Estadão tenta confundir leitor com dados da pesquisa CNT/Sensus

Matéria induz leitor a acreditar que a novidade da pesquisa é o aumento da percepção de que a saúde, a pobreza e a violência pioraram no governo Lula. Indicadores mostram que não houve altera

O noticiário do jornal O Estado de S. Paulo desta quarta-feira (12) traz um típico exemplo de como procede a mídia para influenciar a opinião pública. Embora não assuma publicamente, a orientação editorial do veículo informativo paulista demonstra clara preferência pelo candidato tucano Geraldo Alckmin. Para convencer seus leitores de que essa é a melhor escolha nas eleições deste ano, a edição no noticiário referente à pesquisa CNT/Sensus, divulgada nesta terça (11), apresenta alguns exageros de interpretação e omite informações relevantes que desarmam a mensagem que o jornal quer passar adiante.

O título da notícia é: “Para eleitor, pobreza, violência e saúde pioraram”. A explicação que ajuda a compor o título: “Indicadores influenciaram aumento da avaliação negativa, que passou de 21,4% para 24,1%”. Vamos deixar de lado o fato de a chamada para a reportagem ter ignorado a informação relevante de que a avaliação positiva do governo permaneceu estável, mesmo após a crise da quebra do sigilo bancário do caseiro, que provocou a queda do ministro da Fazenda.

Em nenhum lugar do texto está a explicação de que a comparação que o entrevistado da pesquisa faz refere-se aos últimos seis meses. As perguntas feitas são: nos últimos seis meses, a saúde, a educação, a pobreza e a violência melhoraram, ficaram iguais ou pioraram. Portanto, a comparação é de um período curto e específico deste governo. Do jeito que foi publicado, parece uma comparação com o governo anterior.

Em segundo lugar, não há registro no texto dos índices da pesquisa anterior. Parece que o eleitor tem a percepção de que as coisas estão piorando. Isso não é verdade. Em fevereiro, 39,9% dos eleitores consideravam que a Saúde piorou nos últimos seis meses. Outros 58,9% disseram que melhorou (25,8%) ou ficou igual (32,5%). Na pesquisa deste mês, 42,5% disseram que piorou e 56,1% que melhorou (24,3%) ou ficou igual (31,8%). Está dentro da margem de erro de erro de três pontos porcentuais para mais ou para menos. Não mudou nada. Portanto, não deveria ser notícia. Quanto mais de destaque.

O mesmo procedimento ocorreu nos outros indicadores levantados. Em fevereiro, 57,1% dos eleitores tinham a percepção de que a pobreza piorou nos últimos seis meses. Outros 41,5% consideraram que melhorou (14,1%) ou ficou igual (27,4%). Em abril, a percepção de que a pobreza piorou caiu para 55,8%, enquanto a de que melhorou (15,9%) ou ficou igual (26,4%) subiu para (42,3%). Ou seja, está estabilizada dentro da margem de erro.

No caso da violência, ocorre a mesma coisa. Em fevereiro, 78,8% tinham a percepção de que piorou nos últimos seis meses e 20,4% de que melhorou (6,9%) ou que ficou igual (13,5%). Em abril, 79,7% acham que piorou e 19,5% que melhorou (5,5%) ou ficou igual (14%).

Ironicamente, o único caso em que a variação para pior ficou fora da margem de erro foi considerado pelo jornal “uma luz verde” acesa para o presidente Lula. Em fevereiro, 26% dos eleitores acreditavam que a educação tinha piorado nos últimos seis meses, enquanto 71,9% tinham a percepção de que melhorou (37,7%) ou ficou igual (34,2%). Em abril, sobe para 29,5% a sensação de que a educação piorou e caiu para 68,4% a de que melhorou (39,2%) ou ficou igual (29,2%) – fora da margem de três pontos.

Portanto, é falso afirmar que “as luzes vermelhas certamente influenciaram um aumento da avaliação negativa do governo, de 21,4%, em fevereiro, para 24,1%, agora”, como faz o jornal. O mais correto seria avaliar que a estabilidade dos índices reflete a estabilidade da avaliação positiva do governo de 37,7%, conforme está mencionado no terceiro parágrafo. Além da estabilidade da aprovação e da desaprovação (53,6% agora e 53,3% em fevereiro e 37,6% agora e 38% em fevereiro).

Concluindo: o jornal quer induzir o leitor a acreditar que a novidade da pesquisa é o aumento da percepção de que a saúde, a pobreza e a violência pioraram no governo Lula. Mas a análise isenta dos indicadores mostra que não houve alteração na avaliação do eleitor sobre os temas da área social propostos pela pesquisa CNT/Sensus.

Fonte: Agência Carta Maior