-prefeito volte a ser cogitado. Pesará a seu favor o fato de ele ser um nome capaz de derrotar Lula.

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O ex-prefeito confidenciou a interlocutores ter desistido do confronto com Alckmin por não confiar na seção paulista do PSDB. Disse que, na campanha de 2002, o partido, principalmente a ala de São Paulo, agiu como florentinos a espetar suas costas. No mês passado, um titubeante Serra foi atropelado por um convicto Alckmin.

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Além de tentar adiar o velho desejo até 2010, os aliados de Serra sentiriam um prazer especial em estancar o processo de beatifiação de Alckmin. Não é de hoje que os serristas acumulam mágoas em relação aos alckmistas.

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“É conveniente nos culpar pelo aparecimento das denúncias contra o Alckmin. Mas o episódio demonstra que o fogo amigo tucano queima mais que o nosso”, afirma o deputado estadual Ítalo Cardoso, do PT paulista.

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Com base em documentos em poder do Ministério Público Estadual, a oposição (a Alckmin) que demonstrar que, à semelhança do que a Caixa Econômica Federal fez ao caseiro Francenildo Costa, houve violação do sigilo bancário e de correspondência de funcionários, fornecedores e empresas investigados na sindicância da instituição financeira estadual (Nossa Caixa).

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Uma CPI estadual a constranger Alckmin e o avanço das investigações do Congresso Nacional sobre Lula, ou o aparecimento de “movimentos civis” a sugerir o impeachment do presidente parecem um cenário ideal para os que acalentam o sonho de ver Serra na Presidência da República em janeiro do ano que vem. Não que os fatos estejam interligados por uma força comum, mas as coincidências não devem ser desprezadas tão facilmente.

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OAB participa do jogo sujo

Cinco advogados designados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) estudam as “condições técnicas” para pedir o impedimento de Lula por crime de responsabilidade com base nos relatórios finais das CPIs dos Correios e dos Bingos. A entidade, que apoiou o golpe de 1964, parece disposta a servir novamente de instrumento para uma ação, até o momento, sem base factual.

O texto do relatório preliminar da Ordem é de autoria do advogado Sérgio Ferraz. E, aqui, torna-se interessante saber de duas coisas sobre o relator. Ferraz foi sócio, em um escritório de Advocacia, em São Paulo, de Antônio Geraldo Cardoso, irmão já falecido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. (…)

O segundo dado importante: Ferraz era do Conselho Federal da OAB, em 1992, quando a entidade encampou o pedido de impeachment de Fernando Collor de Mello. Naquela oportunidade, ele votou contra o impedimento de Collor. À época, o PSDB estudava a possibilidade de ingressar no governo. O maior entusiasta da idéia era Fernando Henrique Cardoso. Quem impediu o tucanato de embarcar na aventura foi o falecido Márcio Covas.

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No Palácio do Planalto, é dado como certo o bico tucano nas novas e reservadas atividades da OAB.

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O relatório apresentado na OAB não tem fundamento e, se for levado adiante, será um desastre para a entidade”, afirma o ministro Tarso Genro, de Relações Institucionais.

As armas do governo e da oposição
Sem esquecer da própria capacidade de criar crises do nada, o Palácio do Planalto avalia que a recuperação eleitoral de Lula, no início do ano, mesmo depois de meses de bombardeio por causa da crise do mensalão, foi muito incômoda para a oposição. Em recente avaliação encaminhada ao presidente Lula, foi colocada a existência de uma “enorme frustração” dos formadores de opinião, dentro da imprensa, impressionados com o fato de parcela significativa da população não ter se alinhado ao pensamento do que tem sido publicado a respeito do governo.

Os analistas do Planalto acreditam que isso é, em parte, resultado da subestimação da capacidade crítica da população. Mas, também, por causa da suposição de que há uma massa de iletrados no País pronta para ser facilmente manipulada pelos meios de comunicação. Seria, portanto, uma percepção equivocada do que é opinião pública, como ela age e como entende o mundo à sua volta.

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O ministro Tarso Genro tem sido um crítico do poder dos meios de comunicação durante a evolução da crise. “Na Câmara, os deputados são enxovalhados quando não satisfazem a sanha oposicionista da mídia”, reclama. “Querem ratificar os julgamentos antecipados pelos jornais”.

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Segundo Tarso Genro, o acirramento político no Congresso não tem sido bom para ninguém, mas o ministro defende a estratégia de se esclarecer para o público a verdadeira qualificação dos acusadores do governo, tarefa a ser tocada pelo PT e pelos partidos aliados. “O governo não deve se meter com isso, para não ser acusado no Congresso Nacional de desqualificar os partidos políticos”, explica. “O papel do governo não é esse, é o de manter o diálogo com todas as legendas”, diz.

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O governo tem em mente um contra-ataque de propaganda desde que a agenda eleitoral foi antecipada, por causa da CPMI dos Correios, em meados de 2005. Faltava apenas uma reação articulada, pensada agora dentro e fora do governo, mas a ser operacionalizada pelo PT, e, como prega o ministro de Relações Institucionais, pelos partidos da base aliada.

A estratégia vai seguir o raciocínio de que, por menor que seja a memória do eleitor, ele sempre se lembra quem são as figuras que hoje aparecem como acusadores do governo e vestais da ética e da moral. Entre assessores de Lula, o nome do deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da minoria no Congresso, é sempre citado como exemplo. Aleluia não foi cassado na CPI do Orçamento, em 1993, por conta do estranho sumiço dos documentos relativos à sua movimentação bancária. Na Bahia, é acusado de manter relações incestuosas com os cofres públicos graças a contratos com uma empresa de informática da qual a mulher é sócia. Ainda assim, enche a boca para acusar o governo de corrupção.

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Entre os estrategistas da reação petista, a qualificação dos acusadores estará no centro das preocupações, uma vez consolidada o que eles acreditam ter sido a primeira fase de retomada de credibilidade junto à população: a anulação da pecha, colocada pela oposição, de que o governo é inoperante, inexistente e irrecuperável. A idéia agora é responder às acusações do PFL e do PSDB de forma organizada.

Lembrar, por exemplo, que Osmar Serraglio não seguiu preceito ético algum, mas interesses políticos do Paraná, ao retirar o PMDB do relatório da CPMI dos Correios.

O PT pretende fazer crer, ainda, que a luta política dos últimos tempos não atrapalhou a governabilidade. Para tal, o governo tem um rol de realizações a ser utilizado no contra-ataque de propaganda durante o período eleitoral: o pacote da construção civil, as farmácias populares, auto-suficiência em petróleo, o bolsa-família, a agricultura familiar, a inflação baixa e o crédito consignado, um dos fatores que têm impulsionado o crescimento econômico.

Já a oposição a Lula espera pelos desdobramentos das denúncias contra o candidato tucano. As acusações contra Alckmin podem limitar os discursos de campanha centrados na corrupção. O governador que iniciou a campanha prometendo um “banho de ética”, vê a lama respingar no seu entorno. Lama trazida principalmente por adversários dentro do PSDB que não desistiram de trocar Alckmin por Serra ainda em 2006.